tag:blogger.com,1999:blog-21135922115564640952024-03-05T14:25:20.722-03:00rendering freedomUnknownnoreply@blogger.comBlogger184125tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-26780152659912513392014-08-25T19:50:00.000-03:002014-08-27T20:34:58.430-03:00Destruição Criativa, Caos Planejado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://caosplanejado.com/"></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyvrPEg5kv7yvH-W_I2GgTXd7smk1ZSezdmc4WoG6MebRF5s-7tjgdATBX0mGZI3Xw26xA04RDWnNqXL6cLj6f61CH26YJwTfsl7NIp2-5g7b_zgT6Bm1FA_h1QTQuVZ6hoiNs4FcFFdhm/s1600/caos+planejado.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyvrPEg5kv7yvH-W_I2GgTXd7smk1ZSezdmc4WoG6MebRF5s-7tjgdATBX0mGZI3Xw26xA04RDWnNqXL6cLj6f61CH26YJwTfsl7NIp2-5g7b_zgT6Bm1FA_h1QTQuVZ6hoiNs4FcFFdhm/s1600/caos+planejado.JPG" height="612" width="640" /></a></div>
<br />
Quatro anos atrás comecei um blog sobre arquitetura e urbanismo com intuito de esclarecer dúvidas: pensamentos que, sendo escritos, podiam ser organizados, além de colocados à prova da humanidade ao serem publicados na internet. O ‘Rendering Freedom’ aprofundava temas que não eram abordados com a devida importância nem no ambiente acadêmico nem no trabalho (ou nenhum outro lugar, pra falar a verdade), mas que tinham grande impacto no futuro da cidade.<br />
<br />
Com tempo percebi que eu não estava sozinho: o cidadão brasileiro – nem mesmo o arquiteto urbanista - não tem um caminho acessível para adquirir informação sobre como funciona o ambiente urbano, que soluções são viáveis e que políticas são as mais eficazes.<br />
<br />
As atuais referências em língua portuguesa são superficiais demais, técnicas demais ou ideológicas demais: a fonte do meu aprendizado foi, em grande parte, uma vasta blogosfera internacional da qual o Brasil não faz parte. <br />
<br />
Faltava um lugar onde um qualquer um – seja leigo, entusiasta ou urbanista – pudesse entrar e facilmente encontrar referências acessíveis mas sólidas pra qualquer assunto urbano. É hora de acabar com os ‘achismos’ ou as ‘tendências’ urbanas (às vezes ultrapassadas há mais de um século) que norteiam o pensamento do cidadão brasileiro.<br />
<br />
Isso me levou a uma ‘destruição criativa’: terminar o blog que me inspirou a aprender sobre a cidade pra continuar escrevendo em uma nova plataforma, totalmente redesenhada e, principalmente, junto com os melhores colaboradores que eu poderia encontrar.<br />
<br />
Assim, lanço aqui o novo ‘<a href="http://caosplanejado.com/">Caos Planejado</a>’, um site composto por arquitetos, urbanistas, economistas, estudantes, empreendedores sociais, empreendedores imobiliários e, ainda, um engenheiro de transporte. São pessoas de competências totalmente diferentes mas totalmente complementares e indispensáveis para nossa compreensão do ambiente urbano.<br />
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Nossa proposta é ter textos acessíveis mas tecnicamente embasados, críticos mas ideologicamente isentos. Nosso interesse é a cidade: se for o teu também, te convido a ler o <a href="http://caosplanejado.com/">Caos Planejado</a>.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-1055596203070650352014-07-07T13:51:00.000-03:002014-07-07T13:51:26.967-03:00A cota não tão solidária do Plano Diretor de São Paulo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlwMTJEqLhbVw8UfZTf_bH9DtkXTP0OuUUSPQT19FvwXAqwDRmqw27bYAZsePjSPv6Xl17efyDARdGq3lYnoN8aiqQlX_sQ-a-LU0V3OuaGzFK1hthUJDoDom1knbF74Jm89x1nwWV5Vif/s1600/capa.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlwMTJEqLhbVw8UfZTf_bH9DtkXTP0OuUUSPQT19FvwXAqwDRmqw27bYAZsePjSPv6Xl17efyDARdGq3lYnoN8aiqQlX_sQ-a-LU0V3OuaGzFK1hthUJDoDom1knbF74Jm89x1nwWV5Vif/s1600/capa.JPG" height="285" width="400" /></a></div>
Esta semana foi aprovado o <a href="http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/entenda-o-projeto-de-lei-68813/">novo Plano Diretor de São Paulo</a>. Considerado um marco do governo Haddad na metrópole, o texto traz uma série de mudanças radicais e inovadoras considerando o atual cenário do urbanismo brasileiro. Por se tratar de diversos temas não usuais para o cidadão leigo, cada um deles terá uma postagem específica, sendo o primeiro sobre a chamada "Cota de Solidariedade".<br />
<br />
<a href="http://cidadeaberta.org.br/entenda-questoes-importantes-do-plano-diretor-estrategico-2/">Conforme descrito por Nabil Bonduki, relator do Plano na Câmara de Vereadores:</a><br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Já utilizada em grandes metrópoles como Nova York, a cota [de Solidariedade] cria mecanismos de contrapartida na construção de empreendimentos de grande porte. A proposta é que imóveis acima de 20.000 m², destinem 10% do próprio imóvel ou de uma área na mesma região para a implantação de moradias de interesse social*, visando cumprir a função social da propriedade e da cidade."</i></blockquote>
A solução busca uma solução de curto prazo para o déficit habitacional de população de baixa renda inserido no meio urbano que, diferente do programa 'Minha Casa, Minha Vida', produziu moradias de baixa qualidade nas periferias sem acesso à serviços e infraestrutura. Ao mesmo tempo, busca um meio termo entre a produção imobiliária através do mercado e a já ultrapassada produção estatal de moradia ou o controle de aluguéis estabelecido pela ditadura de Getúlio Vargas, considerada a origem do surgimento das favelas em São Paulo.<br />
<br />
Bonduki também está correto que a medida já é usada em grandes metrópoles: nos EUA a medida é chamada de "Inclusionary Zoning" ("Zoneamento Inclusivo", tradução livre), e tem crescente popularidade na política urbana visto que parece resolver a questão sem grandes problemas. No entanto, apesar de existir a desconfiança de alguns sobre a medida, há falta de textos que explicam que tipo de consequência negativa as Cotas de Solidariedade podem trazer. Ao contrário do entendimento de muitos, leis não são passes de mágica que produzem exatamente o resultado esperado pelo legislador, e esta não foge da regra.<br />
<br />
Shaila Dewan, <a href="http://www.nytimes.com/2014/05/04/magazine/rent-too-damn-high-move-to-singapore.html?_r=0">escrevendo para o The New York Times</a>, comenta sobre a implementação da Cota de Solidariedade em Nova York (tradução livre):<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Nova York precisa de mais de 300 mil unidades até 2030. Por outro lado, a Cota de Solidariedade, uma política celebrada que obriga incorporadores separarem unidades para famílias de baixa renda, produziu meras 2800 apartamentos de baixo custo em Nova York desde 2005."</i></blockquote>
Exemplos como este se espalham nas cidades onde foram implementadas. Em Washington DC, por exemplo, as Cotas de Solidariedade foram aprovadas em 2006 exigindo incorporadores separarem 8-10% das unidades para interesse social em todos projetos com mais de 10 unidades. Até 2012 o programa de Washington não atingiu um único cidadão. Neste caso, as unidades lançadas simplesmente não eram um produto atraente para o morador de baixa renda. Localizados em bairros de alto padrão, não necessariamente próximos aos seus empregos, as unidades tendem a ser de um ou dois dormitórios, ainda pequenos para famílias que normalmente dividem seu espaço de moradia. Também há uma grande dificuldade de se conseguir um financiamento para essas unidades, dadas as altas taxas de inadimplência. No Brasil os financiamentos muitas vezes são subsidiados pelo poder público, como no programa MCMV, mas que terminam em <a href="http://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?id=1474763">graves problemas financeiros</a> pela avaliação equivocada do risco do empréstimo.<br />
<br />
Para implementar a política em larga escala também é necessária a fiscalização constante dos moradores, já que por serem imóveis de interesse social os moradores são obrigados a habitar aquele local para não correr o risco de perder o benefício. Para garantir que moradores não estão fechando acordos informais de sublocação é necessário uma vigilância constante do poder público, onde a privacidade e a liberdade do morador se tornam extremamente restritas para que ele esteja apto ao benefício.<br />
<br />
É claro que, mesmo com esses problemas, aqueles que conseguirem unidades nas Cota de Solidariedade terão um prêmio praticamente de loteria, pois recebem construções boas a custos muito abaixo do preço de mercado. Mas há prejuízos escondidos com a medida para permitir que isso aconteça. Ao contrário do que se espera, incorporadoras não arcam o prejuízo de construir unidades fora do preço e da demanda do mercado. Assim, para permitir a viabilidade do projeto construindo essas unidades de interesse social, o preço das 90% das unidades sem controle de preços inevitavelmente terá que ser maior para compensar o prejuízo dos 10% "solidários". Ou seja, quem banca a Cota de Solidariedade são todos que não ganham nessa loteria.<br />
<br />
A regra também acaba incentivando o mercado a construir prédios <i>mais</i> elitistas para poder cobrar este acréscimo, tornando-os ainda mais caros e aumentando a desigualdade dentro do prédio. O caso do 40 Riverside Boulevard em Nova York foi emblemático, onde fizeram uma <a href="http://www.theblaze.com/stories/2013/08/19/nyc-apartment-building-set-to-have-separate-poor-door-entrance-for-low-income-renters/">entrada para "ricos" e outra para "pobres"</a>, explicitamente construídas para possibilitar a Cota de Solidariedade.<br />
<br />
Para evitar o desgaste com esse tipo de política, o mercado imobiliário acaba produzindo menos unidades habitacionais em geral. <a href="http://www.acigabc.com.br/noticias.asp?id=HVCGCRBSRI">Algumas construtoras já sinalizaram que o aumento das complicações levará a produção imobiliária para cidades adjacentes</a>, como a região do ABC Paulista. Ainda, muitos incorporadores optarão por trocar projetos residenciais por comerciais, onde a Cota não se aplica, mesmo em áreas onde há demanda para habitação, piorando o déficit habitacional. Hoje São Paulo tem o maior déficit habitacional do país: são <a href="http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/05/140527_deficit_habitacional_ms.shtml">700 mil famílias em domicílios inadequados</a>.<br />
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<a href="http://www.secovi.com.br/files/Downloads/zeis-vpitu-16-05-2013pdf.pdf">Um estudo do SECOVI do ano passado</a> estudando a implementação das ZEIS em São Paulo chegou a uma conclusão semelhante, de que empreendedores privados buscam áreas menos restritas e também tem receio da mescla de faixas diferentes de renda, temendo o chamado "contágio de mercado" e reduzindo o valor de venda dos imóveis de maior valor.<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlBtkMCV8uoOH4fCkz1euslTkho0A8kS-96tyyrbF15KhnAvGN84TOAC17lOAyfIaH4vBNkMoXVggeqOmGAn2R0aMo-02STpvy5kOM3_CrTd03KBI-PwF0EBbLwwZxoG0u66sk_MF5gNRi/s1600/copacabana.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlBtkMCV8uoOH4fCkz1euslTkho0A8kS-96tyyrbF15KhnAvGN84TOAC17lOAyfIaH4vBNkMoXVggeqOmGAn2R0aMo-02STpvy5kOM3_CrTd03KBI-PwF0EBbLwwZxoG0u66sk_MF5gNRi/s1600/copacabana.JPG" height="441" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Copacabana: não foram legislações que deixaram o bairro "solidário", mas uma oferta expressiva de unidades.</td></tr>
</tbody></table>
Como já foi comentado em uma postagem anterior, a única maneira sustentável de promover a redução do custo dos imóveis de forma generalizada para resolver o déficit habitacional é de diminuir os custos de construção, e não aumentá-los com medidas como a Cota de Solidariedade. <a href="http://www.amazon.com/The-Gated-City-Kindle-Single-ebook/dp/B005KGATLO">Como já identificado pelo economista Ryan Avent</a>, cidades que permitem que o mercado imobiliário produza oferta suficiente para atender à demanda tem os preços de imóveis reduzidos, tendendo a se aproximar aos custos de construção: o chamado "equilíbrio de mercado".<br />
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O novo Plano Diretor anda vagamente neste sentido ao aumentar o potencial construtivo em algumas áreas, mas aumenta o custo da outorga onerosa (custo de construir acima da área permitida para o terreno) em até 25 vezes o atual, o que o <a href="http://revista.zap.com.br/imoveis/novo-plano-diretor-pode-encarecer-imoveis-em-sp-em-ate-70/">SECOVI estimou que pode impactar em um aumento de até 70% no valor dos lançamentos dependendo da região</a>. <a href="http://raquelrolnik.wordpress.com/2014/07/04/em-sao-paulo-ha-meia-cidade-no-subsolo-formada-so-por-garagens/">A urbanista Raquel Rolnik contrariou esta posição</a> afirmando que o valor seria absorvido pelo proprietário do terreno, não pelos compradores. No entanto, tanto as incorporadoras já são proprietárias de um grande estoque de terrenos – repassando o custo às unidades – assim como a outorga mais cara restringe a construção de mais unidades.<br />
<br />
Fora algumas áreas que tiveram seu coeficiente de aproveitamento** aumentado para 4, ao longo dos chamados "eixos estruturadores" atendidos por estações de metrô, o Plano não trouxe gradens alterações nos potenciais construtivos de forma geral. Para uma cidade global como São Paulo que enfrenta um enorme déficit habitacional o coeficiente é muito baixo, restringindo a oferta imobiliária nas regiões centrais (Hong Kong, Nova York e Seoul atingem coeficientes de 10).<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0lcaym5_KaD_j_L5NV69LbjTVOy6KV3w_9cdIJM7pesMsPAKGidJ9saLwe9FzZm4AZB77Q8W2cH6HyGlZckYQ2n3DVqOzz3BPoyquZkTtnLYzGxTwboYvtjns16Avrlt5AV9WNlNnPio4/s1600/janelas.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0lcaym5_KaD_j_L5NV69LbjTVOy6KV3w_9cdIJM7pesMsPAKGidJ9saLwe9FzZm4AZB77Q8W2cH6HyGlZckYQ2n3DVqOzz3BPoyquZkTtnLYzGxTwboYvtjns16Avrlt5AV9WNlNnPio4/s1600/janelas.JPG" height="300" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Filtragem: o luxo não dura pra sempre.</td></tr>
</tbody></table>
Alguns podem pensar: "Mas mesmo assim o mercado imobiliário só construiria unidades voltadas para a classe média e acima, sem se importar com unidades de interesse social". No entanto, com oferta suficiente de imóveis ocorre o fenômeno da filtragem, bem <a href="http://www.slate.com/blogs/moneybox/2012/12/11/filtering_vs_gentrification_how_to_get_urban_growth_without_displacement.html">explicada pelo economista Matthew Yglesias</a>:<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Se vários imóveis de luxo são construídos em uma cidade, pelo menos parte dos seus moradores vão abandonar suas casas anteriores de outros lugares da região. Estas casas agora encontram-se livres para serem ocupadas por pessoas um pouco menos ricas. Com o tempo mais edifícios de luxo aparecem no mercado e os edifícios de luxo de ontem vão envelhecer e 'filtrar' as classes sociais."</i></blockquote>
A prova mais evidente desse fenômeno são os opulentes edifícios de centros históricos de cidades como Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo que, por estarem deteriorados, hoje são habitados predominantemente por moradores de baixa renda.<br />
<br />
É necessário entender que não há solução mágica que consiga resolver este desequilíbrio entre oferta e demanda de imóveis de outra forma, que é contraintuitiva do ponto de vista do regulador: solidariedade de verdade seria simplesmente permitir a construção de mais unidades para resolver o déficit habitacional. Sem que isso ocorra, temos apenas uma "Cota" de Solidariedade, beneficiando alguns mas gerando prejuízos escondidos sob uma maquiagem de benevolência.<br />
<br />
<i>* Moradias com preço determinado pelo governo (praticamente uma tarifa, por não ser determinado através do processo de mercado) e destinadas especificamente a moradores de baixa renda, que não tem o direito de vender ou alugar a propriedade por um longo período (normalmente algo como 10 anos).</i><br />
<br />
<i>** Relação entre área construída e área do lote. Ex: Se o lote tiver 1000m² com coeficiente de aproveitamento 2 o proprietário poderá construir uma edificação de 2000m² de área.</i>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-55773335716757974422014-06-20T16:10:00.000-03:002014-06-20T16:10:35.191-03:00Até os anos 70 o transporte público de San Francisco tinha concorrência<i>Esta é uma tradução do artigo "<a href="http://missionlocal.org/2014/06/up-until-the-1970s-muni-had-competition/">Up Until the 1970s, Muni Had Competition</a>" de Rigoberto Hernandez e Andrea Valencia para o jornal Mission Local</i><div>
<i><br /></i><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1zjd5DUk7Qj050S8tnDMjvWNAqgdNKnLukdgWMWWoUI58X3k-pdG6ZV3zDLKhCbCU0jP_Ajb-Yjss0WGRzgbSGfLdGcNB8-hQEgFlR996hCpE4vIYnyCXP-Rt6t04yKyfrGZOVXfwA3vA/s1600/jitney.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1zjd5DUk7Qj050S8tnDMjvWNAqgdNKnLukdgWMWWoUI58X3k-pdG6ZV3zDLKhCbCU0jP_Ajb-Yjss0WGRzgbSGfLdGcNB8-hQEgFlR996hCpE4vIYnyCXP-Rt6t04yKyfrGZOVXfwA3vA/s1600/jitney.JPG" height="416" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A van original de Di Pilla com a jovem Michele em 1976. A foto foi cortesia da família Di Pilla, publicada no Mission Local</td></tr>
</tbody></table>
<div>
Poucos suspeitariam que a loja de presentes La Argentina, um lugar peculiar na 3230 24th Street, é parte de um pequeno império pare da história do Mission District: das vans privadas que enchiam San Francisco por grande parte do século 20, levando passageiros por toda a cidade e competindo com o Muni. </div>
<br />As vans são particularmente relevantes essa semana já que passageiros procuram alternativas de transporte com a greve dos motoristas do Muni, o sistema municipal de transporte coletivo. A cidade já teve uma alternativa – as vans – e parte da sua história está ali na 24th Street. <br /><br />Diferente dos ônibus das empresas de tecnologia, como os oferecidos pelo Google, eles não eram de graça, mas eram serviços privados visando lucro geridos por operadores independentes incluindo a família Di Pilla, hoje proprietários da loja de presentes. <br /><br />No seu pico em 1950 cerca de 7 mil passageiros por dia pagavam 10 centavos por corrida nas vans privadas de acordo com o estudo do Centro de Transportes da Universidade da Califórnia chamado <a href="http://www.uctc.net/papers/252.pdf">“Paratransit in the San Francisco Bay Area”</a> (“Transporte Alternativa na Baía de San Francisco”, tradução livre). As vans eram vistas como veículos privados competindo com o Muni, mas a cidade começou a legislar contra eles.<br /> <br /> Embora muitas das vans tinham sido substituídas por ônibus quando Michele Di Pila entrou no negócio nos anos 60, a rota do Mission ainda operava 24 horas por dia, sete dias por semana. Em 1970, Di Pilla, então com 39 anos, sentava atrás da direção de um deles, transportando passageiros de Daly City até o Embarcadero e de volta pela Mission Street. <br /><br />Ele era conhecido como “Hot Wheels”, recorda sua filha Michelle, que trabalhava como cobradora. “O revendedor nos dava vans com 12 lugares e a a gente mudava o layout pra ter 20 lugares,” disse Di Pilla. “Tirávamos as poltronas de vans e colocávamos cadeiras de ônibus que comprávamos de ferros velhos.” <br /><br />Para proteger o Muni, a cidade parou de emitir novas licenças em 1972. O último choque veio em 1978, quando eleitores passaram a legislação chamada “Proposition K” que eliminou a revenda das licenças de vans. O aumento das taxas de seguro também desencorajavam os operadores privados, e em 1983 Di Pilla e maioria dos outros operadores estavam fora das ruas. <br /><br />Nesse período, Di Pilla já com 52 anos e sua esposa argentina, Marcela, já estavam investindo no mercado imobiliário. Michelle, que tinha ido aos Estados Unidos através de uma bolsa de estudos Jacqueline Kennedy para processamento de dados (o equivalente à TI nos anos 50), disse para sua mãe que era boa com números. <br /><br />Quando um colega imigrante italiano quis vender um edifício com 14 salas na 2347 24th Street, eles compraram. Logo depois eles tinham adquirido o edifício ao lado do atual La Argentina e montaram a loja em 1972, nomeando-a em homenagem ao país natal de Di Pilla. <br /><br />Quando ela morreu, Di Pilla manteve o lugar aberto como um lugar para encontrar amigos. Hoje em dia seus filhos cuidam da loja e dos edifícios comerciais, que segundo a sua filha são ocupados totalmente por imigrantes latinos. <br /><br />Esta história foi publicada no Mission Local pela primeira vez em 9 de agosto de 2009, sendo atualizada por Andrea Valencia em maio de 2014.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-24187393222550849682014-06-18T10:17:00.001-03:002014-06-18T10:19:11.099-03:00Urbanismo Emergente e o IV Distrito<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="281" mozallowfullscreen="" src="//player.vimeo.com/video/97900102" webkitallowfullscreen="" width="500"></iframe><br />
<br />
Semana passada tive o prazer de estar em Porto Alegre falando um pouco sobre Urbanismo Emergente e o IV Distrito a convite do Nós Coworking.<br />
<br />
Na apresentação falei um pouco sobre o conceito de Urbanismo Emergente, consequências não-intencionais do planejamento urbano centralizado e, para finalizar, um pouco da história sobre o IV Distrito de Porto Alegre e algumas sugestões para aumentar os processos de desenvolvimento emergente do bairro.<br />
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Pra quem não foi, segue a apresentação na íntegra.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-90887835369356041972014-06-17T00:37:00.001-03:002014-06-17T12:06:33.938-03:00Como construir clusters de inovação além da Califórnia<i>Esta é uma tradução do artigo "<a href="http://www.politico.com/magazine/story/2014/06/turn-detroit-into-drone-valley-107853.html#.U5-2t_ldXC9">Turn Detroit Into Drone Valley</a>" de Marc Andreessen, co-fundador do fundo de capital de risco Andreessen Horowitz.</i><br />
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnzAtIMWtc0hqLZJy2aP0SwjsI2B9l_PhTjDWuNSkFc9NGpElcs34GPmven3pr0z3b9s5g3vJzCDnZGgjmRtBwTtcYQuSoX9gOnCfwn-2f2lRw_AuR9e7DvX9qT5A7Qyz-583cMiILMfY7/s1600/tech-dhl-delivery-drones.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnzAtIMWtc0hqLZJy2aP0SwjsI2B9l_PhTjDWuNSkFc9NGpElcs34GPmven3pr0z3b9s5g3vJzCDnZGgjmRtBwTtcYQuSoX9gOnCfwn-2f2lRw_AuR9e7DvX9qT5A7Qyz-583cMiILMfY7/s1600/tech-dhl-delivery-drones.jpg" height="424" width="640" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div>
A receita popular para criar o “próximo” Vale do Silício é mais ou menos assim:</div>
<br />
- Construa um parque tecnológico grande, bonito e totalmente equipado;<br />
- Misture laboratórios de P&D e centros universitários;<br />
- Dê incentivos para atrair cientistas, empresas e usuários;<br />
- Conecte a indústria através de consórcios e fornecedores especializados;<br />
- Proteja propriedade intelectual e transferência tecnológica e;<br />
- Estabeleça um ambiente e uma plataforma regulatória propícia para negócios.<br />
<br />
Mas... <a href="http://lkyspp.nus.edu.sg/aci/wp-content/uploads/sites/4/2013/04/Industrial-cluster-Development-and-Innovation-in-Singapore.pdf">essa abordagem</a> de <a href="http://www.development.wne.uw.edu.pl/uploads/Courses/ied_porter_2000.pdf">clusters de inovação</a> na verdade não funcionou. Alguns ainda <a href="http://www.washingtonpost.com/national/on-innovations/industry-clusters-the-modern-day-snake-oil/2011/06/19/gIQAMtx3EI_story.html">rejeitaram</a> a ideia destes esforços liderados pelo governo comparando-os a um “óleo de cobra” dos tempos modernos. Mas o setor público está sempre procurando o próximo Vale do Silício por causa da proximidade entre inovação tecnológica, crescimento econômico e oportunidade social. <br />
<br />
Esforços anteriores nestes clusters <a href="http://www.technologyreview.com/news/516506/silicon-valley-cant-be-copied/">falharam</a> por uma série de motivos, mas um grande motivo é que os esforços do governo por si só não atraem as pessoas. É por isto que um recente grupo de experimentos focaram mais em construir <a href="http://www.feld.com/wp/archives/2014/04/empirical-support-boulder-thesis.html">comunidades empreendedoras</a>, <a href="http://www.wired.com/2014/01/zappos-tony-hsieh-las-vegas/">hubs</a> e <a href="http://www.brookings.edu/about/programs/metro/innovation-districts">distritos</a> urbanos e <a href="http://www.ihub.co.ke/about">hackspaces</a>. Mas, de acordo com a expert <a href="http://www.technologyreview.com/news/516501/in-innovation-quest-regions-seek-critical-mass/">Fiona Murray da Technology Review</a>, ainda estamos divididos em como criar um ecossistema empreendedor: ora vamos agir de cima para baixo ficando principalmente em infraestrutura – ou de baixo para cima focando apenas nas redes. Nenhum destes esforços buscam com sucesso ambos caminhos ao mesmo tempo, com governo, academia e comunidades empreendedoras agindo em compasso, como foi no <a href="http://steveblank.com/secret-history/">desenvolvimento do Vale do Silício</a>.<br />
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Mas o setor público não deveria estar tentando copiar o Vale do Silício. Eles deveriam, ao invés disso, descobrir qual é (ou qual poderia ser) o setor específico da sua região – e em seguida remover os entraves regulatórias para aquele setor. Não queremos 50 Vales do Silício; queremos <a href="https://twitter.com/pmarca/status/426587326861430785">50 variações diferentes do Vale do Silício</a>, um diferente do outro, únicos e focando em setores diferentes.<br />
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Imagine um Vale do Bitcoin, por exemplo, onde um país legaliza completamente criptomoedas para todas transações financeiras. Ou o Vale dos Drones, onde uma região elimina as barreiras legais locais para veículos aéreos não-tripulados. Um Vale dos Carros Autônomos em uma cidade que permite experimentar com diferentes designs de carros que dirigem sozinho, vias redesenhadas e regras de segurança. Um Vale das Células tronco, e assim por diante. Existe uma diferença chave do argumento “se-você-construir-eles-virão” de épocas passadas. Agora o foco é entre gerar competitividade regulatória entre governos municipais, estaduais e federais. Há tantas categorias novas de inovação por aí e empreendedores ansiosos para ir atrás de oportunidades dentro de seu alcance. Repensar as barreiras regulatórias em indústrias específicas atrairia mais as startups, pesquisadores e divisões de grandes companhias que querem inovar na vanguarda de um setor específico – enquanto ainda exploram e abordam muitas das dificuldades regulatórias ao longo do caminho.<br />
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Por que esta abordagem? Comparado com esforços anteriores de clusters de inovação onde governos tentavam algo artificial, esta proposta surge daquilo que governos fazem melhor: criar, ou melhor, relaxar legislações.<br />
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Outra vantagem desta abordagem é que é uma maneira de clusters se diferenciarem uns dos outros e competirem positivamente pelos recursos. Pense nisso como uma espécie de “arbitragem global” ao redor de <a href="http://www.nytimes.com/2012/05/25/opinion/keep-the-internet-open.html">inovação irrestrita</a> – a liberdade de criar novas tecnologias sem precisar pedir aos poderes pela sua bênção. Empreendedores podem tirar vantagem das diferenças de oportunidades de diferentes regiões, onde inovação em um setor específico pode ser restrita em uma região, permitida e encorajada em outra, ou totalmente legalizada em uma terceira. Por exemplo, leis e normativas para usar <a href="http://www.missouridronejournalism.com/2013/04/what-flies-when-it-comes-to-drone-laws-across-the-globe/">drones</a> ou <a href="http://www.coindesk.com/denmark-declares-bitcoin-trades-tax-free/">taxar bitcoins</a> já variam em vários lugares do mundo, assim como para o <a href="http://blogs.kqed.org/newsfix/2014/03/03/lyft-uber-regulation/">compartilhamento de caronas</a> em cidades por todos os EUA.<br />
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Mas a maior vantagem da abordagem de termos 50 Vales do Silício diferentes não é só o que ela gera para empreendedores em regiões isoladas: é na aceleração da inovação no mundo inteiro. Remover regulações em regiões diferentes permite múltiplas categorias de inovação avançando de uma só vez, em paralelo, sem sofrer com os gargalos do tempo ou da distância.<br />
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Então quais são os riscos? Bem, sempre existe a real possibilidade de regiões avançadas “terceirizarem sua regulação” e expulsarem seu próprio risco às custas de regiões menos avançadas. Para avançar mais rápido, países mais pobres podem estar mais tentados a testarem coisas que países mais ricos estão excluindo com as suas cercas. Mas enquanto as inovações não gerarem riscos à vida – e muitos dos setores restritos não geram (as restrições normalmente protegem interesses vigentes) – um modelo como este permite uma maneira muito mais rápida e viável de regiões alcançarem as líderes. Especialmente quando você considera a vantagem que os clusters de inovação anteriores não tinham: o smartphone.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-16319818288775598002014-06-13T10:55:00.001-03:002014-06-13T10:56:30.108-03:00Copa do Mundo: legado de destruição<i>Artigo escrito para publicação na revista impressa do IAB-RS, também publicado em inglês no site <a href="http://dailycaller.com/2014/06/10/brazil-is-using-the-world-cup-to-destroy-communities/">Daily Caller</a>.</i><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkmUNU7TlLKURCdsPz-O0g5-iTemilQh39WwVUNuMGKoUgkLyxCChXaLi9f6onQ1ReirickLflfb312HwY6vWkUjWpOso_iafd1GhP25LsyN1YR-SD0Q5QJnild1BNEcDdloJBiYo2QYp0/s1600/copa_do_mundo_2014_obras-192784-50e9d630d5830.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkmUNU7TlLKURCdsPz-O0g5-iTemilQh39WwVUNuMGKoUgkLyxCChXaLi9f6onQ1ReirickLflfb312HwY6vWkUjWpOso_iafd1GhP25LsyN1YR-SD0Q5QJnild1BNEcDdloJBiYo2QYp0/s1600/copa_do_mundo_2014_obras-192784-50e9d630d5830.jpg" height="208" width="320" /></a></div>
Nunca passaria pela minha cabeça ver um campeonato de futebol como algo que pudesse ser destrutivo. A Copa do Mundo no Brasil, no entanto, me fez mudar de ideia: o que era para ser um espetáculo esportivo se tornou uma política pública - e um desastre social.<br />
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Comecei questionando a avaliação pública de que a Copa extrapola a esfera privada pela sua escala. É divulgada a ideia de que, sem desmandos de políticos, turistas gerarão caos em aeroportos, hotéis e no sistema de transporte, enquanto gangues preparam ataques criminosos, sendo um prejuízo enorme para a nossa imagem internacional. Mas não foi a própria interferência política que selecionou cidades despreparadas para os jogos? Quando o Brasil foi escolhido como sede, nenhum estádio estava de acordo com as exigências da FIFA, mas o governo prometeu um redirecionamento artificial de recursos públicos para adequar o que fosse necessário. Ou seja, não foi o caso que o evento privado extrapolou a sua esfera, mas o setor público que o considerou indispensável para sua política, influenciando na sua realização.<br />
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Mas digamos que o evento estivesse marcado sem interferência política, com os próprios clubes investindo na melhoria dos seus estádios. Será que veríamos uma catástrofe? Grandes aglomerações urbanas, sedes de estádios com tal preparo, são locais ideais para receberem grandes eventos. Metrópoles são resilientes neste sentido por contarem com relações cruzadas entre uma variedade de fornecedores e empreendedores. Os hotéis se preparam para o aumento da demanda ajustando seus preços para lotar sua infraestrutura com o máximo de eficiência. Proprietários de imóveis se cadastram em sites como o AirBnB, por onde podem facilmente serem locatários de curta duração. No entanto, o governo normalmente interfere nesse preparo, como a recente notícia do combate aos “preços abusivos” dos hotéis no Rio de Janeiro: um desconto obrigatório aos turistas, gerando insegurança para quem investe e empreende. O AirBnB também cai na irregularidade já que é comum a proibição de atividades comerciais em zonas residenciais, além de requerer a abertura de uma empresa para essas transações, inviabilizando o que era para ser algo rápido e acessível.<br />
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrbAYlCTk5bOhD6NtYNomZ2CUAyNEtJX6f9lS5pJ6G1c3z4iNXXchdYnOdcA2Rr95jgonMws5T38Xf_kZfY2OM5wTgm24B_OJ56YTPbrdZdMnZi55BqoVgal4NIS9vUCoLEq6zUGI2ja8r/s1600/projeto+proibe-+o+globo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrbAYlCTk5bOhD6NtYNomZ2CUAyNEtJX6f9lS5pJ6G1c3z4iNXXchdYnOdcA2Rr95jgonMws5T38Xf_kZfY2OM5wTgm24B_OJ56YTPbrdZdMnZi55BqoVgal4NIS9vUCoLEq6zUGI2ja8r/s1600/projeto+proibe-+o+globo.jpg" height="320" width="225" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Caronas estão proibidas.</td></tr>
</tbody></table>
Recentemente, falando sobre a Copa, a presidenta Dilma falou que “é muito caro fazer transporte coletivo. Se não for parceria, ou se a União não botar dinheiro, não sai”. Mas seria apenas uma questão financeira ou existem outros entraves? Operadores de transporte coletivo e taxistas não podem aumentar o número de veículos nas ruas, criar rotas novas, e muito menos aumentar o preço de suas tarifas para equilibrar o aumento da demanda durante o evento. Empreender e inovar no setor de transportes, seja aéreo ou terrestre, é uma tarefa ora para os insanos ora para os poderosos, tamanha a barreira de entrada regulatória nestes setores. Pequenos empreendedores de micro-ônibus são comuns na região da Ásia-Pacífico ou da América Central, mas raramente são legalizados em cidades brasileiras. Além disso, aplicativos que permitem o compartilhamento de caronas são proibidos por serem uma ameaça às corporações de táxi vigentes. Por fim, no tocante ao planejamento da cidade como um todo, o maior desafio não está no investimento em infraestrutura, mas sim nas legislações municipais que regulam a forma urbana, a proximidade dos pontos de atração e a competitividade do sistema de transportes.<br />
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Assim, depois de direcionar o evento para cidades despreparadas e restringir sua adaptação natural, surgem as prerrogativas “econômicas”: a Copa do Mundo seria uma chance para o Estado “liberar” recursos para infraestruturas importantes, incentivando a economia. Mas as 41 obras de “mobilidade urbana" somam em torno de R$8 bilhões e compreendem em grande parte viadutos – indutores de tráfego ao prejudicar o pedestre e coletivizar os custos de quem usa transporte individual – e os BRTs, oo Bus Rapid Transport. A abordagem busca votos e não resultados já que a população, leiga em transportes, vê qualquer obra, independente da tecnologia ou do custo, como um benefício para a mobilidade urbana. Pouco é divulgado, mas o BRT (uma espécie de metrô de superfície usando ônibus no lugar dos trens) piorou o sistema de transportes como um todo em casos emblemáticos como Lima e Bogotá, onde já foi implementado. Um dos motivos foi a eliminação e a proibição de importantes rotas de ônibus e microôonibus do sistema antigo para gerar demanda para o BRT. Além disso, a centralização do sistema o torna frágil tanto à mudanças políticas como à alterações na demanda das rotas, garantidas para qualquer cidade. Para abordar um sistema complexo e descentralizado como o trânsito é necessário pensar em soluções que são, também, complexas e descentralizadas, ao invés de simplificadas e centralizadoras como as nossas obras de mobilidade. Além disso, qualquer sistema que requer a restrição forçada de seus concorrentes para uma boa operação será, desde a largada, um fracasso.<br />
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizH6PCMha4phmoZaqG5L28tO2BWIxBiLetA24XwoJSq5YzZ2Sz6guqPVkogUZe6ayi-XqaabU6Te4eqU8Vf6s9lCKCZoosoofP4gn7L7EDA1HATM4aJan3XpQzIGccWHIn5F7-mr5EAZ0Y/s1600/DSC03278.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizH6PCMha4phmoZaqG5L28tO2BWIxBiLetA24XwoJSq5YzZ2Sz6guqPVkogUZe6ayi-XqaabU6Te4eqU8Vf6s9lCKCZoosoofP4gn7L7EDA1HATM4aJan3XpQzIGccWHIn5F7-mr5EAZ0Y/s1600/DSC03278.jpg" height="213" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Uma visão do "legado" na China</td></tr>
</tbody></table>
Mas a grande “infraestrutura” que o país ganha são estádios de futebol que, segundo o Instituto Ethos, receberão quase R$9 bilhões em recursos públicos. E qual é a utilidade prevista para muitos destes estádios após o evento? Nenhuma, pois estão em cidades que simplesmente não tem torcidas ou times para ocupá-los. O “Ninho de Pássaro”, estádio construído em Pequim para as Olimpíadas de 2008, enfrenta exatamente o mesmo problema, e hoje organiza cômicos passeios de Segway para desesperadamente gerar qualquer tipo de retorno. O diretor do comitê organizador da Copa brasileira mostrou falta de bom-senso quando, ao questionado como evitaria os “elefantes brancos”, sugeriu utilizar os estádios para festas de casamento. Mais recentemente, a Arena da Amazônia foi considerada para se tornar um presídio provisório após o evento, uma improvisação em escala literalmente monumental.<br />
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Percebi, assim, que gastar dinheiro não significa gerar riqueza, muito menos resolver problemas antigos de uma nação. Com a Copa do Mundo, apenas aumentam-se as justificativas estatais para a centralização de poder e para a cobrança de impostos – de onde o governo tira seus recursos – e na verdade não existem impostos "presos" para serem "liberados". Assim, nossa economia não é “estimulada”, apenas redirecionada para outras finalidades, saindo da esfera das preferências pessoais dos cidadãos passando para decisões governamentais a nível federal.<br />
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Neste redirecionamento reina a ineficiência e a corrupção, pois uns gastam o dinheiro de outros, com a opção de arrecadar mais caso seja insuficiente: o contrário da lógica do setor privado, com exemplos que não poderiam ser mais claros. Obras como a expansão dos aeroportos de Curitiba e de Salvador, do estádio em Porto Alegre e as obras no porto em Fortaleza praticamente dobraram seu orçamento inicial. O Estádio Mané Garrincha, em Brasília, promete ultrapassar o custo de R$2 bilhões: já se foram R$1,78 bilhões e acabaram de licitar contratos de mais R$350 milhões para obras no seu entorno.<br />
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj701M5HhGuTW4D9HsbYvzizc0JqoRnb7BHMmu41p9FoQ3Dlq2Wo98xfTp53m-OBBzAuvP3Gt7kxMyEtOYFxYHknjpqSM02NL_qMdk_zdC0rxhBl_bZ1lUg_huIANbK9IRHoRXMnYQFcftY/s1600/casas+marcadas.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj701M5HhGuTW4D9HsbYvzizc0JqoRnb7BHMmu41p9FoQ3Dlq2Wo98xfTp53m-OBBzAuvP3Gt7kxMyEtOYFxYHknjpqSM02NL_qMdk_zdC0rxhBl_bZ1lUg_huIANbK9IRHoRXMnYQFcftY/s1600/casas+marcadas.JPG" height="360" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Casa marcada para demolição no Rio de Janeiro, do filme <a href="https://www.youtube.com/watch?v=xao_4b8DJ_k">Casas Marcadas</a></td></tr>
</tbody></table>
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No entanto, a tentativa de produzir um “legado” não tem apenas um custo financeiro, mas também social e de valor inestimável, talvez o maior de todos os prejuízos gerados pela Copa do Mundo. A Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop) em parceria com a ONG Conectas calcula que 250 mil pessoas serão despejadas de suas casas por causa das obras. A grande maioria mora em comunidades informais, com o azar de terem nascido em um terreno em uma área pública ao invés de uma área privada. Este fato por si só elimina seu direito ao usucapião, o título de propriedade da terra por ocupação e uso prolongado, direito que já teria sido adquirido décadas atrás caso a terra não fosse pública. Maioria das comunidades sofrendo com os despejos não são assentamentos recentes, mas verdadeiros bairros que já deveriam ter sido reconhecidos e formalizados muito tempo atrás. A mais antiga delas, do Morro da Providência no Rio de Janeiro, após um século sem receber seus títulos de propriedade nem qualquer tipo de investimento público, hoje recebe de R$75 milhões para a construção de um teleférico cuja principal função é a visita de turistas: ao invés de resolver os problemas é gerado um espetáculo para a elite, removendo as pessoas e as casas no caminho.<br />
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O documentário “<a href="https://www.youtube.com/watch?v=xao_4b8DJ_k">Casas Marcadas</a>” revela que a Secretaria Municipal de Habitação do Rio de Janeiro marcou centenas de casas com códigos para, em seguida, sem negociação ou qualquer contato pessoal, enviar retroescavadeiras para colocá-las abaixo. Propriedades vendidas nestas comunidades, mesmo restritas ao seu mercado informal interno e com construção precária, atingem valores de R$100 mil. No entanto, as indenizações públicas aos moradores que perdem suas casas - quando recebem alguma coisa - raramente ultrapassa de R$10 mil, uma escala de valor dez vezes menor. Não só isso, já são centenas as denúncias de violência e coerção da polícia aos moradores que desafiaram aqueles que tentaram tirá-los, mas sem sucesso. Agora imagine esta cena se repetindo, com poucas variações, por todas as cidades que se preparam para a realização da Copa do Mundo. Ao serem literalmente removidas, de noite para o dia, sem alternativa de moradia, se agrava a situação já assustadora de desigualdade e exclusão social que o país se encontra.<br />
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O governo brasileiro interferiu na Copa do Mundo para evitar um cenário caótico e para construir um “legado” para a sociedade. O resultado que se vê até o momento é o contrário do que se prometeu: caos e a construção de um legado de destruição.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-37637278145625416922014-06-06T09:44:00.002-03:002014-06-06T09:46:04.636-03:00O IV Distrito que Porto Alegre merece<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj09cqyVeJc09p4WWmbpkX5yekzK0BYA6MrldM3L7a2GG8JLgLswRzA1XUB2dejWu4kuC1NrwZ2dRPl5ztZ_hOjRDoua0tFenHLzqHCw6RqJNkyM1Lz4vADRqrfTXATJzKJNUik_v40GkuE/s1600/header_banner-do-4th.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj09cqyVeJc09p4WWmbpkX5yekzK0BYA6MrldM3L7a2GG8JLgLswRzA1XUB2dejWu4kuC1NrwZ2dRPl5ztZ_hOjRDoua0tFenHLzqHCw6RqJNkyM1Lz4vADRqrfTXATJzKJNUik_v40GkuE/s1600/header_banner-do-4th.jpg" height="192" width="640" /></a></div>
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Próxima segunda-feira (9 de junho) estarei no Nós Coworking discutindo com Marc Weiss sobre a revitalização do IV Distrito de Porto Alegre. O evento inicia às 19:30, é aberto e é gratuito, mas as inscrições devem ser feitas <a href="http://www.eventick.com.br/quartodistrito20143">neste link</a>.</div>
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Em preparo para o evento tive a oportunidade de ler a tese de mestrado da Arquiteta e Urbanista Leila Nesralla Mattar, chamada "<i><a href="http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3097">A modernidade de Porto Alegre: Arquitetura e espaços urbanos plurifuncionais em área do 4º Distrito</a></i>".<br />
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Lendo o texto me impressionei com a emergência não planejada do 4º Distrito, uma região que se desenvolveu através de sucessivos projetos e loteamentos privados gerando uma pluralidade incrível, de línguas, etnias e classes sociais. O local também tinha uma variedade de usos, sendo descrita pela autora como "bairro cidade", algo que urbanistas hoje tentam criar via regulamentação, com pouco sucesso.<br />
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Além disso, ficou ainda mais clara a decadência do bairro por motivos regulatórios, que restringiram sua capacidade de adaptação ao longo do tempo. Diz na <a href="http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3097">página 313</a>:<br />
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<i>"... o Primeiro Plano Diretor da cidade (1959) previa um modelo urbanístico baseado no Zoneamento de Usos para toda a sua área, incentivando ou proibindo a localização de certas atividades nos seus diversos setores; para o bairro Navegantes, foi referendado a vocação industrial, em quase toda a sua extensão. Nesta época, já eram evidentes os efeitos do processo de metropolização da capital, com os deslocamentos de algumas indústrias e operários fabris, para cidades vizinhas. A década de 1950, foi a de maior crescimento demográfico para a capital, cuja população passou de aproximadamente 380 000 habitantes, no início do período, para 626 000 habitantes em 1960.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Assim, em face a este contexto, já era premente a necessidade de um Plano Diretor formal para Porto Alegre. No entanto, segundo alguns autores, o plano de 1959 mostrou-se conservador no que se refere à regulamentação de situações ou tendências de crescimento existentes. Por outro lado, sinalizava com algumas rupturas, como a visão “anti-industrial”, já que estabelecia limites rígidos para a instalação de atividades produtivas, contribuindo para a sua “desindustrialização”.</i><br />
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<i>[Günter] Weimer, analisando os diversos “transtornos” promovidos por este zoneamento, aponta seu uso restritivo especialmente aplicado na implantação das fábricas que, não podendo se expandir, foram forçadas a transferir-se para municípios periféricos, onde estariam mais liberadas das exigências do plano, mas com prejuízos para o operariado. Em face do aumento de despesas com transporte, muitos se obrigaram a mudar para junto das fábricas, contribuindo para um desordenado crescimento das cidades satélites, além da consequente diminuição de impostos acarretados à municipalidade.</i></div>
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<i><br /></i>
<i>Desta forma, aproximadamente após os anos 60, o uso residencial entrou em processo de estagnação e descaracterização, modificando-se o conteúdo social da área, que, com a introdução de outras atividades, acabou sofrendo grandes transformações físicas, como o exemplo das transportadoras, que prejudicaram o sistema circulatório daquelas ruas. Posteriormente, com a criação do Porto Seco (1980), há um decréscimo destes estabelecimentos, já que muitos se transferiram da área. Assim, a sua vocação industrial, crescente na década de 1930, dinamizada na de 40 com os benefícios acarretados pelas obras de aterros do cais do porto e da abertura da avenida Farrapos, e prosseguindo nos anos 50, com a travessia sobre o Guaíba(1959), inicia nos anos 60, um processo de progressiva decadência, com o deslocamento das indústrias, ali estabelecidas, para outras áreas."</i><br />
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Isso significa que o bairro não ficou congelado apenas durante o Plano Diretor de 1979-1999, mas já 20 anos antes. Ou seja, foram 40 anos de zoneamento industrial sem uma vocação clara para esta atividade específica na região.<br />
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Na revisão do Plano em 2000 a região foi alterada para "Uso Misto", mas outras regulações ainda impedem a sua regeneração natural, que será tema da minha conversa no evento. Também pretendo mostrar exemplos de outras cidades que buscaram ou buscam simplificação legislativa como uma forma de transformação, removendo obstáculos ao invés de criar novas regras e incentivos.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-2427875305007011392014-05-29T14:08:00.000-03:002014-05-29T14:23:53.760-03:005 livros para entender e amar cidadesO estudo de cidades – urbanismo - é uma área de crescente interesse pelo fato de sermos uma espécie cada vez mais urbana. A medida que se diminui a necessidade de mão de obra para agricultura e indústria, aumenta a proporção de humanos vivendo em centros urbanos, trabalhando com serviços e ideias nestes “reatores sociais”, uma definição de cidade usada pelo estudioso de complexidade Geoffrey West.<br />
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No entanto, muitos livros nos contam histórias de cidades, outros pulam diretamente para receitas específicas de como corrigir um determinado problema urbano. Não são muitos os livros que mostram o que é uma cidade e como ela funciona. Nesta seleção, o leitor não só vai entender e amar as cidades, mas descobrir que elas são organismos tão incríveis e complexos longe de serem controladas por uma entidade, normalmente associada ao papel do urbanista. Essa leitura permite ao urbanista compreender seu papel como coadjuvante, delegando o controle da cidade para seus próprios cidadãos.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB5GPA5_8Xj-tqNOUjYjsScbCw-ji1HSCCvmmCqlnO3zUbPZv5mPtSZEFAA-p3mw79lcq3O7GCyBVuaUxBPQrhGnTXK2vwHq4MLvt3dseq2S54AvPvYJnHkEzyWynqW2c0apae8YmjkI0g/s1600/7fe253056e2e_nova_york_delirante.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB5GPA5_8Xj-tqNOUjYjsScbCw-ji1HSCCvmmCqlnO3zUbPZv5mPtSZEFAA-p3mw79lcq3O7GCyBVuaUxBPQrhGnTXK2vwHq4MLvt3dseq2S54AvPvYJnHkEzyWynqW2c0apae8YmjkI0g/s1600/7fe253056e2e_nova_york_delirante.jpg" height="200" width="142" /></a></div>
<br />
<b><span style="font-size: large;">Nova York Delirante</span></b>, Rem Koolhaas<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>“A disciplina bidimensional da retícula também cria uma liberdade jamais sonhada para a anarquia tridimensional. A retícula define um novo equilíbrio entre controle e descontrole, em que a cidade pode ser ao mesmo tempo ordenada e fluida, uma metrópole de rígido caos.”</i></blockquote>
Rem Koolhaas, um dos arquitetos e urbanistas mais influentes da atualidade, nos conta a história de Manhattan, uma das cidades mais relevantes do mundo contemporâneo que teve uma forma muito singular de urbanização. Dentro do seu xadrez viário rígido, Manhattan permitiu a “anarquia tridimensional”, usando suas palavras, gerando o que o autor chama de “cultura da congestão”, uma condição da vida metropolitana que Manhattan conseguiu extrair ao máximo.<br />
<br />
As regulações urbanas adotadas em Manhattan – além do grid – até a II GM eram ínfimas próximas às da atualidade, hoje uma cidade “comportada”. Mas o que aconteceu durante o século que Manhattan atraiu centenas de milhares de imigrantes buscando os céus para acomodá-los? De que forma se desenvolveu uma cidade livre, onde o urbanista sai da cena para abrir espaço aos arquitetos? “Nova Iorque Delirante” faz o leitor mais cético respeitar o “manhattanismo”, tornando-se mais aberto ao experimental, ao radical e a uma cultura da congestão.<br />
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Onde encontrar: <a href="http://editora.cosacnaify.com.br/Loja/PaginaLivro/10858/Nova-York-delirante.aspx">Cosac Naify</a>, <a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=11017971&ranking=1&p=nova%20york%20delirante&typeclick=3&ac_pos=header&origem=ac">Livraria Cultura</a> <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOZOc10AWMskNwyrNoUtrVKUvChdOH6bLs6gSteV00Lu2bOtBO2IRyqlvsHmzRIEd077F4g7nwrmAQhE0lBKepjwkRfuKsG5PXdg9zpmGb1eU9QclRfKIaZGFFMNfoagACOqQGjzN-rg22/s1600/ZZ1808491D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOZOc10AWMskNwyrNoUtrVKUvChdOH6bLs6gSteV00Lu2bOtBO2IRyqlvsHmzRIEd077F4g7nwrmAQhE0lBKepjwkRfuKsG5PXdg9zpmGb1eU9QclRfKIaZGFFMNfoagACOqQGjzN-rg22/s1600/ZZ1808491D.jpg" height="200" width="150" /></a><br />
<b><span style="font-size: large;">The Gated City</span></b>, Ryan Avent (sem tradução para o português)<br />
<div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>“The residents of America’s productive cities fear change in their neighborhoods and fight growth. In doing so they make their cities more expensive and less accessible to people with middle incomes.”</i></blockquote>
Cidadãos urbanos normalmente gostam não só de imóveis mais baratos mas dos atrativos e atributos de que uma cidade é feita: possibilidades de emprego, lazer, educação e serviços de todo tipo. No entanto, sempre que surge a oportunidade de trazer essas características para a cidade – construindo novas unidades para acomodar mais gente – aqueles que moram próximo dessas construções normalmente fazem o possível para impedir sua execução.<br />
<br />
A grande contribuição de Ryan Avent para a literatura de urbanismo com este pequeno livro (disponível apenas para Kindle) é mostrar como funciona o mercado imobiliário e quais os efeitos não intencionais de restrições de oferta à moradia. A ideia central é de que impedir a construção de mais unidades (ou “NIMBYism”, “Not in My BackYard”) torna as cidades cada vez mais parecidas com condomínios fechados, exclusiva à população de fora já que é impossível acomodar mais gente, uma “Cidade Cercada”, na tradução literal do título.<br />
<br />
Onde encontrar: <a href="http://www.amazon.com/The-Gated-City-Kindle-Single-ebook/dp/B005KGATLO">Amazon</a> <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6Y5jnGg5bltAIQ8g01GWzUvUehlHgsAb2WHmuQD2Yr-JqAAcUD_9X0T7Kz-jJH4EDExApvaZxBPc1vPMQj8668O3q6t6d_FULMry7UTb405lq-8VAhUWpCZxpPj6IqEfxxQ6548d-f-Ds/s1600/voluntary_city_1800.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6Y5jnGg5bltAIQ8g01GWzUvUehlHgsAb2WHmuQD2Yr-JqAAcUD_9X0T7Kz-jJH4EDExApvaZxBPc1vPMQj8668O3q6t6d_FULMry7UTb405lq-8VAhUWpCZxpPj6IqEfxxQ6548d-f-Ds/s1600/voluntary_city_1800.jpg" height="200" width="133" /></a><br />
<b><span style="font-size: large;">The Voluntary City</span></b>, edição de David T Beito, Peter Gordon, Alexander Tabarrok (sem tradução para o português)<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>“Developers were able to tailor the extent of their providing “public goods” via covenant to the nature and scope of local demand, as well as account for other factors such as land and building costs. This is in marked contrast to the rigidity and fixity of state attempts to supply these goods through public planning, zoning laws, and the like. The flexibility also extended to the enforcement of covenants. Landlords and developers would often not enforce the building clause in a lease when demand for land was slack, as long as the rent was paid.”</i></blockquote>
</div>
<div>
Este livro serve como um poderoso suporte histórico para a teoria de urbanismo emergente, ausente de um planejamento centralizado. O livro é um compêndio de textos que viajam pelo mundo mostrando diferentes experiências de urbanização emergente ou “voluntária”, explicando os benefícios e os problemas encontrados durante cada um dos processos. Os exemplos são de extrema utilidade para traçar paralelos à urbanização brasileira e, ainda, embasar ideias com exemplos reais.<br />
<br />
Um dos meus artigos prediletos é o primeiro, “Laissez-faire Urban Planning”, por Stephen Davies. Ele traça o panorama histórico do crescimento de cidades britânicas e principalmente de Londres, uma das minhas cidades favoritas, que cresceram de forma descentralizada como uma sucessão de loteamentos, bairros privados e projetos arquitetônicos em várias escalas. Londres não só era ausente de um plano geral como muitos dos seus bairros com toda sua infraestrutura eram construídas na ausência do setor público, uma série de projetos privados de tudo quanto é tipo. Quem diria que o West End e Nottingham eram, na verdade, empreendimentos imobiliários?<br />
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Onde encontrar: <a href="http://www.amazon.com/The-Voluntary-City-Community-Society/dp/1598130323">Amazon</a> e <a href="http://www.amazon.com/The-Voluntary-City-Community-Society/dp/1598130323">Livraria Cultura</a> <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK8C0Wuq2O7Wt6OAqCIY4r1RC8n-94nHyCxGxXw875h0lL3hBlJTbeKZzbi_5rnWDfySJv718o7nNNm8phwJEaOyaD0gUj_sNc8xuH6Rjhme4_XUlcAt1pSOp3XwsI8vRtlllMO0EA14_o/s1600/653023.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK8C0Wuq2O7Wt6OAqCIY4r1RC8n-94nHyCxGxXw875h0lL3hBlJTbeKZzbi_5rnWDfySJv718o7nNNm8phwJEaOyaD0gUj_sNc8xuH6Rjhme4_XUlcAt1pSOp3XwsI8vRtlllMO0EA14_o/s1600/653023.jpg" height="200" width="142" /></a><br />
<b><span style="font-size: large;">Os Centros Urbanos: A maior invenção da humanidade</span></b>, Edward Glaeser<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>“A força que advém da colaboração humana é a verdade central por trás do sucesso da civilização e o principal motivo da existência de cidades. Para entender melhor as cidades e o que fazer com elas, precisamos nos apegar a essas verdades e nos desfazer de mitos prejudiciais. Precisamos descartar a visão de que o ambientalismo significa viver ao redor de árvores e que os urbanistas devem sempre lutar para preservar o passado físico da cidade. Precisamos parar de idealizar a casa própria que favorece loteamentos de casas nos subúrbios, em detrimento dos edifícios de apartamentos, e parar de romantizar as vilas rurais. Devemos evitar a visão simplistas de que a melhor comunicação a longa distância reduzirá nosso desejo e nossa necessidade de estar perto uns dos outros. Acima de tudo, devemos nos libertar de nossa tendência de ver as cidades como sendo suas edificações e lembrar que a cidade real é constituída de gente e não de concreto.”</i></blockquote>
Best-seller do New York Times, com este livro Ed Glaeser se tornou uma das maiores referências vivas do urbanismo contemporâneo e um dos meus urbanistas prediletos. Através de uma viagem pelas principais cidades do planeta, Glaeser quebra lendas urbanas que normalmente impedem a urbanização, respondendo questões controversas como “O que há de tão bom sobre os arranha-céus?” e “Não há nada mais ecológico que o asfalto?” com respostas embasadas, elegantes e, no fim, mais pragmáticas que controversas. <br />
<br />
Com este livro aprendemos que grande parte do sucesso da humanidade está nas grandes cidades, que nos tornam “mais ricos, inteligentes, saudáveis e felizes”, e não o contrário como muitos imaginam. No entanto, para que isso aconteça é necessário perder nossos medos irracionais relacionados ao adensamento, à verticalização e à urbanização propriamente dita para, enfim, permitir que a cidade aconteça. A clareza, eloquência e embasamento acadêmico de Glaeser torna “Triumph of the City” (seu título em inglês) uma leitura obrigatória para aqueles que estudam as cidades, e não tenho dúvidas de que ele se tornará um clássico no futuro. <br />
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Onde encontrar: <a href="http://www.elsevier.com.br/site/produtos/Detalhe-Produto.aspx?tid=2903&seg=7&cat=200&tit=OS%20CENTROS%20URBANOS:%20A%20MAIOR%20INVEN%C3%87%C3%83O%20DA%20HUMANIDADE">Elsevier</a>, <a href="http://www.casasbahia.com.br/Os-Centros-Urbanos-a-Maior-Invencao-da-Humanidade-349524.html?utm_source=buscape&utm_medium=comparadorpreco&utm_campaign=Livros_Sociologia&utm_content=349524&cm_mmc=buscape_XML-_-LIVR-_-Comparador-_-349524">Casas Bahia</a><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijFKZy3zQ02uf5TPfnHCUZuabQD-ixSkb6xl8pHJ6bbcX881qZ0blrZM6XbKjfiTIafPmhBXZ2Z4PbmxI2a_77ValQHJ8Grif7f8Ru2l0CFL6-kliXpv4DIxyUeuWLUgaVY-WDfyklr-gw/s1600/cidades72OK.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijFKZy3zQ02uf5TPfnHCUZuabQD-ixSkb6xl8pHJ6bbcX881qZ0blrZM6XbKjfiTIafPmhBXZ2Z4PbmxI2a_77ValQHJ8Grif7f8Ru2l0CFL6-kliXpv4DIxyUeuWLUgaVY-WDfyklr-gw/s1600/cidades72OK.jpg" height="200" width="145" /></a><br />
<b><span style="font-size: large;">Morte e Vida das Grandes Cidades</span></b>, Jane Jacobs<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>“Tratar de uma cidade, ou mesmo de um bairro, como se fosse um grande problema arquitetônico, capaz de ser resolvido através de um trabalho disciplinado de arte, é cometer o erro de tentar substituir a vida pela arte. Os resultados de tão profunda confusão entre arte e vida não são nem arte, nem vida. Eles são taxidermia.”</i></blockquote>
Este livro é, sem dúvida, um dos livros mais influentes da história do urbanismo e o mais influente no pensamento contemporâneo sobre cidades. Jane Jacobs, uma jornalista canadense morando em Nova Iorque, mostra seu entendimento sobre grandes cidades através das suas próprias observações e vivências urbanas, tornando-se a maior crítica do planejamento urbano modernista do início do século XX, de representantes como Lúcio Costa, Le Corbusier ou Robert Moses.<br />
<br />
Através dessas observações, Jacobs denuncia em linguagem direta e auto-didata como as grandes interferências autoritárias dos urbanistas nas cidades construindo viadutos, destruindo patrimônio histórico e bairros inteiros para construir guetos de habitação pública eram as principais causas dos problemas que as cidades estavam enfrentando. Jacobs era uma defensora de uma cidade mais espontânea, admirando no seu texto o crescimento orgânico das cidades antigas, a vida nas ruas, o “balé complexo”. Nesse sentido, o ponto focal de suas ideias se assemelha às do economista Friedrich Hayek, evidenciando a impossibilidade da compreensão e do controle de uma construção coletiva, descentralizada e complexa. <br />
<br />
Vale apontar que ela não se considerava uma “liberal”, mas entendia e valorizava o funcionamento do mercado em quase todos aspectos da cidade, um processo emergente assim como uma cidade. Em entrevista à revista Reason ela colocou objetivamente que gostaria de ver maior liberdade no setor de transportes, restritos pelos monopólios de grandes ônibus, e na revitalização de bairros históricos, que muitas vezes ficam congelados por legislações nada relacionadas à preservação propriamente dita.No entanto, a sua convicção pela participação popular, sua luta pela preservação de bairros contra arranha-céus e suas críticas aos grandes projetos que se beneficiavam com subsídios públicos e desapropriações a tornou um símbolo de arquitetos, urbanistas e ativistas de ideologias de esquerda. Paradoxalmente sua obra incentivou novos movimentos que pregam o regramento e a autoridade na cidade – desde que ela seja a autoridade “certa”, como defende todo planejador. Muitos dos leitores de “Morte e Vida” interpretam as qualidades urbanas que ela descreve como normas para a elaboração de planos – incorporadas em grande parte no desenvolvimento do novo Plano Diretor de São Paulo, por exemplo. Ou seja, ao invés de abraçar a questão central das ideias de Jacobs de um urbanismo mais espontâneo e descentralizado, muitos hoje citam as qualidades urbanas evidenciadas por Jacobs para justificar diretrizes rígidas de planejamento que supostamente gerariam aquele resultado: taxidermia.<br />
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Onde encontrar: <a href="http://www.martinsfontespaulista.com.br/ch/prod/423056/434/0/MORTE-E-VIDA-DE-GRANDES-CIDADES.aspx">Martins Fontes</a>, <a href="http://livraria.folha.com.br/livros/artes-e-arquitetura/morte-vida-grandes-cidades-jane-jacobs-1178023.html">Livraria da Folha</a></div>
Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-66250873595599118982014-05-28T19:24:00.002-03:002014-05-28T19:25:41.268-03:00Construindo comunidades com "Urbanismo Enxuto"<i>Esta é uma tradução do artigo "<a href="http://www.modeldmedia.com/features/Duany22514.aspx">Andres Duany: Community building through 'Lean Urbanism</a>'", escrito pelo urbanista Andres Duany, sócio e fundador do Duany Plater-Zyberk & Co., presidente do Center for Transect Studies, um dos criadores do Novo Urbanismo e hoje liderando o projeto de <a href="http://leanurbanism.org/">Lean Urbanism, ou Urbanismo Enxuto</a>.</i><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiv40jIXYbYhqOF0XOtHTPPID8BuGcgVFIEWm0bH_LxVtCIrQRsIPzHJb4ecnJTaIBrByLjidaVkn2WKW3AInkEeBjG2jQKNTaM6X_AV86eH2O5wkEBea85RajsptP3JAqk7ka5o8SzIKhu/s1600/lean.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiv40jIXYbYhqOF0XOtHTPPID8BuGcgVFIEWm0bH_LxVtCIrQRsIPzHJb4ecnJTaIBrByLjidaVkn2WKW3AInkEeBjG2jQKNTaM6X_AV86eH2O5wkEBea85RajsptP3JAqk7ka5o8SzIKhu/s1600/lean.JPG" height="184" width="320" /></a></div>
Como arquiteto e urbanista, estive imerso na tarefa de projetar comunidades por quase 40 anos. Esses projetos foram baseados nos princípios do Novo Urbanismo. Essa estratégia já bem estabelecida se foca em criar bairros bons e práticos de se caminhar, junto de espaços públicos vivos e prédios de uso misto, enquanto apoia políticas nacionais para fazer essas vibrantes comunidades urbanas parte do cotidiano das pessoas.<br />
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Na outra ponta do espectro tem-se o Urbanismo Tático, um movimento emergente que busca criar mudança através de intervenções improvisadas no espaço público, como, por exemplo, os parques <i>pop-up</i>. O trabalho aqui normalmente foca o curto prazo.<br />
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Entre esses dois existe outro modelo, o "Urbanismo Enxuto", que se concentra em revitalizar as cidades através da busca de mecanismos que possibilitem a participação das pessoas na construção da comunidade - especificamente através da possibilidade que qualquer um possa efetivamente fazer parte da mudança. O apoio da Knight Foundation ao Projeto de Urbanismo Enxuto nos ajudará a criar ferramentas e técnicas ao longo dos próximos três anos para facilitar a participação das pessoas na formação de suas comunidades.<br />
<br />
Detroit, uma das comunidades onde a Knight Foundation investe, serve bem de exemplo. Devido à dificuldade orçamentária que passa a cidade, a burocracia tem diminuído. Existem, na verdade, duas Detroits. Há, é claro, propriedades abandonadas, mas também existem pessoas fazendo com que essas propriedades se transformem em algo útil.<br />
<br />
Mas como a revitalização está acontecendo? Da maneira antiga, aparentemente, através daquela mesma sequencia que sempre alimentou o ciclo das cidades: surgem a atividade não sancionada de artistas com um bom olho, os jovens sem dinheiro e com um espírito de aventura e os pequenos empreendedores que costumavam ser chamados de boêmios. Esses foram os pioneiros de Greenwich Village na década de 1920, Miami Beach nos anos 80 e do Brooklyn agora. Eles são a primeira onda de uma sequencia que obtém sucesso por debaixo do controle burocrático. Podemos classifica-los como <i>alheios ao risco</i>. Em seguida, quando o bairro já está desenvolvido, chegam os <i>cientes do risco</i>. Esses são os construtores e donos de negócios que asseguram os alvarás, hipotecas e garantias necessárias aos seus objetivos. E por fim, quando se torna óbvio que o lugar é seguro para se investir, chegam os <i>aversos ao risco</i> – os gentrificadores chamados de “dentistas de New Jersey”.<br />
<br />
Detroit é agora um lugar onde jovens da geração Y, <i>alheios ao risco</i>, podem fazer as coisas acontecerem. Fazer isso é muito difícil na maioria dos lugares por causa das regulamentações e burocracias que, por exemplo, tornam impossível assar um biscoito e vende-lo sem uma cozinha certificada pelo órgão responsável, um banheiro acessível e constantes inspeções governamentais. A burocracia exterminou a maneira livre e despreocupada que permitiu que os boêmios habitassem um lugar de forma orgânica. Nós de mais idade não percebemos o problema porque muitos de nós cresceram em meio a um grande aumento nas regulamentações. Jovens, contudo, ficam confusos e são repelidos por esse sistema.<br />
<br />
Em Detroit, funcionários do município não podem nem mais supervisionar luzes das ruas, muito menos atividades econômicas lucrativas. Há menos burocracia. Então os jovens estão imigrando em massa para começarem seus negócios, repararem os edifícios, viverem com um custo acessível, organizarem sua própria segurança e inventarem suas diversões. O Projeto para Urbanismo Enxuto está procurando formas de permitir que esse tipo de atividade se desenvolva também em outros lugares.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwIfy6zPuOWmb41W_O_EPtVL6lH7uGaJIO55Gj1sV6w5t6RnBqtACKBOJ2mSRzMtwqVWIhV3g7-MNqNh5imhwjFx6U9YE-Wn_Y_dXqxaPw95A5TcDCCJirf9mlMXn1ounV9vo6t4FOCV2C/s1600/Screen+Shot+2014-02-23+at+11.41.53+AM.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwIfy6zPuOWmb41W_O_EPtVL6lH7uGaJIO55Gj1sV6w5t6RnBqtACKBOJ2mSRzMtwqVWIhV3g7-MNqNh5imhwjFx6U9YE-Wn_Y_dXqxaPw95A5TcDCCJirf9mlMXn1ounV9vo6t4FOCV2C/s1600/Screen+Shot+2014-02-23+at+11.41.53+AM.png" height="232" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwIfy6zPuOWmb41W_O_EPtVL6lH7uGaJIO55Gj1sV6w5t6RnBqtACKBOJ2mSRzMtwqVWIhV3g7-MNqNh5imhwjFx6U9YE-Wn_Y_dXqxaPw95A5TcDCCJirf9mlMXn1ounV9vo6t4FOCV2C/s1600/Screen+Shot+2014-02-23+at+11.41.53+AM.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><br /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwIfy6zPuOWmb41W_O_EPtVL6lH7uGaJIO55Gj1sV6w5t6RnBqtACKBOJ2mSRzMtwqVWIhV3g7-MNqNh5imhwjFx6U9YE-Wn_Y_dXqxaPw95A5TcDCCJirf9mlMXn1ounV9vo6t4FOCV2C/s1600/Screen+Shot+2014-02-23+at+11.41.53+AM.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><br /></a><br />
Na maioria das cidades, devido ao fato das regulamentações terem acabado com a primeira fase orgânica da revitalização, a segunda onda, a dos construtores e desenvolvedores, precisa ser atraída de alguma forma – e para tal os governos subsidiam seus projetos caros e dependentes de uma burocracia favorável. Esse é motivo pela qual as parcerias público-privadas cresceram ao longo dos últimos 20 anos e os grandes empresários obtiveram diversos privilégios em detrimento dos pequenos empreendedores. Mas isso não precisa ser assim.<br />
<br />
Detroit tem restaurado a sequência orgânica. Os desenvolvedores estão seguindo os jovens. Grandes desenvolvedores como <a href="https://twitter.com/cavsdan">Dan Gilbert</a> estão renovando grandes prédios e alugando-os para potenciais inquilinos, mostrando-lhes que a mão de obra que necessitam já se encontra no lugar. O Projeto para Urbanismo Enxuto pretende restaurar esse processo.<br />
<br />
Por existirem menos impedimentos, Detroit – uma cidade sem riquezas – permite que seus imigrantes construam riquezas. Quando o inspetor de uma construção diz “vão em frente, crianças; só cuidem para não se machucar”, temos uma situação similar a que encontramos na minha época de Baby Boomer, quando éramos jovens em lugares como South Beach e Seaside, Flórida, e criamos, em 1980, a primeira cidade baseada nos princípios do Novo Urbanismo. Nós éramos autorizados a criar e fazer as coisas acontecerem. Se os impedimentos burocráticos de hoje existissem naquela época, nós acabaríamos nos entregando a eles, pois nós também éramos ingênuos.<br />
<br />
Detroit é um fragmento do mundo virgem do século XIX e um modelo para o trabalho que estamos fazendo. Ela representa uma mina de ouro para os jovens, os imigrantes, os criadores, os proprietários de pequenos negócios – pessoas que têm energia para trabalhar para elas mesmas e que se tornam rebeldes quando confrontadas com uma falta de bom senso institucionalizada.<br />
<br />
Usaremos convenções e estudos de caso, como o que está acontecendo em Detroit, para elaborar ferramentas e então testá-las em projetos piloto. O apoio da Knight Foundation vai nos permitir compartilhar livremente o conhecimento que adquirirmos desses experimentos.</div>
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Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-86173633408477191192014-05-19T18:37:00.000-03:002014-05-19T18:40:52.618-03:00Densidade não se desenha<i>Esta é uma tradução do artigo "<a href="http://urbanizationproject.org/blog/density-is-not-a-design-decision#.U3e4ivldXC8">Density is Not a Design Decision</a>" escrito pelo economista <a href="http://alainbertaud.com/">Alain Bertaud</a>, ex-urbanista chefe do Banco Mundial e que está escrevendo o livro de título tentativo "Order Without Design"</i><br />
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Joel Kotkin, em <a href="http://www.newgeography.com/content/003938-city-leaders-are-love-with-density-most-city-dwellers-disagree">seu mais recente post</a>, fez algumas críticas aos “adensadores”. Kotkin caracteriza os urbanistas pró-desenvolvimento, como o prefeito de NY Michael Bloomberg, de sonhadores de um “futuro onde os residentes urbanos vivem abarrotados cada vez mais próximos uns dos outros”. Em contrapartida, ele defende desenvolvimento de baixa densidade, argumentando que é mais benéfico para a humanidade e que melhor reflete as verdadeiras preferências das pessoas. É um post interessante que possui alguns pontos importantes, mas, em última análise, peca na sua conclusão.<br />
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O debate alta densidade vs. baixa densidade é uma distração. Prefeitos, planejadores, professores e comentaristas não deveriam venerar nem o altar da baixa densidade, nem o da alta densidade. Em economias de mercado, planejadores são incapazes de “projetar alta densidade”. A alta densidade só acontece quando os consumidores possuem uma forte preferência por um determinado local. Projetar através de regulamentação pode manter as densidades baixas, por exemplo, com um tamanho mínimo de unidade ou lote, mas o prefeito de Nova Iorque não pode “adensar” a cidade através de um decreto – se a demanda for inexistente, os construtores não irão levantar torres onde ninguém quer viver (a não ser que eles construam para uma clientela garantida, como no caso de habitações públicas).<br />
<div>
<br /></div>
Não há motivos pra planejar nem uma diminuição e nem um aumento da densidade das cidades. Quando tratamos de densidades, o mercado faz um bom trabalho de refletir as preferências das pessoas. A densidade nada mais é do que um indicador de consumo da terra. Terrenos com preços altos tendem a refletir a preferência dos consumidores por uma localização específica (apesar de que em alguns casos o preço alto é reflexo das regulamentações de uso que acabam artificialmente limitando a oferta). Nos lugares onde a terra é cara, o preço por metro quadrado das moradias será maior. Não é nenhuma surpresa então que as pessoas comprem menos terra e espaço onde o preço é alto, o que acaba gerando maiores densidades.<br />
<div>
<br /></div>
Críticos e comentaristas costumam confundir densidade com o Índice de Aproveitamento de um terreno. Essa proporção é a razão da área construída pela área total do terreno. Esse valor ser grande (como em prédios altos) não é equivalente a existir uma alta densidade. Em Mumbai, as áreas mais densas (número de pessoas por hectare) se encontram em favelas horizontais e não em altos prédios. Em Shangai, onde a proporção da área construída mais do que triplicou desde os anos 80, a densidade caiu aproximadamente 20%.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibCs5OJVrqSaPYorStg8QlMGe46c2jE6dbOKRYJyqjoT_FuoA0qXRCy8J2X1Nt9nQrvMdmX-THkW4MlsK-DaQeNyRou_IIXdEEp6w1GzLvJj4vbB6Dp7H_Chxk4Yuu6qdUJDpOFW-jEHff/s1600/densidade.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibCs5OJVrqSaPYorStg8QlMGe46c2jE6dbOKRYJyqjoT_FuoA0qXRCy8J2X1Nt9nQrvMdmX-THkW4MlsK-DaQeNyRou_IIXdEEp6w1GzLvJj4vbB6Dp7H_Chxk4Yuu6qdUJDpOFW-jEHff/s1600/densidade.jpg" height="243" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Shangai e Mumbai: qual é a cidade mais densa?</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div>
Esse decréscimo em densidade, mesmo com o aumento do número de prédios altos, é o que meu colega Shlomo Angel mostra de forma magistral em seu livro, Planet of Cities (citado no post de Kotkin). As baixas densidades observadas em Houston existem por causa das escolhas dos consumidores e por causa da abundância na oferta de terra. Já em Hong Kong temos altas densidades devido a uma forte restrição na oferta de terra graças à topografia do lugar e por causa das preferências dos consumidores. Moradias são baratas nos novos territórios de Hong Kong, mas existem algumas pessoas que preferem gastar uma fortuna para viver perto do Star Ferry.</div>
<div>
<br /></div>
Índices de Aproveitamento são muito restritos por regulamentações. O que o prefeito Bloomberg queria fazer em Midtown, em Manhattan, era afrouxar essas regulamentações e deixar o mercado decidir qual densidade deveria existir ali. E não há nada de errado com isso. Qualquer pessoa que prefira uma baixa densidade é livre para morar em Nova Jersey, como eu mesmo o faço.<br />
<div>
<br /></div>
Eu certamente não defendo densidades altas, da mesma forma que eu não defendo beber vinho ao invés de beber cerveja. É claro que tenho minhas preferências pessoais, mas fico perplexo com o quanto aqueles que são apaixonados por altas ou baixas densidades estão dispostos a criar políticas baseadas nessa preferência pessoal. Nos lugares onde não há a onerosidade gerada pelas regulamentações de uso da terra, o mercado fará um bom trabalho de refletir as preferências das pessoas sobre a densidade urbana – veremos baixas densidades em Houston e altas densidades em Hong Kong. Nenhum desses resultados é inerentemente superior ao outro.<br />
<div>
<br /></div>
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<i>Tradução por Thiago Alminhana</i></div>
<div>
<i>Revisão por Anthony Ling</i></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-68497031157345578512014-05-16T19:30:00.000-03:002014-05-16T20:28:54.429-03:00Você sabe o que é "especulação imobiliária"?A especulação imobiliária é definitivamente a maior vilã apontada por aqueles que hoje estudam, habitam ou simplesmente se interessam por cidades. Ela recebe a culpa de praticamente todos os problemas urbanos: se a cidade é <a href="http://revistatrip.uol.com.br/revista/218/reportagens/o-medo-mora-dentro.html#9">muito densa</a>, se é <a href="http://raquelrolnik.wordpress.com/2013/08/27/manifesto-de-urbanistas-sobre-a-minuta-do-plano-diretor-de-sp/">pouco densa</a>, se tem <a href="http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-monotrilho-e-uma-solucao-para-o-transito-de-sao-paulo/">tem muito trânsito</a>, se <a href="http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/10/131007_itaquerao_lk.shtml">é muito cara</a>, <a href="http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/cidades-para-pessoas/2012/03/14/quem-manda-em-sao-paulo/">se a política municipal é corrupta</a>, <a href="http://www.condominios.com.br/sitecond/noticias/noticias/cb161201b.htm">se pobres são excluídos às periferias</a>, <a href="http://urbanidades.arq.br/2008/09/o-que-e-especulacao-imobiliaria/">se empresas lucram com investimentos públicos</a>, <a href="http://urbanidades.arq.br/2008/09/o-que-e-especulacao-imobiliaria/">se a infraestrutura pública está ociosa</a>, <a href="http://camocimpotedehistorias.blogspot.com.br/2013/09/iii-sc-14-especulacao-imobiliaria.html">se o patrimônio histórico é destruído</a>, <a href="http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/guia-da-baixa-gastronomia/como-a-especulacao-imobiliaria-vai-demolindo-o-cotidiano-do-agua-verde/">se prédios transformam o visual da cidade</a>, <a href="http://rollingstone.uol.com.br/edicao/56/arquitetura-da-destruicao">se favelas são incendiadas</a>. A lista é interminável.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM0nMVND_w-hohG-CS-ymtJqKZG2JVpf6RQ4fc-rQRbmjqbUSkAPWubaQrJwaqz5f02kbsFT9C7zut34hvDKWas-os4QBm7h4OoSchFdtQcrAcAT6-RwXmDVSRloRt3OT5xza-MRWTFy1H/s1600/Especula%C3%A7%C3%A3o+imobili%C3%A1ria+(1).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM0nMVND_w-hohG-CS-ymtJqKZG2JVpf6RQ4fc-rQRbmjqbUSkAPWubaQrJwaqz5f02kbsFT9C7zut34hvDKWas-os4QBm7h4OoSchFdtQcrAcAT6-RwXmDVSRloRt3OT5xza-MRWTFy1H/s1600/Especula%C3%A7%C3%A3o+imobili%C3%A1ria+(1).jpg" height="300" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Edifícios esmagando casas: um uso equivocado do termo "especulação imobiliária"</td></tr>
</tbody></table>
Ítalo Calvino, ao descrever a atividade de forma satírica no seu livro "Especulação Imobiliária" colocou o personagem do especulador Sr. Caisotti como um esperto, sem educação e sem escrúpulos de transformar as históricas cidades italianas em infernais selvas de pedra com temas comerciais. No entanto, é muito raro encontrar um interlocutor - mesmo o próprio Ítalo Calvino - que sabe explicar exatamente o que significa especulação imobiliária, apesar de apontá-la como a causa de um determinado problema. Assim nasce o bode expiatório perfeito: um termo pouco compreendido, amplamente aceito como um argumento válido e que conclui com pouco esforço a origem de problemas urbanos complexos.<br />
<div>
<br />
Eu normalmente não gosto de discorrer sobre o significado de termos, mas o uso deste se tornou tão amplo, tão mal utilizado e, ainda, concluindo problemas longe de estarem resolvidos, que achei essencial tornar o assunto mais claro. O uso indiscriminado de "especulação imobiliária" para os problemas da cidade se torna extremamente prejudicial para um debate sério e racional sobre urbanismo.<br />
<br />
<b>O que significa?</b><br />
<b><i><br /></i></b>
<b><i>Especular</i></b> nada mais é do que uma aposta, um "chute", com risco de estar errado, de um determinado resultado, um termo que usamos no nosso dia a dia com certa frequência. Diz a manchete de uma <a href="http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/brasileiro/serie-b/ultimas-noticias/2013/11/04/dado-cavalcanti-desmente-especulacoes-e-descarta-saida-do-time-do-parana.htm">reportagem</a> sobre algumas apostas (provavelmente não envolvendo dinheiro, mas não necessariamente) em relação à futura posição de um técnico de um time de futebol:<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Dado Cavalcanti desmente <b>especulações</b> e descarta saída do time do Paraná"</i></blockquote>
Um uso natural e correto da palavra dentro do seu contexto, grifos meus.<br />
<br />
Quando se usa o termo para investimentos seu significado se torna um pouco mais preciso, mas não perde sua essência. Um especulador é aquele investidor que compra um determinado recurso apostando no seu valor futuro, seja qual ele for: uma <i>commodity</i>, ações de uma empresa, moeda ou, enfim, <b>imóveis</b>. Quando "aplicamos" em ações de empresas na bolsa de valores estamos, em essência, sendo especuladores: na maioria das vezes não se espera obter lucro a partir dos pequenos dividendos nem mesmo ajudar a aumentar o valor delas envolvendo-se nos assuntos da empresa, mas simplesmente esperar que seu valor aumente para que elas sejam, no futuro, vendidas com lucro. Novamente: uma aposta no valor futuro, sem qualquer tipo de ação sobre o recurso, com risco de estar errado.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXQCZH0D1-2L-oGHUCYnYi63S_iyVq10zVCl56p3M2EMo9Q7aMeiubFo2aAX3c3n1Am6QFjUwNXcAXObkTHi2TbReHTdHM7YJhWzVLQ0ijiDWTOSyuyHKfQB61AP5VMioCmQcYKMdUSUiQ/s1600/especula%C3%A7%C3%A3o.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXQCZH0D1-2L-oGHUCYnYi63S_iyVq10zVCl56p3M2EMo9Q7aMeiubFo2aAX3c3n1Am6QFjUwNXcAXObkTHi2TbReHTdHM7YJhWzVLQ0ijiDWTOSyuyHKfQB61AP5VMioCmQcYKMdUSUiQ/s1600/especula%C3%A7%C3%A3o.JPG" height="255" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">
Apesar de bem intencionadas, as donas desta escola de música não sabem o que é</div>
<div style="text-align: left;">
"especulação imobiliária" [<a href="http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/03/1428884-escola-de-musica-coloca-faixa-protesto-contra-especulacao-e-corretores.shtml">Fonte</a>]</div>
</td></tr>
</tbody></table>
Alguém que <i>especula em ativos imobiliários</i>, ou apenas "especulador imobiliário", é, assim, aquele que aposta no valor futuro de um determinado imóvel, desde uma sala comercial até um terreno vazio, sem intenção de utilizá-lo para nenhuma finalidade específica. Um especulador imobiliário pode até apostar na desvalorização de um imóvel através de um <a href="http://www.portaldoinvestidor.gov.br/menu/Menu_Investidor/derivativos/mercado_futuro.html">contrato futuro</a>, mas essa situação é pouco usual. A forma mais comum de especulação imobiliária é a de comprar um imóvel na esperança da sua valorização, para vendê-lo no futuro com lucro.<br />
<br />
Vale lembrar que é muito comum confundir "especulador imobiliário" com "incorporador imobiliário". No desenho acima vemos um grande edifício esmagando casinhas com a legenda "especulação imobiliária". No entanto, o especulador apenas espera e nada constrói, sendo esta a atividade do incorporador. Especuladores podem, no entanto, investir em parte de um empreendimento (podem especular em apartamentos "na planta", por exemplo), para tentar vendê-los no futuro.<br />
<br />
A especulação transfere parte do risco do incorporador e todo o risco de futuros moradores para o especulador, pois não precisam investir desde o início da obra. Redução de riscos significam uma contribuição para diminuir os preços para o morador final. Além desse papel, eles aumentam a liquidez - facilidade de vender - pois aumentam o número de compradores no mercado. Com mais especuladores imobiliários, proprietários de imóveis tem mais opções de compradores, <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Speculation#Market_liquidity_and_efficiency">contribuindo para a eficiência deste mercado</a>.<br />
<br />
Recentemente as donas de uma escola de música do bairro Itaim Bibi, em São Paulo, foram reconhecidas pela mídia como uma "resistência" à especulação imobiliária ao recusarem venderem sua casa. No entanto, apesar de serem bem intencionadas, sua atitude mostra que não sabem o que especulação imobiliária significa. Ao impedir o desenvolvimento de um imóvel de uma região extremamente demandada e abastecida de infraestrutura urbana, elas mesmas podem ser consideradas especuladoras, pois podem estar aguardando uma valorização ainda maior do seu terreno para aumentar os seus lucros em uma venda futura.<br />
<br />
Apesar de termos definido o termo "especulação imobiliária" as críticas permanecem. Abordamos abaixo algumas delas:<br />
<br />
<b>Especulação imobiliária expulsa comunidades?</b><br />
<b><br /></b>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiESQptg3p9euHREufkdFV-arrqeBkErtswtlGBpCOg4uyoSdAROVLgbbdKBiOLs3gUdlEpu5dsHORC4gEPb1W61LVw5RyK7JhrKmVlbaWofSBywyhBGHyBcIivZZHueLc1DPsqo_VEkFHS/s1600/carlos+latuff+-+especula%C3%A7%C3%A3o+imobiliaria.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiESQptg3p9euHREufkdFV-arrqeBkErtswtlGBpCOg4uyoSdAROVLgbbdKBiOLs3gUdlEpu5dsHORC4gEPb1W61LVw5RyK7JhrKmVlbaWofSBywyhBGHyBcIivZZHueLc1DPsqo_VEkFHS/s1600/carlos+latuff+-+especula%C3%A7%C3%A3o+imobiliaria.gif" height="272" width="320" /></a>A <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPMRs1LKYRcJrKyeIDyBwwemhVk7aUo4fnv6sCmD7bArBH1KsMwvntveFy448klgrm8PG_wtJ0qVodbeNf3GGedo1qSUhi6bDSYY1HMnHI3bUxDhdKF1ICSsBb4e84195nEUlp8JwAuTc/s1600/carlos+latuff+-+especula%25C3%25A7%25C3%25A3o+imobiliaria.gif">charge do cartunista Latuff </a>mostra o Prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes "limpando" os morros através dos especuladores imobiliários. No entanto, por definição, especuladores imobiliários não podem especular sobre os morros cariocas. É estimado que cerca de <a href="http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/Lei-aprovada-permitira-regularizacao-de-favelas-no-Estado-de-Sao-Paulo/5/12541">90% das comunidades brasileiras encontram-se em terrenos públicos</a>, sendo impossíveis comprá-los no mercado e apostar no seu valor futuro. A compra pode ser feita informalmente, barraco por barraco, mas entendo não é este o sentido implícito na charge. Além disso, seria um acontecimento raríssimo caso tenha acontecido.<br />
<br />
Alguns poderiam argumentar que, neste caso, o especulador imobiliário é o proprietário atual do terreno: o poder público, ou seja, o próprio Eduardo Paes. Por muitos anos o poder público permitiu os assentamentos mas criou leis que impedem o usucapião, aguardando a valorização. Hoje ele vende as áreas para incorporadores imobiliários. No entanto, estes terrenos não foram adquiridos pelo poder público no mercado imobiliário, como uma aposta, mas conquistados através da força e mantidos através do monopólio da força séculos atrás, o que enfraquece a coerência do uso do termo "especulação imobiliária" neste caso.<br />
<br />
<b>Especulação imobiliária deixa os imóveis mais caros?</b><br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtwofYwx-WriVUaRfQFs-saaHUVwsNPeojLSM6Qme8IDnfHdgsLZTWD6Cri3TQqD60yfvs2uv6H4A9Q2jJ334lE7GEL1X3b-4bbAUF6N-e2qLCgO3zUWTG4PYetpzIL0gcw4W-Wf1z1Vi2/s1600/especula%C3%A7%C3%A3o.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtwofYwx-WriVUaRfQFs-saaHUVwsNPeojLSM6Qme8IDnfHdgsLZTWD6Cri3TQqD60yfvs2uv6H4A9Q2jJ334lE7GEL1X3b-4bbAUF6N-e2qLCgO3zUWTG4PYetpzIL0gcw4W-Wf1z1Vi2/s640/especula%C3%A7%C3%A3o.JPG" height="153" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Fonte: <a href="http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/05/06/precos-de-imoveis-na-capital-paulista-devem-ficar-estaveis-segundo-especialistas.htm">UOL</a></td></tr>
</tbody></table>
Para responder essa pergunta devemos primeiro entender o que move os preços dos imóveis em uma cidade: ele não escapa da velha "lei da oferta e demanda". Os fatores fundamentais são a atratividade da cidade ou bairro em questão para novos moradores (<i>demanda</i>) em questão e a limitação do estoque de imóveis (<i>oferta</i>).<br />
<br />
Hoje estamos em um momento histórico para o mundo urbano, já que mais da metade da população mundial vive em cidades. Há um novo movimento migratório de zonas rurais e cidades industriais para as metrópoles e zonas metropolitanas, principalmente em países subdesenvolvidos. Nos países mais urbanizados o movimento se dá das cidades pequenas para as cidades grandes, dos subúrbios aos centros. O Brasil encontra-se entre estes estágios, com grande crescimento das periferias e zonas metropolitanas dada à limitação construtiva nas zonas centrais. Caso as cidades possuam uma oferta limitada de imóveis para uma demanda populacional crescente, os preços tenderão a aumentar.<br />
<br />
Indo para a escala do bairro vemos diversos fatores locais que atraem demanda por moradores: acesso à infraestrutura, qualidade social, ambiental e visual do entorno e a conectividade: tanto entre os moradores como entre eles e o resto da cidade. Tais qualidades podem levar a uma ótima disponibilidade de empregos, serviços e opções de entretenimento ou, por outro lado, qualidades habitacionais como silêncio, áreas verdes e boa incidência de sol. Isso explica porque bairros "revitalizados" sofrem aumento de preços, muitas vezes mesmo com aumento do estoque imobiliário: há um aumento em outras qualidades da região que aumentam sua atratividade e, assim, a demanda pela região supera o aumento da oferta, que ocorre em uma área "revitalizada" limitada.<br />
<br />
Em seguida há as limitações físicas e regulatórias que um determinado imóvel possui, normalmente referindo-se a terrenos. Se um determinado terreno é numa encosta talvez o valor dele seja próximo de zero, já que uma construção segura é muito custosa. Ao mesmo tempo, caso tecnologias surjam que possibilitem a ocupação seu valor aumentará, já que abre um novo leque de possibilidades para sua transformação. Barreiras regulatórias como limites de densidade, alturas, recuos, vagas de garagem, área construída, dificuldade de aprovação de projetos, existência de fauna, flora ou patrimônio histórico ou público que deve ser mantido também diminuem o valor de terrenos já que diminuem as possibilidades de transformação daquele espaço. Isto se torna evidente nas zonas centrais das grandes cidades, (ou "nobres", no caso do Rio de Janeiro não seria o "centro" mas sim a Zona Sul), que sofrem pressão da demanda por imóveis mas tem regulações muito rígidas, jogando os preços para cima. <a href="http://www.citylab.com/work/2011/09/dallas-austin-houston-san-antonio-texas-miracle/106/">Cidades que, de forma geral, possuem menos restrições à construção de novos imóveis, seja regulatórios ou geográficos, tem um equilíbrio maior na relação entre oferta e demanda por imóveis e, assim preços mais baixos</a>.<br />
<br />
O papel do especulador é tentar prever estes aumentos de demanda (que não necessariamente vão se realizar no futuro), para acertar o ponto ótimo de vendê-lo. Este "ponto ótimo" deve garantir não só o seu lucro como não deve vender para o primeiro interessado em incorporar qualquer coisa: o custo de vender o imóvel, construir uma primeira estrutura e demoli-la para atender uma demanda que cresce talvez seja alto, gerando um desperdício de recursos.<br />
<br />
No entanto, especuladores são seres humanos como nós, que não tem todo conhecimento do mercado e nem sempre agem racionalmente, podendo errar feio no tempo da venda destes imóveis. Iludidos por um mercado imobiliário em valorização, especuladores podem segurar imóveis esperando uma valorização ainda maior, gerando escassez artificial e contribuindo para o aumento dos preços. Isso pode gerar as chamadas "bolhas especulativas" - que eventualmente estouram, voltando para patamares de preços mais realistas e gerando grandes prejuízos para estes "jogadores" irresponsáveis.<br />
<br />
Ao observar estes efeitos, muitos clamam por atitudes do poder público para mitigar efeitos negativos da especulação como este. No entanto, o poder público também é formado por humanos como nós, que não tem todo conhecimento do mercado e nem sempre agem racionalmente. Além disso, ao seguirem os incentivos políticos do regime democrático, acabam <i>subsidiando </i>os especuladores com frequência e criando bolhas ainda maiores, como veremos adiante.<br />
<br />
<b>Especulação imobiliária é lucro garantido?</b><br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjvQkrXnOOYIu0bNy4THS5yvnNEE1DIU2Kba-zCjMJ6D6CevDMeWG9F7TkQZJ-kevT3tFx1RYYAzPRH0cpf3vTa_24Tee0_wVO3oX8-0cFs8-wrYpUBJm9BaYAsU825kRr0pgW6-GqZW7f/s1600/sewell-online-booking-chile-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjvQkrXnOOYIu0bNy4THS5yvnNEE1DIU2Kba-zCjMJ6D6CevDMeWG9F7TkQZJ-kevT3tFx1RYYAzPRH0cpf3vTa_24Tee0_wVO3oX8-0cFs8-wrYpUBJm9BaYAsU825kRr0pgW6-GqZW7f/s1600/sewell-online-booking-chile-2.jpg" height="212" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Cidade fantasma de <a href="http://blog.destinalo.com/wp-content/uploads/2013/07/sewell-online-booking-chile-2.jpg">Sewell</a>, no Chile: especuladores se deram mal.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
A definição acima sobre o preço mostra que, ao contrário do que algumas reportagens deixam implícito (ou, às vezes, explícito), não há nada que garanta o aumento indefinido do valor de um imóvel. Apesar de terrenos em cidades de sucesso terem um aumento agregado no valor dos seus terrenos (pelo aumento da atratividade com estoque limitado de terrenos), não é incomum vermos desvalorização de imóveis e até mesmo de terrenos em cidades que não possuem o mesmo sucesso. Existem cidades inteiras que, após períodos de riqueza e desenvolvimento são completamente abandonadas, com os preços dos terrenos indo a zero. Apenas nos EUA existem <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_ghost_towns_in_the_United_States">centenas de "cidades fantasma"</a>, locais onde especuladores de terra teriam perdido todo seu investimento. Na China isso também ocorreu a partir de um estímulo artificial do governo para urbanizar o país, que também resultou em <a href="http://www.metropolismag.com/Point-of-View/August-2013/The-Real-Problem-with-Chinas-Ghost-Towns/">uma série de cidades fantasma</a> com grandes prejuízos a especuladores. Também existem vários casos de longos períodos de deflação imobiliária, como no Japão, onde <a href="http://www.reuters.com/article/2013/09/19/us-japan-economy-land-idUSBRE98I07Y20130919">nos últimos 22 anos os preços de terreno caem anualmente ao invés de subir</a>, resultado do estouro da bolha econômica dos anos 80. Muitos daqueles que investiram em terrenos naquela época na esperança de vendê-los mais caros no futuro provavelmente já liquidaram o investimento, desvalorizado, para amenizar seu prejuízo.<br />
<br />
Em São Paulo, após alguns anos de bonança do mercado imobiliário, a diminuição na velocidade de vendas de unidades provou um <a href="http://observadordomercado.blogspot.com.br/2013/02/valor-mercado-de-terrenos-despenca-em.html">despencamento no preço de terrenos no ano passado</a>, certamente prejudicando muitos especuladores que esperavam um lucro garantido. Ainda, o valor de um terreno pode até subir, mas se na hora da venda o lucro não for equivalente ou superior à um investimento de renda fixa de uma poupança, por exemplo, o especulador perdeu dinheiro, já que deixar o dinheiro no banco traria um resultado melhor.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<b>Especulação imobiliária privatiza investimentos públicos?</b><br />
<b><br /></b>
É comentado que a valorização de imóveis está frequentemente atrelada a investimentos públicos, sendo injusta a coleta de lucros pelo especulador. O Renato Saboya, do blog Urbanidades, nos comentários de sua postagem sobre especulação imobiliária, comenta sobre a frequência dos "atores públicos" na valorização de terrenos (grifos meus):<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"<b>os casos em que as localizações são melhoradas pelos investimentos de outros atores são infinitamente mais frequentes do que o contrário</b>.</i><i>... </i><i>Portanto, para os fins a que esse definição está destinada, dentro do contexto do planejamento urbano... <b>o recorte adotado por ela é suficiente.</b>"</i></blockquote>
É evidente que, embora parte do desenvolvimento da infraestrutura nas periferias das nossas cidades seja feito por loteamentos privados, o poder público continua sendo o principal ator no direcionamento dos principais investimentos.<br />
<br />
O processo democrático, infelizmente, é marcado por uma constante disputa de interesses pelo poder governamental estabelecido, o chamado <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Rent-seeking">rent-seeking</a>. Assim, não e incomum existirem proprietários de terrenos que auxiliam, pressionam, e muitas vezes corrompem políticos e funcionários públicos para obter benefícios sobre seus terrenos. Os proprietários frequentemente fazem doações privadas para a campanha de um determinado político ou partido, apostando (ou "especulando") na devolução de favores no futuro. Os benefícios retornam como acesso e qualidade da infraestrutura e rede de transportes, regulação de o que pode ou não ser construído em um determinado terreno e o monopólio da força para aplicar a "desapropriação por utilidade pública" de terrenos adjacentes ou para chegar com a infraestrutura desejada. Assim, a aposta não se dá em ativos imobiliários, mas sim em políticos.<br />
<br />
O poder público não subsidia especuladores apenas com obras, mas também incentiva artificialmente o mercado com suas políticas habitacionais. Ao subsidiar programas como o "<a href="http://noticias.r7.com/economia/noticias/como-funciona-o-financiamento-do-programa-minha-casa-minha-vida-20091015.html">Minha Casa, Minha Vida</a>", criando basicamente financiamentos subsidiados para a construção (principalmente nas periferias, onde sobram mais terrenos sob especulação) ela provoca uma salto artificial no preço do terrenos de especuladores que antes não tinham demanda pois os projetos não eram viáveis. Algo na mesma linha ocorreu na bolha imobiliária estadunidense, onde especuladores de imóveis tinham seus recursos protegidos pelas agências paraestatais Fannie Mae e Freddie Mac.<br />
<br />
Vale notar que, apesar do que se imagina, esse tipo de atividade é mais comum quando mercados são fortemente regulados: dada a dificuldade de empreender um determinado projeto sem uma grande interferência estatal o mercado tende a investir cada vez mais em proximidade política do que em qualidade de produto. Em mercados totalmente estatizados apenas os amigos do imperador são beneficiados, enquanto em mercados competitivos e despolitizados não há muito o que um político possa fazer para favorecer um determinado agente de mercado. No Vale do Silício é raro ver executivos de empresas de tecnologia<i> </i>fazendo amizades com o poder público, diferente de executivos de concessionárias ou de incorporadoras de obras públicas.<br />
<br />
Enfim, é comum vermos o termo "especulação imobiliária" sendo usado de forma expandida: o "recorte" do termo mencionado por Saboya, embora o problema identificado não seja especulação imobiliária em si. Mas acredito que a separação dos conceitos seja de suma importância pois, como vimos acima, um especulador imobiliário nem sempre age dessa forma, nem sempre terá benefícios públicos privatizados e, principalmente, nem <i>deveria</i> agir ou se beneficiar em situação alguma. Para corrigir as distorções existentes sobre especulação imobiliária o especulador deve arcar com <i>todo</i> o risco da sua aposta e se responsabilizar por <i>toda</i> infraestrutura, <i>independente</i> do poder público.<br />
<br />
Se o poder público simplesmente não investisse em infraestrutura os agentes privados seriam obrigados a arcar com os próprios custos da urbanização, sem privatizar os lucros na valorização do seu imóvel. Apesar de infraestrutura ser uma necessidade no nosso país, os bilhões gastos em infraestrutura pelo governo - seja qual ele for - são normalmente baseados em projetos não só tecnicamente problemáticos como são excludentes: priorizam regiões centrais ao invés de regiões periféricas, além de desapropriar cidadãos pobres na sua execução.<br />
<br />
A devolução destes bilhões para a população (gerando recursos de sobra) aliada à segurança dos direitos de propriedade (principalmente dos mais pobres, que normalmente são os mais afetados) traria resultados superiores e eliminaria a privatização de recursos públicos - pois não haveriam recursos públicos a serem privatizados. Infraestrutura no Brasil já é construída privadamente em uma série de loteamentos e bairros privados, como os projetos do <a href="http://www.alphaville.com.br/portal/">Alphaville</a>, o <a href="http://www.granjamarileusa.com.br/site/">Granja Marileusa</a> ou a <a href="http://www.cidadepedrabranca.com.br/">Cidade Pedra Branca</a>, que praticamente independem do poder público para a valorização do terreno. Buscando sustentabilidade e eficiência no seu processo de urbanização, <a href="http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/un/unpan006231.pdf">uma série de exemplos em países do mundo inteiro</a> mostram que governos estão migrando para um modelo baseado no investimento privado na construção da infraestrutura. Até mesmo grandes obras como as <a href="http://www.renderingfreedom.com/2013/04/um-metro-que-da-dinheiro-em-hong-kong.html">linhas de metrô de Hong Kong</a> e <a href="http://www.citylab.com/commute/2011/10/why-tokyos-privately-owned-rail-systems-work-so-well/389/">grande parte da rede de metrô de Tóquio</a> são, na verdade, linhas privadas, embora ainda reguladas pelo poder público.<br />
<br />
<b>Especulação imobiliária contribui para o espraiamento urbano, deixando a infraestrutura urbana ociosa?</b><br />
<b><br /></b>
Esta é outra crítica frequente à especulação imobiliária, ao deixar imóveis vazios na espera de lucros futuros. É evidente que a especulação contribui pontualmente para esta situação, mas o planejamento urbano tanto acentua o problema de imóveis parados por especulação como é a principal causa do subaproveitamento de infraestrutura e do espraiamento urbano.<br />
<br />
Como comentado nos assuntos tratados anteriormente, especuladores frequentemente aguardam mudanças regulatórias específicas para desenvolver os seus terrenos ao invés de observar mudanças de mercado como a atratividade e as características do bairro. A grande dependência do desenvolvimento do setor público contribui para que determinados terrenos sejam segurados por muito anos, a espera de milagres políticos que podem multiplicar o valor do terreno. Muitos imóveis nos centros urbanos de grandes cidades como Porto Alegre ou São Paulo, que depreciaram muito nas últimas décadas, estão abandonados sob especulação. No entanto, os proprietários aguardam não a revitalização orgânica (que já ocorre), mas especulam nos projetos públicos de revitalização dos centros que, ao injetar recursos, valorizarão todos os imóveis do bairro.<br />
<br />
Ao mesmo tempo, políticas públicas em praticamente todas as cidades limitam o desenvolvimento através de <a href="http://www.renderingfreedom.com/2014/05/cidades-brasileiras-pior-verticalizacao.html">leis de zoneamento, limites de densidade, recuos obrigatórios</a> e <a href="http://www.renderingfreedom.com/2014/05/a-obsessao-recifence-por-vagas.html">vagas mínimas de garagem em bairros que são verticalizados</a>, e até mesmo leis de tombamento, mantendo bairros com densidades artificialmente baixas onde existe infraestrutura disponível para atender muito mais gente. Este é o caso do bairro Jardins, em São Paulo, que é bem atendido por infraestrutura urbana mas que está sujeito à rígidas regras contra o seu adensamento. Com a revisão do seu Plano Diretor, São Paulo tentará remover algumas dessas distorções, <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,foco-do-plano-diretor-corredor-viario-ja-concentra-maioria-dos-lancamentos,1153043,0.htm">permitindo o adensamento próximo à estações de metrô e corredores de ônibus</a>.<br />
<br />
<b>Finalmente, uma conclusão</b><br />
<br />
Assim, para maioria das problemáticas referidas à "entidade" chamada "especulação imobiliária", acredito ser mais adequado usar termos como <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Rent-seeking"><i>rent-seeking</i></a>, <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Corporativismo">corporativismo</a> ou até mesmo o antigo <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Mercantilismo">mercantilismo</a>, variações diferentes sobre o subsídio estatal de grupos escolhidos, não necessariamente relacionados à especulação imobiliária propriamente dita.<br />
<br />
É claro que, como problema de qualquer definição de termos, muitos podem discordar do meu significado de especulação imobiliária, chegando em conclusões diferentes. No entanto, minha intenção aqui é contribuir para que o termo reflita suas próprias palavras, evitando aberturas para interpretações condicionais ou subjetivas, que muitas vezes geram ataques aos atores errados e uma confusão generalizada no entendimento do urbanismo.<br />
<br />
Como leitura (ainda mais) aprofundada, recomendo o texto <a href="http://arquiteturadaliberdade.wordpress.com/2013/05/28/23/">"O Espantalho da Especulação Imobiliária"</a>, por David Pierin e o artigo "<a href="http://www.foldvary.net/works/landspec.html">Market-hampering land speculation: fiscal and monetary origins and remedies</a>" do economista Fred Foldvary.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-67974391795085385462014-05-14T21:10:00.000-03:002014-08-19T00:49:24.022-03:00A obsessão recifense por vagas estacionamentoNa minha <a href="http://www.renderingfreedom.com/2014/05/cidades-brasileiras-pior-verticalizacao.html">postagem sobre os problemas da verticalização das cidades brasileiras</a> comentei sobre como o cálculo de áreas computáveis e a exigência de vagas de estacionamento obrigatórias podem prejudicar a relação do edifício com a calçada.<br />
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Me preparando para o <a href="https://www.facebook.com/events/433164796818193/">debate que vou participar em Recife essa semana</a>, acabo de descobrir que a cidade tem uma das exigências de vagas mínimas de garagem mais absurdas do mundo, ultrapassando cidades reconhecidamente obcecadas por carros como <a href="http://www.houstontomorrow.org/livability/story/city-reviewing-off-street-parking-ordinance/">Houston</a> e <a href="http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/legislacao/planos_regionais/index.php?p=1901">São Paulo</a>. Diz a <a href="http://www.legiscidade.recife.pe.gov.br/lei/16176/">Lei 16.176/96 sobre Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife</a>: </div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHThAxfq3XJpij7GdilIdcBEq-zE4nbLgkRGsUB4RK83jXAFChlecuGEmD3MbV2QIsii4dqZbqLyEIgX6jn9uAtFPXOIVIcHAyhANC0M_-KynF4so5Ftq7b28CqTz1bGUrviiSHq7EQxqL/s1600/estacionamento+recife.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHThAxfq3XJpij7GdilIdcBEq-zE4nbLgkRGsUB4RK83jXAFChlecuGEmD3MbV2QIsii4dqZbqLyEIgX6jn9uAtFPXOIVIcHAyhANC0M_-KynF4so5Ftq7b28CqTz1bGUrviiSHq7EQxqL/s1600/estacionamento+recife.JPG" height="390" width="400" /></a></div>
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Os números são estonteantes, pois em cima disso <i>a área destinada à estacionamento não é computada na área total permitida para construção</i>. A lei não parece abrir exceções para habitação de interesse social, o que também mitiga este tipo de construção sendo uma condicionante que encarece muito o valor de cada unidade.</div>
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Esses requisitos significam que o incorporador deve encontrar espaço no terreno ou no seu edifício para construir todas essas vagas, sem encarecer demais o custo das unidades. Eles acabam optando, na maioria das vezes, por utilizar a área do térreo e/ou do primeiro pavimento, evitando escavações e construindo em altura (na minha interpretação da lei a cidade não tem limites de altura, sendo restrita apenas pelos recuos obrigatórios, que aumentam com o número de pavimentos).</div>
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9aOAudzSnbe08Nb5weyldJUKHFTgZEYk5ciWI6ap4gA6hI_-lgVlQwsGfWJIKLkXewlk1Ycmv_Tpr3-Y7pdxj5ZapKU7qCgNm1WX6MKbRWU7PXQg8tfeQNei0JGlP9PqNAtH5hjuJOlGG/s1600/recife+carros.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9aOAudzSnbe08Nb5weyldJUKHFTgZEYk5ciWI6ap4gA6hI_-lgVlQwsGfWJIKLkXewlk1Ycmv_Tpr3-Y7pdxj5ZapKU7qCgNm1WX6MKbRWU7PXQg8tfeQNei0JGlP9PqNAtH5hjuJOlGG/s1600/recife+carros.JPG" height="441" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">
Exemplo da aplicação da legislação na Av. dos Navegantes, no bairro da Boa Viagem, criticado pela verticalização exclusiva.</div>
</td></tr>
</tbody></table>
<div>
Uma saída seria colocar uma loja no térreo e jogar as vagas de estacionamento um andar para cima, mas isso significaria uma rampa duas vezes maior (rampas para carros ocupam muito espaço na planta do edifício) e criar afastamentos ainda maiores, já que estes variam de acordo com a altura do edifício. Em uma cidade que já não valoriza o trânsito a pé e o comércio no térreo, é uma decisão que não se justifica financeiramente.</div>
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Quem diria que a tabela acima é uma das principais causas da péssima verticalização de Recife?</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-53551218017371032862014-05-12T17:37:00.000-03:002014-05-12T17:37:16.899-03:00Jorge Hori no Urban View<div>
<div style="text-align: left;">
Uma das fontes de informação sobre urbanismo mais subvalorizadas da internet (depois deste blog, é claro!) são os vídeos do Urban View. O <a href="http://www.urbansystems.com.br/urban-view">Urban View</a> é um dos canais da Urban Systems, uma empresa de consultoria em urbanismo, participando em grandes projetos como a <a href="http://www.granjamarileusa.com.br/">Granja Marileusa</a>.</div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/dexGhflSBLk?rel=0" width="560"></iframe></div>
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Os vídeos estão disponíveis no <a href="https://www.youtube.com/user/urbansystems/videos">canal deles do YouTube</a>, onde fazem entrevistas com nomes interessantes do urbanismo brasileiro. As entrevistas fogem um pouco do viés puramente acadêmico que se aprende nas universidades, conversando não só com professores mas com pessoas que efetivamente trabalham na elaboração de Planos Diretores, empreendedores imobiliários, consultores em urbanismo e representantes de classe. Infelizmente os vídeos raramente ultrapassam 100 visualizações no YouTube o que, ao meu entender, mostra falta de interesse na busca de informações mais práticas e mais aprofundadas sobre nossas cidades.<br />
<div>
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Recentemente assisti a entrevista com o Jorge Hori, consultor e autor do blog <a href="http://iejorgehori.blogspot.com.br/">Inteligência Estratégica</a>. Achei interessante pois ele se mostrou alinhado com algumas ideias já apresentadas neste blog e propôs ideias adicionais, principalmente referindo-se aos projetos atuais e ao crescimento de São Paulo. Segue algumas da suas palavras:</div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Nunca se planejou tanto em São Paulo ou em qualquer outra cidade. O que não falta são planos... Se não é por falta de planejamento, é por causa do planejamento. O que tá errado no planejamento? O que tá errado no</i><i> planejamento é que ele é feito com base em sonhos, não numa percepção de qual vai ser a reação da sociedade e dos agentes econômicos em relação ao plano. E, pra realizar os sonhos, os planejadores e autoridades querem interferir no processo. Só que estamos num regime democrático, de livre iniciativa, e não num regime soviético onde o poder público dita o que o privado tem que fazer. Então o que acontece: o privado não quer ser regulado. O privado não quer o controle. Então onde tem controle, onde tem regulação, ele foge."</i></blockquote>
Ao ser perguntado se "a regulação urbana passa a ser ou não ser uma forma eficiente de conter essa expansão desordenada da cidade?", ele responde categoricamente: "Não."<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Se você levar uma linha de metrô pra periferia, onde estão os moradores, a empresa não vai junto. A empresa fica porque acha que o morador tem mais facilidade de chegar ao seu trabalho através do metrô. A extensão periférica do metrô é uma forma de deixar os moradores cada vez mais distantes."</i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Estacionamento de graça é gerador de carro. Se tiver estacionamento na via pública e não tiver que pagar nada a pessoa vai de carro. Se não tiver estacionamento e for um estacionamento caro ele não vai de carro... Tem gente que vai trabalhar na Berrini e chega às seis da manhã e fica duas horas no carro pra poder entrar às oito. Porque se não chegar às seis não tem vaga nas ruas próximas... Nos EUA estacionamento pago é usado como política urbana em substituição ao pedágio. Se você tiver estacionamento caro não precisa ter pedágio."</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>"A política urbana de São Paulo é uma política para reduzir o tamanho de São Paulo. Por exemplo: o mercado imobiliário está se desenvolvimento mais em Santo André na divisa com São Paulo do que em São Paulo. Porque Santo André tem condições menos regulações e menos exigências do que em São Paulo. O Centro de São Paulo esvaziou, agora teve uma recuperação, mas não vai sustentar."</i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Táxi é o principal instrumento do turismo de negócios. A hora que a Prefeitura decide restringir o uso do táxi, está matando o turismo em São Paulo... Isso faz com que a alternativa seja ir para outros locais. São Paulo tem que considerar hoje que o Rio de Janeiro voltou para ser um grande concorrente."</i></blockquote>
Fiquei um pouco cético à ideia que ele propõe de intermodalidade, incentivando o transporte coletivo nos eixos e a viagem de carro até o eixo. Os estacionamentos ao longo desses eixos teriam que ser enormes: justamente o problema prático apontado pelo entrevistador. A baldeação entre a vaga da garagem, o pagamento dessa vaga e o embarque no transporte ao longo dos eixos também seria demorada demais, prejudicando o trajeto. O que o usuário do carro quer é justamente evitar a baldeação: justamente o motivo pelo qual ele comprou o carro. Além disso, o usuário do carro não estaria aproveitando bem os custos fixos do carro (depreciação, seguro, garagem, etc.), deixando-o parado grande parte do trajeto. Este blog normalmente defende a permissão de transportes coletivos alternativos que oferecem viagens ponto a ponto, leia <a href="http://www.renderingfreedom.com/2013/10/faixas-dedicadas-nao-espacos.html">aqui</a>, <a href="http://www.renderingfreedom.com/2014/02/e-assim-que-o-transporte-informal-se.html">aqui</a>, <a href="http://www.renderingfreedom.com/2013/06/lima-e-descentralizacao-do-transporte.html">aqui</a> e <a href="http://www.renderingfreedom.com/2013/06/em-defesa-de-lima.html">aqui</a>.<br />
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A entrevista na íntegra pode ser vista <a href="https://www.youtube.com/watch?v=dexGhflSBLk">aqui</a>.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-88318229498598858692014-05-09T09:29:00.000-03:002014-05-09T09:29:12.850-03:00Removam os obstáculos da Economia Colaborativa<i>Esta é uma tradução do artigo "<a href="http://www.economist.com/news/leaders/21601257-too-many-obstacles-are-being-placed-path-people-renting-things-each-other-remove">Remove the Roadblocks</a>" publicado como artigo líder na revista The Economist em 26 de abril de 2014</i><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMIRJX1eWo8Tj-8_PJXzEwJuOu66SwYKm0PGmoiXtoIC7oX2jVvAn-bs1T86o2tt5pGZaD7XlwVgKmtH-KxNmBszlvFIAVUROpbfS6ZjjkQyaUZnjWD9QarCMcyU8nxueV9k8qjxkOMd_N/s1600/20140426_LDD001_0.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMIRJX1eWo8Tj-8_PJXzEwJuOu66SwYKm0PGmoiXtoIC7oX2jVvAn-bs1T86o2tt5pGZaD7XlwVgKmtH-KxNmBszlvFIAVUROpbfS6ZjjkQyaUZnjWD9QarCMcyU8nxueV9k8qjxkOMd_N/s1600/20140426_LDD001_0.jpg" height="225" width="400" /></a></div>
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Não é difícil de encontrar provas do sucesso dá economia colaborativa, fenômeno onde as pessoas alugam entrem si suas camas, carros e outros bens que têm à disposição, tudo coordenado por meio da internet. É um sinal do renascimento da oferta e demanda. A Airbnb, fundada em San Francisco em 2008, afirma que 11 milhões de pessoas usaram seu website para encontrar um lugar para se hospedar. A Lyft, uma empresa que liga pessoas precisando de carona a motoristas em busca de um pouco de dinheiro, se espalhou de San Francisco para 30 e poucas cidades Americanas. Outro sinal são os grandes valores que se veem relacionados às empresas da economia colaborativa: calcula-se que a Airbnb valha 10 bilhões de dólares, mais do que redes de hotéis como a Hyatt ou Wyndham, e que a Lyft recentemente obteve investimentos na ordem dos 250 milhões de dólares. Mas talvez o mais impressionante – e nada bem-vindo – indicador do crescimento da economia colaborativa é a quantidade de energia sendo dedicada por governos, tribunais e concorrentes tentando frustrar o sucesso desses empreendimentos.</div>
<br />
A maior briga acontece por causa das empresas de táxi e de aluguéis de quartos. Um tribunal em Bruxelas ordenou que a Uber, outra startup de San Francisco que lida com o mercado de caronas, parasse de operar na cidade. Em março, a Câmara de Vereadores de Seattle limitou em 150 o número de motoristas dando carona ao mesmo tempo através desse tipo de companhia – embora esse limite esteja agora suspenso, graças a uma petição das empresas de carona. Algumas cidades baniram direto o serviço, outras tentaram maneiras de criar barreiras para seu funcionamento. Enquanto isso, a Associação de Hotéis de Nova Iorque tem feito lobby para que seja mais rigorosa a aplicação de uma norma que diz que os proprietários não podem alugar seus apartamentos por menos de 30 dias, o que tornaria ilegal a maior parte do serviço prestado pela Airbnb.<br />
<br />
<b>Mas compartilhe amigavelmente</b><br />
<br />
Os novos oponentes, sejam eles competidores, agentes do governo ou cidadãos preocupados, reclamam que empresas como a Airbnb e a Lyft conseguem se esquivar das regras e impostos que existem na forma convencional dos negócios. Há regulamentações sobre manter os quartos e cozinhas dos hotéis limpos, sobre manter os alarmes de incêndio funcionando corretamente, sobre impedir o funcionamento de hotéis não licenciados em áreas residenciais e sobre a integridade e capacidade dos taxistas, além de uma verificação do seu conhecimento das ruas. Segundo os críticos, cowboys como Airbnb, Lyft e Uber são um perigo para o público inocente e desavisado. Não é preciso procurar muito para encontrar relatos de orgias em locais arranjados através da Airbnb e de acidentes – um deles onde aconteceu a morte de uma menina de 6 anos – envolvendo motoristas que compartilhavam seus carros.<br />
<br />
Aqueles que são contra tem um pouco de razão. Os impostos devem ser pagos: o dono de um imóvel que aluga quartos deve declarar sua renda, assim como um hotel o faz. Segurança também é uma preocupação: as pessoas querem alguma garantia de que quando deitarem sua cabeça no travesseiro à noite ou entrarem no carro de um estranho, elas não serão atacadas ou enganadas. Zoneamento e planejamento também são um problema: cidadãos que gostam de um lugar pacífico podem ter objeções a respeito da casa ao seu lado virar um hotel.<br />
<br />
As empresas da economia colaborativa estão tentando mitigar esses problemas. Elas têm controlado o seguro dos motoristas e se ofereceram para cobrar impostos hoteleiros dos usuários. Elas tem interesse no bom comportamento de seus participantes: já que os hospedeiros, hóspedes, motoristas e passageiros se avaliam através de um sistema de notas online, a necessidade deles de protegerem suas reputações ajuda a manter um alto padrão e a incentivar as pessoas honestas a continuarem usando o sistema. Mas se os consumidores quiserem optar por um serviço mais barato e menos regulado, eles deveriam poder fazê-lo.<br />
<br />
A verdade é que a maioria das regras que a economia colaborativa tem quebrado pouco tem a ver com a proteção do povo. A oposição à Lyft e à Uber não está vindo dos consumidores, mas sim de companhias de táxi, que, sabendo que tecnologias como o GPS fazem com que um conhecimento detalhado das ruas seja redundante, têm medo da competição mais barata.<br />
<br />
Toda essa situação defende a adaptação, não a proibição. Uma inesperada pioneira é San Francisco, normalmente não considerada como um modelo de cidade. A Uber e a Lyft obtiveram sucesso na cidade em parte porque táxis eram difíceis de serem encontrados, mas também porque as autoridades toleraram essas empresas. San Francisco tem uma política de proibição de aluguéis de menos de 30 dias, mas está considerando deixar as pessoas alugarem suas residências, desde que morem nelas a maior parte do tempo, obtenham o registro necessário da cidade e paguem os 14% do imposto hoteleiro. Amsterdam e Hamburgo possuem normas similares.<br />
<br />
A economia colaborativa é um dos grandes imprevisíveis benefícios da era digital. As cidades não devem proibi-la, e sim recebê-la de braços abertos.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<i>Tradução por Thiago Alminhana</i></div>
<div>
<i>Revisão por Anthony Ling</i></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-19960281459205690762014-05-07T10:28:00.000-03:002014-05-07T10:58:30.329-03:00Hackeando leis e governança com Cidades Startup<i>Esta é uma tradução do artigo "<a href="http://www.fee.org/the_freeman/detail/hacking-law-and-governance-with-startup-cities">Hacking Law and Governance With Startup Cities</a>" escrito por Zachary Caceres, CEO do Startup Cities Institute.</i><b></b><br />
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<b><br /></b></div>
<b>
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<b><b style="text-align: start;"></b></b></div>
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<div class="separator" style="clear: both; margin: 0px; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhV-0sJZ2xbIPhlU1Zt0HMM_dvBd9qySPXcGWZUrfgSYAedLu2_7DE2wxpQvttrau3Wm1kowNdZtIluUigrkS8174GhaVqWDjYzQl-N1quPUgzpcMWgtCHFLlxZ5YpTIKKyVecDXXGeDtGw/s1600/20130708_techcitydetail.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhV-0sJZ2xbIPhlU1Zt0HMM_dvBd9qySPXcGWZUrfgSYAedLu2_7DE2wxpQvttrau3Wm1kowNdZtIluUigrkS8174GhaVqWDjYzQl-N1quPUgzpcMWgtCHFLlxZ5YpTIKKyVecDXXGeDtGw/s1600/20130708_techcitydetail.jpg" height="320" style="cursor: move;" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
Como a inovação pode consertar nossa tecnologia social</b><br />
<br />
Na periferia de Estocolmo, vegetação e vândalos tomaram conta das antigas fábricas da Eastman Kodak. Compostas por estruturas metálicas frias, pouco a pouco estão ruindo e se entregando aos efeitos da natureza. As paredes estão cobertas por pichações coloridas (e às vezes vulgares). Nas palavras de um grafiteiro: é um “momento Kodak”.<br />
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Depois de sua fundação em 1888, Eastman Kodak tornou-se a principal empresa do ramo de fotografia por quase um século. Contudo, no início de 2012, a companhia que detinha um patrimônio de US$ 30 bilhões de dólares e 140 mil funcionários entrou com pedido de falência.<br />
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A Kodak foi vítima da inovação – um processo que Joseph Schumpeter chamou de “vento perene da destruição criativa”. A Kodak poderia dominar o mercado somente até que uma alternativa melhor e mais estável aos seus serviços surgisse. Uma vez que esta alternativa – a fotografia digital – surgiu, o destino da Kodak já estava selado. A gigante das câmeras lentamente perdeu mercado para entrantes como Sony e Nikon até que, de uma hora para outra, “todo mundo” precisava de uma câmera digital e as Kodak eram direcionadas para feiras de de antiguidades.<br />
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Como isso acontece? Christian Sandström, um especialista em tecnologia do Ratio Institute, localizado na Suécia, argumenta que as grandes inovações seguem um caminho comum.<br />
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<b>De mercados marginais ao mainstream</b><br />
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Tecnologias disruptivas começam em “mercados marginais”, e normalmente são piores em quase tudo. As primeiras câmeras digitais eram grandes, caras, pesadas e tiravam fotos de baixa qualidade. Contudo, uma inovação possui alguma vantagem em relação à tecnologia dominante: no caso das câmeras digitais, a conveniência de não mais utilizar os rolos de filmes. Essa vantagem permite que a inovação sirva um nicho de mercado. O pequeno grupo de early adopters (os primeiros adeptos) é, na maioria das vezes, ignorado por uma firma estabelecida como a Kodak já que a tecnologia dominante controla o mercado de massa.<br />
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Mas a nova tecnologia não permanece na margem para sempre. Eventualmente, seu desempenho aumenta e passa a competir com a tecnologia dominante. Câmeras digitais já tinham dispensado o uso do filme; com o tempo, tornaram-se capazes de resolução melhor do que as câmeras antigas, com uso mais fácil e, além disso, mais baratas. A Kodak percebeu essa tendência e tentou entrar no mercado digital, mas era tarde demais. A inovação varre o mercado e a firma dominante se torna vítima dos ventos da mudança tecnológica.<br />
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A inovação disruptiva torna o mundo melhor por desafiar monopólios como a Kodak. Ela alcança praticamente todos os mercados, com exceção de um: lei e governança.<br />
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<b>Tecnologia social</b><br />
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O direito consuetudinário britânico, a democracia parlamentar, o padrão-ouro: parece estranho chama-los de “tecnologias”. Contudo, W. Brian Arthur, um economista do Santa Fe Institute e autor do livro The Nature of Technology (tradução, A Natureza da Tecnologia), sugerem que são. Ele escreve que “organizações empresariais, sistemas jurídicos, sistemas monetários e contratos compartilham as mesmas propriedades da tecnologia”.<br />
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Tecnologias canalizam fenômenos para um propósito específico. Embora possamos entender que as tecnologias deveriam canalizar algo físico, como elétrons ou ondas de rádio, os sistemas de lei e a governança canalizam o comportamento e fenômenos sociais. Então, uma pessoa poderia chamar o direito consuetudinário britânico ou a democracia parlamentar de “tecnologias sociais”.<br />
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A Inovação em “tecnologia social” pode ainda parecer um exagero. Mas as pessoas, outrora, também consideraram o controle quase total da fotografia por parte da Kodak como normal (em alguns países a palavra usada para “câmera” é “Kodak”). No entanto, logo depois que a inovação disruptiva ocorre, parece obvio que a Kodak era inferior e que a mudança era positiva. Nossos sistemas legal e político, como tecnologias, são igualmente abertos à inovação disruptiva. É fácil tomar por certo nossas tecnologias sociais porque o mercado para lei e governança é tão raramente perturbado por inovações.<br />
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Para entender como poderíamos criar inovações disruptivas em lei e governança, primeiro precisamos encontrar, como a Nikon fez com a Kodak, uma área onde as tecnologias dominantes podem ser melhoradas.<br />
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<b>Quando as tecnologias sociais fracassam</b><br />
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Ao redor do mundo, sistemas de lei e governança falham na tentativa de providenciar inúmeros serviços aos seus mercados. Em muitos países em desenvolvimento, a maior parte da população vive na informalidade.<br />
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Seus negócios não podem ser registrados. Seus contratos não podem ser levados ao tribunal. Eles não conseguem licença para construir uma casa. Muitos vivem em constante medo e perigo, dado que os sistemas de governança não conseguem oferecer nem mesmo segurança básica. A possibilidade de começar um negócio formal, construir uma casa, ir para escola, viver em uma comunidade segura – todas essas “funções” das tecnologias sociais estão faltando para bilhões de pessoas.<br />
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Esses fracassos da tecnologia social geram pobreza e violência generalizada. Negócios têm sucesso porque são administrados por “camaradas” dos poderosos e são protegidos da competição pelo sistema legal. As redes de cooperação necessárias para o crescimento econômico não podem se formam em ambientes tão restritos. Os pobres não podem se tornar empreendedores sem as ferramentas legais. As inovações nunca chegam ao mercado. As firmas e as tecnologias dominantes não são desafiadas por novas empresas.<br />
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Aqui está o nosso nicho de mercado.<br />
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Se pudéssemos encontrar uma forma melhor de oferecer um ou alguns desses serviços (mesmo se não pudéssemos oferecer tudo melhor do que o sistema político dominante), podemos nos encontrar na mesma posição da Nikon antes do colapso da Kodak. Nós poderíamos alavancar nosso nicho de mercado para algo muito maior.<br />
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<b>Hackeando leis e governança com Cidades Startup</b><br />
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Um movimento crescente ao redor do mundo para a construção de novas comunidades nos oferece uma oportunidade de hackear nossa tecnologia social. Uma nação-sede cria múltiplas pequenas jurisdições com sistemas de lei e governança novos e independentes. Os cidadãos são livres para imigrar para a jurisdição de sua escolha. Como qualquer outra tecnologia, essas cidades startup competem para oferecer serviços novos e melhores – nesse caso, oferecer aos cidadãos serviços que desejam e que necessitam.<br />
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Uma nova região sediando uma cidade startup pode ser pioneira com leis ambientais ou tributárias diferentes. Outra pode oferecer um ambiente regulatório preparado especificamente para empresas na área de finanças ou universidades. Outra ainda poderia tentar um novo modelo para o financiamento de assistência social.<br />
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As cidades startup são uma alternativa poderosa às arriscadas, difíceis e improváveis reformas nacionais. As cidades startup são como protótipos de baixo custo para novas tecnologias sociais. Tecnologias sociais positivas originadas nessas cidades podem, então, serem aplicadas em nível nacional.<br />
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Contudo, se tecnologias ruins levarem ao fracasso de uma determinada região, não arriscamos a sua aplicação em nível nacional. As pessoas podem facilmente abandonar uma cidade startup – efetivamente, decretando a falência do projeto. Se uma nação escolhe utilizar capital privado para infraestrutura e outros serviços, os contribuintes podem evitar pagar a conta pela má ideia de outrem. Cidades startup também aumentam a voz dos cidadãos no processo democrático, já que eles tem a opção de saída.<br />
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Analisando nosso nicho de mercado, uma cidade startup em um país em desenvolvimento poderia oferecer leis de incorporação simplificadas e tribunais confiáveis para cidadãos pobres que querem se tornar empreendedores. Outro projeto poderia focar na construção de locais seguros para comércio e moradia testando pilotos na área de polícia e segurança. Na verdade, muitas dessas funções poderiam (e deveriam) ser combinadas em um projeto único de uma cidade startup.<br />
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Como qualquer boa startup de tecnologia, as cidades startup seriam pequenas e ágeis no início. Elas não seriam capazes de competir em muitas áreas até então sob o controle do sistema dominante de lei e governança. Contudo, contanto que as pessoas são livres para entrar e sair, as cidades startup vão crescer e melhorar com o passar do tempo. O que começou como uma ideia pequena e inexpressiva para servir a um nicho de mercado pode gerar uma mudança de paradigma em tecnologias sociais.<br />
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Muitos países já começaram a desenvolver projetos de cidades startup, e muitos outros estão considerando a ideia. Os primeiros estágios desse movimento serão quase certamente tão inexpressivos quanto as câmeras digitais antigas. Nações com olhos no futuro investirão de forma inteligente em suas próprias tecnologias sociais disruptivas, testadas e consolidadas nas cidades startup. Outras nações – provavelmente as ricas e estabelecidas – ignorarão essas “reformas de nicho de mercado” dos países em desenvolvimento. E elas podem acabar como a Kodak – superadas por novas tecnologias sociais desenvolvidas em países pobres.<br />
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O hacker encontra vulnerabilidades na tecnologia dominante e as utiliza para criar algo novo. De certa forma, toda a inovação disruptiva é uma forma de hack, visto que confia em um nicho – uma rachadura na armadura – da tecnologia dominante. Nossos sistemas de lei e governança não são diferentes. As cidades startup são a inovação disruptiva aplicada à tecnologia social. Seu futuro é promissor, e é só lembrarmos do caso da Kodak – aquele monopolista monolítico e invencível – para vislumbrarmos um mundo de possibilidades.<br />
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<i>Se você tem interesse em aprender mais sobre o movimento das cidades startup, visite <a href="http://startupcities.org/">startupcities.org</a> ou entre em contato com <a href="mailto:startupcities@ufm.edu">startupcities@ufm.edu</a>.</i><br />
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<i>Tradução por Matheus Pacini</i><br />
<i>Revisào por Anthony Ling</i>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-7321691421769533412014-05-04T19:28:00.000-03:002014-05-04T19:28:57.789-03:00Cidades brasileiras: a pior verticalização do mundoRecentemente escrevi <a href="http://www.renderingfreedom.com/2014/03/em-defesa-da-verticalizacao-uma.html">um artigo em defesa da verticalização</a> - a construção de edifícios mais altos - respondendo a <a href="http://direitosurbanos.wordpress.com/2014/03/23/qual-o-problema-da-verticalizacao/">outro artigo que se posicionava contra ela</a>. Na ocasião deixei explícito que eu estava tratando sobre a construção de edifícios altos como resposta a uma maior demanda por território (muitas pessoas querendo morar no mesmo lugar) e não estava tratando sobre a verticalização brasileira por uma série de distorções que existem no nosso mercado imobiliário. Embora isso tenha ficado bastante claro, o debate que se seguiu continuou criticando meu texto usando o exemplo da verticalização brasileira quase como uma regra absoluta de o que significa verticalização, apesar de ele ser uma exceção.<br />
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Assim, pretendo aqui complementar meu texto anterior explicando porque a verticalização nas cidades brasileiras realmente produz resultados negativos, mas mostrando que a crítica está mal direcionada: o problema não é a altura dos prédios em si (verticalização), mas as interferências regulatórias que eles carregam para se tornarem altos.</div>
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<b>Recuos de ajardinamento</b><br />
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Um dos maiores vilões da verticalização brasileira são os recuos de ajardinamento obrigatórios, afastando os edifícios das calçadas e entre eles. A noção parte de um conceito equivocado de ventilação e insolação que remete tanto à antiga <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Miasma_theory">teoria da "miasma"</a> quanto ao <a href="http://eliinbar.files.wordpress.com/2012/10/0011.jpg">urbanismo modernista-corbusiano na ideia de liberar o solo para áreas de lazer</a> - resultando em áreas condominiais inutilizadas. Nem mesmo Brasília, que foi mais fiel à este conceito na construção das superquadras, teve bons resultados no aproveitamento destes espaços.<br />
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Nas cidades brasileiras os recuos quase sempre aumentam de acordo com a altura do edifício, motivo pelo qual incorporadores nem sempre atingem a altura máxima permitida no terreno: teriam que construir um palito para respeitar os recuos.<br />
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvqcmOMnG5aGOfT-uy7D70A-1_nhNnOvRZi91WX2fMERV5D9iTC1BhZfH-QmgznFhi9VAsJx3_clrET-Y3UH52Dzab8Atwo5zNkHbLFMuQOcvAXp46lN6O0QzvbYAb_dtidLgSzWxskAkq/s1600/definicao_gabaritos01.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvqcmOMnG5aGOfT-uy7D70A-1_nhNnOvRZi91WX2fMERV5D9iTC1BhZfH-QmgznFhi9VAsJx3_clrET-Y3UH52Dzab8Atwo5zNkHbLFMuQOcvAXp46lN6O0QzvbYAb_dtidLgSzWxskAkq/s1600/definicao_gabaritos01.png" height="192" style="cursor: move;" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">
Nem sempre verticalização significa aumento de densidade.</div>
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[Fonte imagem: <a href="http://urbanidades.arq.br/wp-content/uploads/2010/02/definicao_gabaritos01.png">Urbanidades</a>]</div>
</td></tr>
</tbody></table>
<i><u>Restringem densidade:</u></i> O conceito de verticalização faz sentido como uma forma de aumentar o aproveitamento do solo urbano, aumento a densidade demográfica, aproximando humanos e tendo ganhos de escala no uso do espaço e da infraestrutura construída. No entanto, com recuos obrigatórios, não é incomum encontrarmos casos de bairros verticalizados que não apresentam altas densidades. Em São Paulo, por exemplo, é incomum o cidadão perceber que a Vila Mariana é muito mais densa que Moema, que a Vila Madalena não ficou mais densa depois que verticalizou, ou que Paris e Barcelona são muito mais densas que São Paulo com edifícios muito mais baixos. Já em Porto Alegre, pessoas ficam confusas ao saberem que a Cidade Baixa tem o dobro da densidade do Bela Vista, onde a confusão ocorre inclusive nos seus nomes. Com edifícios isolados nos terrenos há área inutilizada, que normalmente se transformam em áreas privadas de lazer abandonadas. A verticalização ocorre sem produzir aglomeração, o que seria o motivo da verticalização em primeiro lugar.</div>
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<i><u>Exterminam a vida na calçada:</u></i> Com edifícios longe das calçadas e uns dos outros é muito difícil viabilizar atividades comerciais no térreo, comum em outros países pelo fato do térreo ter um valor comercial mais alto que o residencial. Mas esse valor comercial só se torna realmente atraente quando há continuidade das lojas na calçada e uma proximidade delas do pedestre, facilitando o acesso e a leitura das vitrines. Não coincidentemente esta é exatamente a forma de qualquer rua comercial de sucesso com pontos valorizados - assim como o interior dos shopping centers.</div>
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih8DHzGO3gl1nUeYLcSSdDEp7higbENPSxEcRWdxSMjSQECjv6G8164dg7IgKQrURlvUi_TVY257WFgFGhfMghI0Btn6DzVgHgc_22GQCCcnFjsKiuZ1Y6KVCzJGRyeR-zjKqW-N8Wtrm6/s1600/IMG_3478.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih8DHzGO3gl1nUeYLcSSdDEp7higbENPSxEcRWdxSMjSQECjv6G8164dg7IgKQrURlvUi_TVY257WFgFGhfMghI0Btn6DzVgHgc_22GQCCcnFjsKiuZ1Y6KVCzJGRyeR-zjKqW-N8Wtrm6/s1600/IMG_3478.JPG" height="240" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">
O Itaim Bibi, em São Paulo, é agradável para transitar a pé graças</div>
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às pequenas casas que sobraram junto à calçada. Prédios novos são</div>
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afastados do pedestre e tem térreos vazios, quando não cercados.</div>
</td></tr>
</tbody></table>
<b>Desincentivo para construir no térreo</b><br />
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Pouca gente sabe, mas em muitas cidades brasileiras - como São Paulo e Porto Alegre - a área do térreo não é contabilizada como área construída se nele for construído apenas a portaria e áreas condominiais. Com os recuos a área do térreo já nasce desvalorizada, que também naturalmente tem menos demanda para uso residencial. O incorporador, assim, prefere usar toda essa área que ele subtrai do térreo para cima, nos andares "tipo", aumentando a altura do edifício e deixando o térreo vazio, prejudicando ainda mais a vida na calçada.<br />
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<b>Vagas de garagem obrigatórias</b><br />
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Cidades brasileiras normalmente possuem legislações que obrigam o incorporador a construir um determinado número de vagas de garagem para cada unidade residencial ou de acordo com o tamanho da área comercial construída, número que também varia de acordo com a "classe" do empreendimento (empreendimentos de luxo devem construir mais vagas). Isso normalmente significa, em edifícios residenciais: garagens subterrâneas que aumentam o custo da obra; uma ocupação do térreo que teoricamente deveria ser usada como área de lazer; ou um novo incremento na altura do prédio quando não ela não é subterrânea, como é o caso em muitos edifícios ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Em grandes edifícios comerciais, muitas vezes isso significa ainda a construção de um grande edifício garagem especificamente para o empreendimento, não por decisão única do empreendedor mas para cumprir com a legislação imposta. Ou seja, a verticalização deve obrigatoriamente dar comodidade a quem anda de carro, ocupando grandes áreas urbanas para armazená-los e impedindo aqueles que não possuem carro de não pagar por uma vaga.<br />
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<b>Exclusão urbana e incentivo ao carro</b><br />
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Sem vida nas calçadas, os edifícios finalmente decidem construir cercas para se protegerem do ambiente inóspito que é criado na rua. A monotonia ou dificuldade de se andar a pé nas cidades aliada a calçadas inseguras e legislações que promovem a construção de garagens se tornam um grande incentivo ao uso do carro e à exclusão urbana. Cidadãos se tornam condôminos ilhados que vão de um ponto a outro sem interação alguma com outros espaços da cidade, característica que foi regra em toda história do ser humano em cidades e que foi perdida nas últimas décadas.<br />
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<b>Benefícios privados, prejuízos sociais</b><br />
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Diferente de cidades de outros países, um ponto positivo das nossas cidades são os mecanismos sofisticados para pagar taxas ao poder público para que se construa acima do limite permitido na legislação. Ao invés de simplesmente proibir o desenvolvimento as prefeituras cobram pelo uso adicional da infraestrutura pública e pelos potenciais prejuízos que podem ser causados na região. Em São Paulo isso se chama "outorga onerosa" e em Porto Alegre se chama "solo criado". É uma maneira razoável de tornar a operação mais justa, sem que se privatize benefícios gerando custos sociais.<br />
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No entanto, a regulação urbana no Brasil sempre foi um tanto flexível. Planos diretores são atualizados e bairros mudam seu zoneamento com o passar do tempo, normalmente pressionados por grupos de interesse que possuem terrenos em locais estratégicos. Estes grupos praticam o "lobby", ajudando políticos (publicamente ou secretamente, financeiramente ou movimentando massas eleitorais) para que defendam mudanças em seu benefício. O relacionamento pode ser feito com vereadores, que normalmente votam nas mudanças no Plano Diretor que podem modificar o potencial construtivo de grandes áreas permitindo mais construção sem outorga onerosa. O Poder Executivo também pode ser influenciado para direcionar novas obras de infraestrutura para regiões onde estes grupos tem terrenos, aumentando seu valor no mercado.<br />
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<b>Transformação radical</b><br />
<b><br /></b>É comum que essas mudanças legislativas ocorram de forma radical para a característica urbana do bairro. Um determinado bairro zoneado para pequenas residências unifamiliares frequentemente tem sua legislação alterada para permitir grandes edifícios de noite para o dia, sem que haja uma transformação gradual deste cenário. Não é incomum vermos conjuntos de prédios altos surgirem no meio de pequenas casas, criando contrastes que não se vêem com tanta frequência em outros países. Transformações radicais também podem acontecer em cidades menos reguladas de forma geral, mas é mais comum que o ajuste do bairro em relação à demanda ocorra de forma mais gradual, com a verticalização irradiando de pontos de alta atratividade - alta demanda - e gradualmente diminuindo para zonas de menor demanda.<br />
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTGISVWsT59fo3bxjBF0svNiMfJecH4Qd3kwi9cRiPkJ9qcLbatLZ8fESEKiLU4vHzg2ahz36mBrODmjch9P3h6jbmP88yoVURLOSt58Fv9thQ9sdCqdgueAXUemAwHX7PgZkv6Th4247E/s1600/jardins.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTGISVWsT59fo3bxjBF0svNiMfJecH4Qd3kwi9cRiPkJ9qcLbatLZ8fESEKiLU4vHzg2ahz36mBrODmjch9P3h6jbmP88yoVURLOSt58Fv9thQ9sdCqdgueAXUemAwHX7PgZkv6Th4247E/s1600/jardins.jpg" height="236" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">
O bolsão de baixa densidade dos Jardins, em São Paulo, restringe a</div>
<div style="text-align: left;">
demanda da região mais atraente da cidade, gerando alguns dos imóveis</div>
<div style="text-align: left;">
mais caros do país, tanto dentro do bairro como nas suas adjacências.</div>
</td></tr>
</tbody></table>
<b>Aumento de preços: atratividade localizada e oferta restrita</b><br />
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Quando um determinado bairro ou conjunto de quadras se verticaliza sua atratividade normalmente aumenta, tanto pela renovação da infraestrutura e a introdução de novas amenidades de comércio quanto pelo aumento da densidade (que nem sempre necessariamente ocorre, como vimos anteriormente), que por sua vez aumenta o número de atividades no mesmo local, atraindo ainda mais pessoas. Esses fatores geram um aumento na demanda de pessoas de outros bairros ou ainda de outras cidades por aquele espaço, pressionando o aumento de preços apesar do aumento da oferta com as novas construções.<br />
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No entanto, estes bairros ou conjunto de quadras normalmente são espacialmente restritos, assim como o potencial construtivo limite da legislação vigente. Assim, a oferta é restrita antes do bairro se beneficiar da lei de rendimentos decrescentes, que provocaria uma diminuição nos preços. Para ilustrar essa situação, considere o seguinte exemplo: os primeiros prédios que virão junto dos primeiros supermercados, agências bancárias ou restaurantes vão contribuir para valorizar o bairro, mas a centésima torre junto ao quinto banco provavelmente nem será percebida. Seria nesse ponto que o aumento da oferta no mercado venceria o efeito das amenidades responsável por aumentar os preços – e os preços começariam a cair – mas normalmente existe um limite que restringe que elas surjam.<br />
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Verticalização, assim, é relacionada com o aumento no preço dos imóveis, embora no contexto geral esteja contribuindo para o aumento do estoque imobiliário, o que aumenta a oferta e diminui o preço. Como outro exemplo para explicar este efeito, todo novo morador de uma nova unidade está deixando um imóvel anterior: se ele está partindo buscando um lugar melhor para morar e não por necessidades financeiras, o imóvel de onde ele parte perdeu atratividade perante seu novo bairro. Um imóvel pode ter se tornado mais caro, mas outros, em outras regiões, acabam ficando mais baratos. Usando um exemplo extremo e impossível como ilustração, se um incorporador construísse um edifício com 1 milhão de unidades o preço dos imóveis naquela região iria despencar, já que se tornaria muito menos escasso.<br />
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge86gxcwitoCWG6oAi9SHxB0mDKvhscRHNRBjagcpnxocyCe0hICedVVvbLCBpzCUb9zXz5yLHWrFOIasT3ab9RsG-K92cnZ-miGcEV6I596GwHCQp1W-81OECBuTJfM6c_6FHnZOA7jd5/s1600/c+(4).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge86gxcwitoCWG6oAi9SHxB0mDKvhscRHNRBjagcpnxocyCe0hICedVVvbLCBpzCUb9zXz5yLHWrFOIasT3ab9RsG-K92cnZ-miGcEV6I596GwHCQp1W-81OECBuTJfM6c_6FHnZOA7jd5/s1600/c+(4).jpg" height="320" width="235" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">
Centro de São Paulo na década de 50: verticalizado,</div>
<div style="text-align: left;">
popular e com calçadas vivas.</div>
</td></tr>
</tbody></table>
<b>Um fenômeno local e recente</b><br />
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A verticalização raramente ocorre com todas essas variáveis que encontramos no Brasil. Ao olharmos cidades que se verticalizaram para atender uma crescente demanda por espaço, como Nova Iorque ou Hong Kong, percebemos a inexistência de maioria dessas restrições. Isso gera nessas cidades uma aglomeração acessível e sustentável, conforme comentei na minha postagem sobre os benefícios da verticalização.<br />
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Cidades brasileiras tiveram uma verticalização muito mais saudável no passado, abandonada ao longo do tempo. As primeiras zonas a se verticalizarem intensamente, como o centro de cidades como São Paulo e Porto Alegre ou o bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, não tinham recuos obrigatórios, incentivos para não ocupar o térreo nem vagas mínimas de garagem, além de ter legislações urbanas menos zoneadas de forma geral, com menos desigualdade de regras na hora de construir.<br />
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É engraçado de ver que o que provocou a suburbanização e a fuga desses bairros no passado é justamente o que as pessoas buscam hoje na procura de um imóvel: mais densidade e atividade urbana, mais facilidade de andar a pé e menos dependência do carro, apartamentos menores e preços mais acessíveis. Não é coincidência que o Centro de São Paulo foi um dos bairros que teve maior crescimento populacional, com taxas semelhantes às periferias, em um movimento para reocupar este espaço de qualidade mas esquecido.<br />
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O movimento contra a verticalização de 50 anos atrás tinha motivos muitos diferentes dos atuais, pois naquela época o resultado urbano da verticalização era muito alinhado aos objetivos daqueles que a criticam hoje. Infelizmente, as legislações que foram sendo acumuladas ao longo do tempo e que estão invisíveis ao cidadão comum criaram uma nova forma de construir para cima diferente dos centros antigos, provocando uma noção equivocada do que significa verticalizar.</div>
Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-9888203560509128312014-04-30T14:51:00.000-03:002014-04-30T14:51:52.774-03:00O futuro urbano da América<div>
<i>Esta é uma tradução do artigo "<a href="http://mobile.nytimes.com/2014/04/17/opinion/americas-urban-future.html?_r=0">America's Urban Future</a>" escrito por Vishaan Chakrabarti, professor de Columbia, sócio do SHoP Architects e autor de "A Country of Cities: A Manifesto for an Urban America"</i></div>
<div>
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiENXfAWGyeOsCoPgQv_biQGXNbJN3ELwf-_BBU0eNzS3XiK7Uaz2xTJZwrQ7rYwr8fYNLon2TE25n80ExRMJP6_13Kg_QTHkjiDAZbdCxjx3MF-rnSp0U7OFSuFWzkU-GmAAhlz5EvGxXJ/s1600/chakrabarti-hyperdensity-5-zoom+(1).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiENXfAWGyeOsCoPgQv_biQGXNbJN3ELwf-_BBU0eNzS3XiK7Uaz2xTJZwrQ7rYwr8fYNLon2TE25n80ExRMJP6_13Kg_QTHkjiDAZbdCxjx3MF-rnSp0U7OFSuFWzkU-GmAAhlz5EvGxXJ/s1600/chakrabarti-hyperdensity-5-zoom+(1).jpg" height="371" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Imagem adaptada de "A Country of Cities: A Manifeso for an Urban America", ilustrado por SHoP Architects. [Fonte: <a href="http://places.designobserver.com/feature/a-country-of-cities-building-hyperdensity/37899/">DesignObserver</a>]</td></tr>
</tbody></table>
<br />
Mesmo com toda atenção dada aos territórios hipsters como Williamsburg, Brooklyn e Portland, Oregon, os EUA estão somente nos estágios iniciais de reorganização urbana. Após meio século de decréscimo populacional, as cidades vêm ficando cada vez mais cheias – e não somente com jovens da Geração Y, mas também com famílias e com trabalhadores idosos e aposentados.<br />
<br />
Essa reorganização, caso continue, terá grandes consequências em nossas políticas e na nossa sociedade – mas somente se o governo federal se reorganizar também e mudar sua política voltada para a promoção dos subúrbios.<br />
<br />
A migração de jovens para as cidades é o fator mais relevante no que está acontecendo. A Geração Y, também chamada de “echo boomers” – filhos dos baby boomers –, constitui aproximadamente 25% da população. Depois de 100 anos onde o crescimento suburbano foi maior que o urbano, começamos a ter uma inversão nessa tendência por causa da Geração Y. Antigamente somente uma fração dos recém-formados em faculdades queria se mudar para as cidades; atualmente dois terços o fazem.<br />
<br />
No passado, muitas das pessoas de vinte e poucos anos que se mudavam para as cidades acabavam se mudando para os subúrbios quando chegavam nos trinta, pois neles as escolas eram boas, a criminalidade baixa e as amenidades urbanas voltadas para um ambiente familiar eram abundantes. Mas esses fatores vêm mudando nas cidades também. A criminalidade permanece baixa enquanto escolas públicas e parques vêm melhorando em diversos lugares.<br />
<br />
Enquanto isso, os desafios econômicos de iniciar uma vida nos subúrbios cresceram. Hipotecas e empréstimos para carros são mais difíceis de conseguir para os jovens de hoje, especialmente considerando que eles têm de lidar com a onerosa dívida que obtiveram para pagar sua graduação na faculdade. E, ainda que os preços dos aluguéis estejam aumentando, continua sendo mais fácil alugar um apartamento na cidade e pegar um ônibus ou metrô para o trabalho do que ter que se deslocar dos subúrbios (os jovens também estão atrasando a decisão de ter filhos, o que facilita viver num ambiente urbano compacto).<br />
<br />
No quesito ambiental, os traumas do Furacão Katrina e o vazamento da plataforma Deepwater Horizon, a geopolítica que envolve energia importada e os perigos da extração de energia doméstica servem de argumento para um estilo de vida que seja mais eficiente em termos de recursos, especialmente para pais focados em ensinar aos filhos a ter consciência do mundo ao seu redor.<br />
<br />
O mesmo pode ser dito a respeito dos valores sociais. As cidades eram consideradas lugares morrendo em contraste ao brilho do futuro suburbano; hoje, o futuro está centrado no núcleo urbano, já que ele está diretamente ligado a questões sociais como diversidade cultural e igualdade de casamento.<br />
<br />
Já é algo bastante significante o fato de que os jovens estão optando por começar próxima etapa de suas vidas nas cidades. Mas, além disso, cada vez mais seus pais seguem esse caminho. Não imunes aos choques econômicos da última década, e com expectativas de vida mais longas e maiores contas médicas a sua frente, aqueles que veem seus filhos saindo de suas casas acabam também descobrindo os benefícios da forma mais compacta de vida oferecida nas cidades.<br />
<br />
Considerando essas mudanças demográficas, nós temos uma oportunidade inigualável de transformar os Estados Unidos em um país mais próspero, sustentável e igualitário ao incentivarmos uma America mais urbana.<br />
<br />
Impressionantes 90% de nosso PIB e 86% de nossos trabalhos são gerados em 3% dos Estados Unidos continental, ou seja, em nossas cidades. A emissão de carbono da maioria dos habitantes urbanos é substancialmente menor. E as cidades estão oferecendo, ainda que imperfeitamente, muito mais oportunidades de ascensão social do que os subúrbios cada vez mais empobrecidos.<br />
<br />
Infelizmente, nossas políticas estaduais e federais continuam encorajando o oposto. O alastramento urbano não aconteceu por acontecer – ele é uma consequência direta de um governo interventor e centralizador. As cidades não ficam com a riqueza que criam: nossas maiores cidades mandam bilhões a mais em impostos para os subúrbios, através dos cofres estaduais e federais, do que recebem de volta.<br />
<br />
O maior subsídio federal encontrado no nosso sistema é o da dedução de juros de hipotecas, que gira em torno de 100 bilhões de dólares anuais. Os impostos em combustível não chegam nem perto do que nos custa o uso de automóveis. Custos esses que vão da poluição gerada, até a desvalorização da terra ao redor de rodovias.<br />
<br />
Por outro lado, o transporte público urbano, sistemas escolares, parques, moradias acessíveis e até mesmo aqueles que dependem da previdência social recebem migalhas em comparação a imensa generosidade que o governo despeja nos subúrbios. Não é nenhuma surpresa que nas cidades americanas bem sucedidas os metrôs são velhos, o sistema habitacional público está em ruínas e as escolas estão abaixo da média.<br />
<br />
E eu não estou dizendo que as pessoas não devem morar nos subúrbios, mas nós não deveríamos ter de pagá-las para morar neles, particularmente agora que o mundo e as necessidades da população estão evoluindo.<br />
<br />
Isso não precisa ser mais um debate controverso. Com milhões de americanos já se mudando para as cidades, a verdadeira questão é o que isso significa para o nosso futuro e como responderemos a isso.<br />
<br />
Algumas cidades já estão indo adiante: Chicago, Denver, Dallas e Nova Iorque estão aumentando suas políticas voltadas para o aumento da densidade urbana, infraestrutura e amenidades. Mas essas políticas acabam sendo insuficientes com seus residentes tendo que enviar o dinheiro de seus impostos para longe.<br />
<br />
Somente no âmbito federal é que podemos redirecionar essa gigantesca transferência de dinheiro de volta para nossas cidades, usando-a para melhorar a infraestrutura urbana através de metrôs modernos, boas escolas, locais de trabalho inovadores, moradia a preços acessíveis e ferrovias de alta velocidade. Fazer isso não beneficiaria somente os moradores urbanos; também diminuiria o nosso déficit através de um aumento de produtividade, diminuição da nossa dependência de combustível fóssil e melhoria em nossa mobilidade social.<br />
<br />
Nós estamos em um novo milênio urbano com uma nova série de desafios globais e nossos jovens estão procurando por novas, e potencialmente melhores, formas de viver. Nós devemos ajuda-los, pelo bem de todos. <br />
<div>
<br /></div>
<div>
Tradução por Thiago Alminhana</div>
<div>
Revisão por Anthony Ling</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-14561445530264091272014-04-28T09:45:00.000-03:002014-04-29T09:25:10.427-03:00Urbanismo e complexidade social<i>Esta é uma tradução do <a href="http://www.fee.org/the_freeman/detail/urban-design-and-social-complexity">artigo "Urban Design and Social Complexity"</a> escrito por Sandy Ikeda, professor da Purchase College, SUNY e autor de "The Dynamics of the Mixed Economy: Toward a Theory of Interventionism"</i><br />
<div class="MsoNormal">
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyx0CmhBuC9XJYrtglsQh-Ue_IpWtBBZj0gbUEk4QY2aQhkGHRj1lemwUq_31sUTfHDAWMYVqNOosImHFJ2sDcaDd9aVjvcePUbtwx4FogEnIBalW-Y3eLBtMkJaQFMiqcrjeESRGe3irj/s1600/songdo-inhabitat.com_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyx0CmhBuC9XJYrtglsQh-Ue_IpWtBBZj0gbUEk4QY2aQhkGHRj1lemwUq_31sUTfHDAWMYVqNOosImHFJ2sDcaDd9aVjvcePUbtwx4FogEnIBalW-Y3eLBtMkJaQFMiqcrjeESRGe3irj/s1600/songdo-inhabitat.com_.jpg" height="236" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">
"...quanto mais precisa e compreensível é a sua imagem de uma cidade, menos provável</div>
<div style="text-align: left;">
que o lugar que você está imaginando é realmente uma cidade." A imagem é uma</div>
<div style="text-align: left;">
renderização de Songdo uma "cidade" planejada na Coréia do Sul. [Imagem: <a href="http://news.buzzbuzzhome.com/wp-content/uploads/2013/10/songdo-inhabitat.com_.jpg">Inhabitat</a>]</div>
</td></tr>
</tbody></table>
O planejamento urbano sempre corre o risco de tirar a vida
do que pretende controlar.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>A coluna dessa semana
é baseada em uma palestra que ministrei no início desse ano na Universidade da
Califórnia, na ocasião da aposentadoria do economista urbano Peter Gordon.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal">
Uma das minhas heroínas é a urbanista Jane Jacobs, que me
ensinou a apreciar a importância do empreendedorismo em como os espaços
públicos – espaços onde você espera encontrar desconhecidos – são planejados. E
por ela aprendi que quanto mais precisa e compreensível é a sua imagem de uma
cidade, menos provável que o lugar que você está imaginando é realmente uma
cidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Jacobs compreendeu, como os economistas austríacos, que
ordens sociais complexas tais como as cidades não são criadas deliberadamente -
e nem poderiam ser. Essas ordens, em grande medida, não são planejadas,
surgindo da interação entre muitas pessoas e muitas mentes. Da mesma maneira
que Ludwig von Mises e F. A. Hayek compreenderam os limites do planejamento
governamental na macroeconomia, Jacobs compreendeu os limites do planejamento
governamental e o design de espaços públicos para uma cidade convencional, e
que se os governos ignorarem aqueles limites surgirão consequências negativas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Planejamento como taxidermia</b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os economistas austríacos usam o termo “ordem espontânea”
para descrever os padrões complexos de interação social que emergem quando
muitas mentes interagem. Exemplos de ordem espontânea incluem mercados, moeda,
língua, cultura e cidades vivas, grandes e pequenas. No seu livro A Economia
das Cidades (título original “The Economy of Cities”), Jacobs define uma cidade
viva como “um assentamento que gera seu crescimento econômico por meio da sua
economia local”. Cidades vivas são
celeiros de criatividade e impulsionam o desenvolvimento econômico. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há uma frase que ela usa no seu grande trabalho, Morte e
Vida das Grandes Cidades (título original “The Death and Life of Great American
Cities”), que captura sua opinião: “uma cidade não pode ser uma obra de arte”.
E ela prossegue, explicando:</div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>“Artistas, seja qual
for seu meio de expressão, selecionam da grande abundância de materiais
disponíveis na natureza e os organizam em obras que estão sob o controle do
artista... a essência do processo é disciplinada, altamente selecionada e
discriminatória da vida. Com respeito à abrangência e a literalmente infinita
complexidade da vida, a arte é arbitrária, simbólica e abstrata... Tratar de
uma cidade, ou mesmo de um bairro, como se fosse um grande problema
arquitetônico, capaz de ser resolvido através de um trabalho disciplinado de
arte, é cometer o erro de tentar substituir a vida pela arte. Os resultados de
tão profunda confusão entre arte e vida não são nem arte, nem vida. Eles são
taxidermia.”</i></blockquote>
<div class="MsoNormal">
Então, o problema com o qual se defronta um planejador
urbano, e, realmente, qualquer tipo de planejamento central, é como evitar
sugar a vida das coisas que você está tentando controlar.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<b>O trade-off entre o planejamento e a complexidade</b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ver cidades como ordens espontâneas e não como obras de arte
ajuda a explicar o trade-off entre escala e ordem. No geral, eu acredito que,
quanto maior a escala de um projeto, menor serão as descobertas e as conexões
sutis que as pessoas que usam aquele espaço serão capazes de fazer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Construir um prédio residencial em uma quadra comercial
mudará a característica daquela quadra de formas imprevisíveis. No entanto, o
ambiente urbano adjacente normalmente pode absorver a repercussão de forma a
minimizar os problemas. Por outro lado, um centro comercial do tamanho da
quadra restringe muito mais a possibilidade de uso do espaço por parte dos
habitantes e tem um impacto desproporcionalmente maior na vizinhança.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E um megaprojeto que ocupa muitas quadras limita gravemente
a diversidade e a extensão das conexões sociais, dado que desafia o planejador
a substituir o seu talento pelo talento de muitas pessoas comuns que utilizam
seu conhecimento local para resolver problemas que só elas podem estar cientes.
Tornar algo maior limita crescentemente o que as pessoas podem fazer e com quem
podem se encontrar no espaço ocupado. O aumento de escala reduz a extensão dos
contatos informais que alimentam a criatividade e a descoberta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E para um dado tamanho ou escala de um projeto, quanto mais
o planejador tentar predeterminar o tipo de atividades que os usuários podem
fazer nele, menos provável que seu design complementará o contato espontâneo
que gera e difunde novas ideias. Isso é o que tornou as regiões centrais
tradicionais tão importantes. Com o passar do tempo, a combinação de usos
diversos de espaços públicos (no sentido que me refiro aqui) aproximou um
grande número de pessoas com gostos e habilidades distintas em um mesmo local.
O design pode, obviamente, complementar aquele contato informal até certo
nível, mas passando de um nível muito baixo o design humano começa a
substitui-lo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
É claro, o pequeno não é sempre lindo, e o grande é, às
vezes, inevitável. Mas isso só reforça a importância que planejadores devem dar
sobre a influência que o aumento da escala e a intensificação do design tem
sobre uma ordem social complexa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>O planejamento privado é muito mais limitado em escala</b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E não estou falando somente de projetos governamentais.
Projetos privados poderiam, em princípio, gerar o mesmo impacto “taxidérmico”
sobre a vitalidade urbana. Mas, contanto
que o design do planejador seja pequeno comparado ao espaço que o rodeia, a
perda de complexidade não é tão grande. Sempre quando o governo de alguma forma
subsidia projetos privados, mitigando as restrições do orçamento, a escala se
torna massiva e suas consequências negativas mais radicais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Um exemplo disso pode ser encontrado cerca de 600 metros de
onde moro em Nova Iorque. O Barclays Center, a nova casa do time de basquete
Brooklyn Nets, alcançou um tamanho enorme logo que os governos estadual e
municipal ofereceram desapropriação por utilidade pública entre outros
subsídios. Construir em uma escala massiva em um ambiente urbano que já é denso
é normalmente caro demais sem estes privilégios legais, mesmo para um rico
incorporador. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Um planejador não pode construir uma cidade inteira (ou
mesmo um bairro) porque ele não pode começar a projetar e a construir a
diversidade e a complexidade social que acontece espontaneamente em uma cidade
viva. E acho que não deveria nem mesmo tentar, já que pode prejudicar
irreparavelmente (ou até mesmo matar) o tecido vivo de uma cidade. O que o
governo pode fazer? No curso normal de suas atividades, um governo pode,
talvez, na melhor das hipóteses, evitar fazer as coisas que impediriam a
emergência da infraestrutura social invisível que dá origem à diversidade, ao
desenvolvimento e a genuína vivacidade.</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
O resto é basicamente taxidermia.<o:p></o:p><br />
<br />
<i>Tradução por Matheus Pacini</i><br />
<i>Revisão por Anthony Ling</i></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-26926027047775091582014-04-22T17:22:00.000-03:002014-04-28T08:44:17.283-03:00Moradia é uma questão de oferta e demanda<div class="MsoNormal">
<i>Esta é uma tradução do <a href="http://www.economist.com/blogs/freeexchange/2014/04/housing-markets">artigo "The spectre hauting San Francisco"</a> escrito por Ryan Avent, correspondente de economia da revista The
Economist e autor de “<a href="http://www.amazon.com/The-Gated-City-Kindle-Single-ebook/dp/B005KGATLO">The Gated City</a>”</i><br />
<i><br /></i>
<i>-</i></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
Ontem o the New York Times publicou uma matéria sobre uma
crescente crise de aluguéis nos Estados Unidos:</div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>“Para aluguéis somados
à seus acréscimos serem considerados acessíveis eles devem representar não mais
de 30 por cento da renda de uma residência. Mas esta meta está crescentemente
inatingível para famílias de classe média em um mercado apertado que empurra os
aluguéis pra cima cada vez mais rápido, superando modestos aumentos salariais.</i><i>A dificuldade não é
restrita à cidades tradicionalmente caras como Nova Iorque ou San Francisco.
Uma análise do The New York Times pela Zillow, o site de imóveis, encontrou 90
cidades onde o aluguel mediano – sem contar os acréscimos – era mais que 30 por
cento da renda bruta mediana da cidade.”</i></blockquote>
<div class="MsoNormal">
A matéria concorda com a ideia de que o aumento dos aluguéis
– ou custos de moradia em geral, nos Estados Unidos ou qualquer outro lugar –
tem motivos além da oferta e demanda. Ativistas para moradia acessível gostam
de apontar que maioria das novas construções são habitações de luxo, querendo
dizer que a oferta de unidades não-luxuosas não estão crescendo muito. Outros
gostam de dizer que os preços historicamente diminuíram junto com a diminuição
no ritmo da construção.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ambos estes argumentos estão errados. O último ponto inverte
causa e consequência: dado um declínio inesperado na demanda por motivo de
crises financeiras ou outros choques os preços caem e o interesse em novas
construções de dissipa até o esgotamento do estoque existente. O primeiro ponto
deixa escapar a fungibilidade fundamental do imóvel. Quando há um atraso na
construção de novas unidades de luxo os muito ricos compram estoques
imobiliários mais antigos a preços exorbitantes e pagam para reforma-los. Se vê
isso em Londres, por exemplo, onde literalmente toda residência na cidade está
sendo reformada, incluindo aquelas que foram reformadas ano passado. Moradores
tomam iniciativa para espantar construtoras que tentam erguer seus andaimes,
supondo que os proprietários querem adicionar um ou dois andares na sua
residência. É uma dor de cabeça. Tem uma equipe de empreiteiros arriscados
escavando uma nova adega pra gente neste exato momento. O ponto é que se a
demanda para construções de ponta não seja satisfeita com novas construções ela
vai fluir à oferta existente, colocando pressão para aumentar os preços de
imóveis até se tornarem absurdos.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Um artigo recente no TechCrunch coloca muito bem este ponto
em uma boa explicação sobre a crise imobiliária de San Francisco. A economia da
Bay Area está disparando mas a região é uma das mais difíceis de se construir
no país. Assim, preços estão disparando e bairros estão se transformando,
ocasionalmente gerando conflitos sociais desagradáveis.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMTGpu63vmmLCiFB5YFTNsiE7RGuHt2ZPDf33CmQtDMmH-zQFQHH51kyvOZchOq1B69jlYJLPUjgSBOJnUaAHBIRNvI9Qc7i41_Ku749gNG_05mlKuLFvVC-LoncA2NMkLzeAnrNXcKm9n/s1600/especulacao.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMTGpu63vmmLCiFB5YFTNsiE7RGuHt2ZPDf33CmQtDMmH-zQFQHH51kyvOZchOq1B69jlYJLPUjgSBOJnUaAHBIRNvI9Qc7i41_Ku749gNG_05mlKuLFvVC-LoncA2NMkLzeAnrNXcKm9n/s1600/especulacao.jpg" height="251" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">
Casa no Itaim Bibi se recusa a vender a incorporadores: não necessariamente estão</div>
<div style="text-align: left;">
fazendo um bem à cidade [<a href="http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/03/1428884-escola-de-musica-coloca-faixa-protesto-contra-especulacao-e-corretores.shtml">Fonte: Folha</a>]</div>
</td></tr>
</tbody></table>
Mas a autora do artigo do TechCrunch, Kim-Mai Cutler, coloca
o dedo na ferida do problema. Sim, restrições à oferta são a causa da crise de
acessibilidade. O problema surge ao tentar entender porque aquelas restrições
estão lá e como aliviá-las.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A questão não é uma limitação técnica. Em mercados de
petróleo se tem uma fonte barata de oferta na forma de petróleo que basicamente
borbulha naturalmente do chão. Mas o aumento da demanda reduz a disponibilidade
de oferta de petróleo desse tipo e preços disparam. Nesse ponto que todos nós
nos preocupamos até que a tecnologia vem para nos resgatar. Engenheiros
encontram novas formas de fazer coisas usando menos petróleo, novas maneiras de
escavar buracos e novas maneiras de atirar água na pedra até ela não aguentar
mais e chorar lágrimas de petróleo. Moradia não funciona exatamente assim.
Existem maneiras mais baratas e mais caras de se construir imóveis, mas em
cidades que enfrentam estas crises os custos de construção constituem uma
parcela relativamente pequena do custo da moradia. O resto é renda.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sim, renda, no sentido econômico da palavra:</div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>“Renda econômica é o
custo dos ativos ou das vantagens não produzidas; o resultado de uma
exclusividade natural ou adquirida.”</i></blockquote>
<div class="MsoNormal">
<i><o:p></o:p></i>Obrigado, Wikipédia. Então, San Francisco é um lugar legal
pra morar. É um lugar legal pra morar por uma série de motivos: o clima não é
ruim, a zona rural ao redor é incrível, a cidade tem todo tipo de coisas
geniais e (talvez o mais importante), morar em San Francisco dá acesso ao
mercado de trabalho local, algo excelente para se ter acesso. Se regulações não
fizessem muito para desencorajar a criação de mais oferta de moradia o mercado
por San Francisco seria bem competitivo: qualquer um que possui um terreno em
San Francisco poderia fazer mais San Francisco ao construir naquele terreno. O
preço de San Francisco cairia ao seu custo marginal, que é o custo de construir
uma unidade adicional de moradia, que não é muito alto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora, ao baixar o custo de morar em San Francisco o
superávit do consumidor disponível para morar lá vira extraordinário e todo
mundo ia querer se mudar pra lá. Fluxos de imigrantes só parariam quando o
custo de fazer mais San Francisco crescesse até igualar o valor ganho de San
Francisco pelo morador marginal. Preços aumentariam porque quanto mais densa a
cidade se tornasse mais caro seria de construir novas unidades (construir
torres super-altas custa mais por unidade que construir edifícios de
apartamentos modestos). E o valor para o morador marginal diminuiria por dois
motivos. Primeiro, o morador marginal por definição é alguém que está
relativamente indiferente entre morar em San Francisco e morar em algum outro
lugar. Todos mais desesperados em morar em San Francisco já teriam se mudado.
Segundo, a medida que as pessoas entram na cidade os custos de congestão
aumentam, reduzindo o valor de San Francisco para todos em San Francisco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De forma geral, é por isso que temos coisas como Leis de
Zoneamento. A população que maximiza o bem-estar de San Francisco pode ser
maior (e possivelmente muito, muito maior) do que a população que maximiza o
bem-estar daqueles que já moram em San Francisco. Então a cidade cria uma série
de regulações que efetivamente tornam os residentes atuais monopolistas,
capazes de artificialmente limitar a oferta e aumentar os preços. A sociedade
como um todo fica em uma situação um pouco pior, enquanto os moradores de San
Francisco ficam em uma situação um pouco melhor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas, na verdade, a estrutura da política municipal tende a
aumentar o rent-seeking, gerando custos sociais enormes. Os custos e os
benefícios do crescimento populacional ocorrem de maneira que praticamente
garantem regras construtivas altamente restritivas. O (grande) potencial
benefício aos possíveis futuros moradores de San Francisco viriam das pessoas
que não tem poder político algum em San Francisco. Os ganhos do crescimento
populacional são distribuídos amplamente aos moradores de San Francisco: quando
um novo projeto permite que mais pessoas morem em San Francisco, todos na
cidade tem um pequeno ganho desse crescimento – pelo aumento do tamanho do
mercado, mais oportunidades profissionais, spillovers de conhecimento e assim
por diante. Mas há um nível de população que gera um prejuízo líquido para os
moradores de San Francisco. Assim, moradores de San Francisco vão limitar o
crescimento antes que ele atinja este nível, pois sempre haverá constituintes
poderosos para travar projetos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Assim terminamos com regulações altamente restritivas ao
mercado imobiliário. A oferta limitada significa que a distância entre o custo
marginal de uma unidade em San Francisco e o valor marginal para o morador de
San Francisco (e o preço de mercado dessa unidade) é enorme. Essa diferença é
embolsada pelo NIMBY (NT.: acrônimo de “Not In My BackYard”, ou “Não No Meu
Jardim”) rent-seeker de San Francisco. Não importa o qual altruísta eles achem
que seja o seu trabalho, o resultado é similar a quando ricos da bancada
industrialista fazem lobby para eliminar concorrentes do seu mercado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US">O New York
Times cita Tyler Cowen:<o:p></o:p></span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>“Tyler Cowen, um professor
de economia da George Mason University, argumenta que a própria definição de
trabalho e capital são arbitrárias. Ele tenta, ao invés disso, procurar os
fatores de produção relativamente escassos e encontra dois: recursos naturais,
que estão terminando, e boas ideias, que podem atingir mais mercados do que
nunca.</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>Se você possui um
desses você consegue tirar o máximo dos benefícios do crescimento. Senão, não.”</i></blockquote>
<div class="MsoNormal">
Ideias e recursos naturais são escassos relativos à trabalho
desqualificado e água salgada, mas eles não são escassos. Temos máquinas para
produzir mais ideias e chamamos elas de coisas como “San Francisco”. Essas
ideias, convenientemente, nos permitem estender a vida aparentemente limitada
de reservas de recursos naturais praticamente indefinidamente. Se você tinha
grandes reservas de petróleo você podia achar que tinha tudo garantido já que
não se pode fazer mais delas. Então veio a fratura hidráulica e de repente sua
habilidade de colher as recompensas do crescimento econômico foram
drasticamente reduzidas. E se você foi o espertinho que trabalhou para
companhias que desenvolveram ideias brilhantes como a fratura hidráulica, você
pode ter achado que tinha tudo garantido, já que criar novas ideias é difícil
e, portanto, valioso. Aí você foi pagar seu aluguel.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É útil pensar nessas coisas dentro do contexto do “Capital”
de Thomas Piketty. Considere este gráfico:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvXxjZTNrEHKDdK7ribAPs3rS79Nq4665kUdrb6j0_HSWD1BMnsdJkIqUFYKVKqDXgk8S3kLLrrHLmz9_N45yR9smclE7BKu0wd03QaPB4AAo4OjqhO-5DEtKCfokJmUEmZKDiJwpLWpN6/s1600/photo1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvXxjZTNrEHKDdK7ribAPs3rS79Nq4665kUdrb6j0_HSWD1BMnsdJkIqUFYKVKqDXgk8S3kLLrrHLmz9_N45yR9smclE7BKu0wd03QaPB4AAo4OjqhO-5DEtKCfokJmUEmZKDiJwpLWpN6/s1600/photo1.jpg" height="291" width="400" /></a></div>
<span id="goog_1931807600"></span><span id="goog_1931807601"></span><br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A proporção de riqueza na renda nacional está crescendo nos
Estados Unidos, e boa parte disso desse crescimento está associado à moradia
(na Grã Bretanha e na France, moradia é ainda mais importante). É possível que
um aumento no estoque de moradias reduza o preço e o valor das moradias, mas
ele não pode reduzir a riqueza total. Pois nesse caso os ricos que pagavam uma
boa parte do seu salário em moradia podem nesse caso guardar esse dinheiro e
investir isso em outro lugar, levando a aumentos correspondentes em outros
investimentos sejam domésticos ou estrangeiros. Mas eu suspeito que a história
não para por aí. No seu artigo, Cutler coloca um ponto ao qual já me referi no
passado:</div>
<div class="MsoNormal">
<blockquote class="tr_bq">
<i>“O economista da
Universidade de Berkeley Enrico Moretti calcula que um único emprego no setor
de tecnologia normalmente produz outros cinco empregos em serviços locais
adicionais.</i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i></i><i>Mas em San Francisco
este efeito de spillover é muito menor. É porque uma porção tão grande da nossa
renda está indo para custos de moradia. O economista Ted Egan estima que cada
novo emprego no setor de tecnologia em San Francisco gera algo em torno de dois
empregos adicionais, não cinco.”</i></blockquote>
</div>
<div class="MsoNormal">
A dinâmica de moradia em San Francisco aumenta a intensidade
do capital para consumo. Isso contribui para um aumento na renda e no estoque
de riqueza na economia. As restrições de zoneamento são uma ferramenta da
oligarquia, efetivamente. Estou apenas um quarto brincando. Mas elas são mesmo:
elas são uma maneira através da qual donos de capital extraem uma parcela aumentada
do excedente gerado pela criação de empregos.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Então o que deve ser feito? Bem, uma opção é simplesmente
usar as manivelas do governo para recapturar o excedente e redistribui-lo às
massas. Não é uma solução ideal, pelo menos neste caso, pois empilha incentivos
desagradáveis sobre as distorções que já foram criadas pelas restrições de
zoneamento. Melhor corrigir a distorção inicial, o que nos leva à segunda
opção.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Você pode reformar instituições locais para gerar melhores
resultados de zoneamento. Há várias boas ideias de como fazer isso por aí. O
que está menos claro é como alguém cria suporte para a reforma institucional. Não
devemos sair dizendo que é impossível, mas primeiro essas ideias devem vencer
batalhas intelectuais para depois vencer batalhas políticas, então é seguro
concluir que tais reformas representam parte de uma estratégia de melhorias de
longo prazo.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Talvez o mercado vai se corrigir sozinho? Isso não é
totalmente impossível. Vamos assumir que há uma persistência à restrições de
zoneamento, tanto que cidades relativamente liberais para construção se
mantenham dessa forma mesmo após o crescimento da população. Vamos assumir
também que a medida que San Francisco perde possíveis migrantes para outras
cidades, começa a surgir massas críticas de pessoas abrindo caminho para o
surgimento de novos hubs de tecnologia, que pelo menos parte se dará em cidades
liberais para construção. Então talvez uma delas eventualmente gera um salto na
sua liderança tecnológica como uma cidade que gosta de construir mais que San
Francisco. Por outro lado, se o zoneamento de San Francisco rejeita apenas
não-techies que somente aumentariam a congestão de San Francisco sem contribuir
muito às suas sinergias tecnológicas, então as restrições de San Francisco
podem estar reforçando seu status como um líder tecnológico.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Isso deixa a tecnologia como a salvação. Talvez possamos
inventar ótimos hologramas que tornam menos crítica a presença física em San
Francisco. Talvez inventemos a teletransportação, que o raio parta as leis da
física. Talvez simplesmente vamos desenvolver maneiras melhores de construir e
desenhar cidades, que minimizam os custos reais ou percebidos de novas construções
aos moradores da cidade.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Ou podemos não fazer nada, simplesmente sentar e observar a
moradia permanecer um instrumento da oligarquia. Quem vai saber. Mas seja como
for que isso acabe, devemos ser claros sobre o que está acontecendo e quais
foram os seus efeitos.<o:p></o:p></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-35486742390914527702014-04-11T18:37:00.001-03:002014-04-11T18:47:05.753-03:00Urbanismo sem governoPerguntar “Mas quem vai construir as estradas?” é uma óbvia reação às propostas de um sistema político libertário. Porém, isto nos leva a interessante questão sobre “Quem construiu as estradas em sociedades anárquicas?”. Os Estados Unidos da época colonial fornece alguns exemplos que respondem a esta questão. Talvez o melhor exemplar anarquista na história dos Estados Unidos tenha sido em Rhode Island. Batistas apátridas fugindo de Massachusetts fundaram as cidades de Portsmouth e Warwick.<br />
<br />
Diferentemente dos Batistas, William Penn não intencionava a criação de uma colônia anarquista. A Pensilvânia manteve-se, porém, sem um governo de 1684 até 1691, como evidenciado pela falha de Penn em coletar impostos com sucesso durante o período. É difícil saber muito sobre a construção de ruas desta época em parte pelo tempo que já se passou e em parte porque, como Murray Rothbard escreve, “A falta de manutenção de registros em sociedades sem Estados – já que apenas funcionários do governo aparentam ter o tempo, energia e recursos para devotarem-se a estas atividades – produz uma tendência direcionada a um viés governamental nos métodos de trabalho dos historiadores.” Contudo, sabemos que os bairros da Filadélfia próximos ao Rio Delaware estavam crescendo durante esta época.<br />
<br />
Uma das mais antigas ruas ocupadas continuadamente do país é o Elfreth's Alley (Beco de Elfreth) na Filadélfia. Foi inaugurado em 1702, pouco após este período de completa anarquia, e serviu como uma rota de conexão entre as propriedades dos comerciantes locais com a já próspera Second Street. Como a Sociedade dedicada à preservação ao Beco escreve:<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>“O Elfreth's Alley – popularmente conhecido como 'Nossa mais antiga rua residencial' </i><i>–</i><i> data dos primeiros dias do século XVIII. Vinte anos após William Penn fundar a Pensilvânia e estabelecer a Filadélfia como sua capital, a cidade já havia se tornado um bem sucedido e próspero centro comercial nos bancos do Rio Delaware.</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjq64Nfm3klIAUuaz3brlMe5Pt3vT4txCP-ZeNJKk4Brv1dTUvxeR-15Y23Oc0zpM8cafxr6hqoeueEQMOHaSGo43kLUIEgTAB6q4YQtbom42Zc2eTXYDV9H2uq-4Cpk-JL7N_hGFkRZNxz/s1600/elfreths-alley-600.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjq64Nfm3klIAUuaz3brlMe5Pt3vT4txCP-ZeNJKk4Brv1dTUvxeR-15Y23Oc0zpM8cafxr6hqoeueEQMOHaSGo43kLUIEgTAB6q4YQtbom42Zc2eTXYDV9H2uq-4Cpk-JL7N_hGFkRZNxz/s1600/elfreths-alley-600.jpg" height="267" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Elfreth's Alley, na Filadélfia. [<a href="http://www.visitphilly.com/history/philadelphia/elfreths-alley/">Foto por C. Ridgeway</a>]</td></tr>
</tbody></table>
<i>Os filadélfios haviam abandonado os planos de Penn de uma 'vila verde e interiorana' criando, ao invés, uma paisagem urbana semelhante ao que lembravam da Inglaterra. Cais prolongavam-se pelo rio, acolhendo navios de todo o mundo. Lojas, tavernas e casas abarrotavam a área do curso d'água. Os filadélfios fizeram e venderam itens essenciais à vida no Novo Mundo e o comércio era parte do dia à dia.</i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>Dois destes artesãos coloniais, os ferreiros John Gilbert e Arthur Wells, possuíam as terras onde hoje está o Elfreth's Alley. Em 1702 cada um deles cedeu uma porção de seu terreno para criar uma passagem ao longo de suas propriedades que conectava suas oficinas próximas ao rio com a Rua Segunda a um quarteirão de distância. Naquela época a Second era uma das principais rodovias norte-sul, conectando a Filadélfia com cidades ao norte e ao oeste da cidade e além.”</i></blockquote>
Gilbert e Wells doaram suas terras para beneficiar seus negócios e para aperfeiçoar a rede de transportes da cidade mantendo a tradição Quaker de voluntarismo. As ações deles demonstram o poder da cooperação para o ganho mútuo, mas também é digno de nota que ruas construídas em terras doadas são susceptíveis de serem estreitas, como o Elfreth's Alley. William Penn vislumbrou a Pensilvânia como uma “vila interiorana” mas, sem a capacidade de aumentar os impostos necessários para aplicar sua visão, ele não pode evitar que os residentes desenvolvessem o tipo de expansão denso e de uso misto que sustentou a indústria crescente da Filadélfia.<br />
<br />
A Inglaterra Vitoriana nos dá outro exemplo de rápida expansão urbana sob um governo bastante limitado. Décadas após a construção do Elfreth's Alley, o desenvolvimento urbano absteve-se de qualquer planejamento, infraestrutura governamental ou códigos de construção em Londres e várias outras cidades inglesas. Bairros como West End e Nottingham desenvolveram-se durante este período de política governamental de não interferência, confiando no setor privado para prover toda a infraestrutura desde ruas a iluminação e drenagem.<br />
<br />
Em ambos os casos de desenvolvimento urbano <i>laissez-faire</i> vemos ruas bastante estreitas, já que donos das terras devem pesar entre prover acesso e incorporar visando lucro. Ao contrário do período de total anarquia na Filadélfia colonial, Londres tinha um sistema de Atos Privados (Private Acts), que exigiam dos desenvolvedores a permissão do Parlamento para implementar qualquer mudança significativa no uso da terra. Na conclusão do empreendimento alguns bairros se utilizaram de <i>covenants </i>[N.T.: estes semelhantes à normas de loteamento ou condomínio], para obrigar a manutenção de bens comuns como a iluminação e até mesmo exigir normas arquitetônicas para construtores. Em seu capítulo do livro A Cidade Voluntária (<a href="http://www.amazon.com/The-Voluntary-City-Community-Society/dp/1598130323">The Voluntary City</a>, no original), Stephen Davies explica que os donos das terras não colocaram em prática estes contratos em todos os lotes e que o rigor destes variava largamente. Como estes contratos tendiam a aumentar tanto a qualidade quanto o preço da moradia, esta variação permitia que os construtores prestassem serviços aos residentes de baixa e média renda, dependendo de onde eles construíssem:<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>“Os incorporadores foram capazes de adaptar a extensão do fornecimento de 'serviços públicos' através de contratos de acordo com a natureza e a demanda local, assim como outros fatores como os custos da terra e da construção. Este é um contraste marcante com a rigidez das tentativas do Estado em fornecer estes bens através de planejamento público, leis de zoneamento e semelhantes. A flexibilidade também se estendia a aplicação dos contratos. Os proprietários e os incorporadores muitas vezes não aplicavam as cláusulas de construção em arrendamentos quando a demanda por terras estivesse baixa, desde que o aluguel fosse pago.”</i></blockquote>
A Filadélfia colonial e a Londres vitoriana construíram suas ruas sob circunstâncias e instituições legais diferentes, mesmo assim, ambos os casos demonstram que a infraestrutura urbana pode ser fornecida sem o governo. Talvez o livre mercado nunca fosse capaz de construir o <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Interstate_Highway_System">Interstate Highway System</a> [N.T.: Sistema de Rodoviais Interestaduais dos EUA], mas ele provou-se capaz de facilitar a criação de ruas charmosas e funcionais que duram séculos.<br />
<br />
<a href="http://marketurbanism.com/2014/03/07/urbanism-without-government/"><i>Artigo por Emily Washington</i></a><br />
<i>Tradução por Alan Klinke</i><br />
<i>Revisão por Anthony Ling</i>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-66981764066291243242014-04-07T12:27:00.000-03:002014-04-07T12:27:27.816-03:00Cidades, Escalabilidade e Sustentabilidade<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/kgr_Ao2KmO8?rel=0" width="420"></iframe><br />
<br />
<div class="MsoNormal">
O Santa Fe Institute é o líder mundial no estudo de sistemas
complexos. Nos últimos anos as cidades, aglomerações de humanos, são prioridade na sua pesquisa. Liderado pelo físico Geoffrey West, sua pesquisa mostra que cidades são ambientes extremamente complexos, mas que algumas características podem ser compreendidas matematicamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Uma das metáforas que em sido usada consistentemente é de
comparar cidades à organismos. Ouvimos com frequência frases como o ‘metabolismo
de cidades’, o ‘DNA do mercado’ ou até mesmo a ‘ecologia do sistema urbano’
etc. Então surge a pergunta se isto é apenas uma metáfora, ou se há algo sério,
substância na afirmação.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Escalabilidade é olhar para como as propriedades de um sistema
variam com seu tamanho. Em biologia vemos que quanto maior você é, menos você
ganha per capita, menos energia per capita etc. Então há uma economia de
escala. Associado à isso há uma desaceleração do ritmo da vida: você vive mais,
as coisas demoram mais para acontecer, corações batem mais devagar etc. Em cidades
vemos o comportamento contrário.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>A medida que cidades aumentam vemos um aumento sistemático
em produtos socioeconômicos. Você vê que a criação de riqueza é mais rápida, a
inovação é mais rápida. Todas as coisas associadas à interação social aumentam
da mesma forma, e esse aumento pode ser expressado de forma muito simples: se
você dobra o tamanho da cidade você ganha aproximadamente 15% de aumento em
salários, riqueza, inovação e também os efeitos negativos que você ganha ao
morar em uma cidade.</i></div>
<i><br /></i>
<div class="MsoNormal">
<i>Neste sentido você pode ver o que é uma cidade: uma cidade
é uma concentração de pessoas, com infraestrutura que permite que você possa simplesmente
concentrar interações eficientemente em termos de número de interações por
unidade de tempo, encolhendo tempo e encolhendo espaço para que você essencialmente
crie um acelerador social, um acelerador de concentração de atividade humana.”</i><o:p></o:p></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-51099278886052138552014-03-31T20:48:00.001-03:002014-03-31T20:48:49.166-03:00Em defesa da verticalização - Uma resposta a Leonardo Cisneiros<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge2EUPZDMgc4qBv3LsDWINkUvmMiIYpm40HAfU2tRa9-K3Y_QmhdVrkovpboX2yWo8qHzEPzGcuqw0PRrl0k430TGNoXIqCYTWcVM1AEFWCFVhYGSmWLlwvFXzPNp-4uwJes91xFU6Mqji/s1600/1_mong_kok_hong_kong_night_2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge2EUPZDMgc4qBv3LsDWINkUvmMiIYpm40HAfU2tRa9-K3Y_QmhdVrkovpboX2yWo8qHzEPzGcuqw0PRrl0k430TGNoXIqCYTWcVM1AEFWCFVhYGSmWLlwvFXzPNp-4uwJes91xFU6Mqji/s1600/1_mong_kok_hong_kong_night_2.jpg" height="257" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A vida urbana das calçadas se revela sob a densidade de prédios de Kowloon, Hong Kong.</td></tr>
</tbody></table>
"<a href="https://direitosurbanos.wordpress.com/2014/03/23/qual-o-problema-da-verticalizacao/">Qual o problema da verticalização</a>" é um excelente texto pelo arquiteto e urbanista Leonardo Cisneiros, com quem já tive prazer de debater através do grupo do Facebook "<a href="https://www.facebook.com/groups/direitosurbanos/">Direitos Urbanos - Recife</a>", talvez um dos fóruns mais movimentados do Brasil para aqueles interessados por assuntos relacionados à cidade. Através do seu blog, "Direitos Urbanos", o professor de urbanismo Leonardo Cisneiros é um dos melhores interlocutores que já tive, dada sua argumentação através de um ótimo conhecimento técnico ao invés de um posicionamento ideológico, não raro em grupos de urbanismo.<br />
<br />
Apesar de concordar com grande parte do posicionamento de Cisneiros, me considero um passo além a favor da verticalização, tentando aqui justificar minha opinião com alguns contrapontos ao seu texto. Ao invés de comentar sua postagem através do Facebook, perdendo a informação com o tempo, faço por aqui a minha resposta. Espero que seja bem recebido pelo Cisneiros e que dê início a um debate produtivo, algo que sinto falta na blogosfera urbanística brasileira.<br />
<br />
Começo mencionando que não achei claro pelo conteúdo do texto se a crítica de Cisneiros é efetivamente à verticalização da forma que ela é feita em Recife ou em relação ao adensamento "em excesso", a qual várias das críticas são atribuídas. Concordo que o projeto do Novo Recife (e de grande parte da verticalização feita em Recife e na maioria das cidades brasileiras) é uma verticalização exclusiva, que não produz nenhum tipo de vitalidade e que claramente favorece um determinado grupo de pressão política. No entanto, essa verticalização raramente produz a densidade populacional em excesso mencionada pelo autor já que, como ele mesmo cita, verticalizar não significa aumentar a densidade.<br />
<br />
Exemplo disso é quando ele sugere recuos e pilotis para mitigar problemas ambientais do adensamento demasiado, mas ao mesmo tempo critica edifícios isolados no terreno que não produzem vitalidade urbana. Talvez eu não tenha entendido a lógica de Cisneiros, mas ele me pareceu defender duas abordagens opostas simultaneamente. Assim, não tento aqui defender a forma com que a verticalização é feita em Recife ou em maioria das cidades brasileiras, com recuos, zoneamento de atividades e térreos cercados, mas sim uma verticalização mais densa e menos restrita, efetivamente resultado de uma demanda por espaço construído.<br />
<br />
Hong Kong, um dos exemplos de urbanização alvo de crítica pelo autor tanto pela verticalização quanto adensamento em excesso, adota a regulação de ausência de recuos na base da edificação e de recuos para a torre (diferente do que informa o autor, a cidade possui legislações e limites de ocupação do solo) de certa forma tentando buscar o melhor desses dois mundos. Edificações com pilotis livres, no entanto, eliminam as atividades do andar térreo, limitando as atividades aos pedestres. Quanto ao efeito da ilha de calor, concordo plenamente que é um resultado do adensamento verticalizado, mas ao meu ver as pessoas que decidem em morar em tais regiões estão dispostas a enfrentar 2 ou 3 graus a mais em troca dos benefícios de um local adensado, além de em breve vermos a dissemniação de coberturas e fachadas verdes parar mitigar este problema.<br />
<br />
O texto também argumenta que o adensamento em excesso sobrecarrega a infraestrutura urbana, mais especificamente a infraestrutura de trânsito e de drenagem e saneamento urbano. <br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/gyJdfY4d3eM?rel=0" width="420"></iframe>
<br />
A parte do artigo de Cisneiros que se refere ao trânsito parte do princípio de que o sistema atual, onde o uso das ruas é gratuito ao usuário final, é uma constante independente da cidade em questão. Com a ausência de mecanismos de controle da oferta para os usuários no trânsito, que pode ser chamado de "taxa de congestão" ou até de "pedágio urbano", a demanda para o uso do recurso em questão - infraestrutura viária - realmente se torna maior que o normal, independente de maior ou menor adensamento. Diversas cidades como Estocolmo, Londres e Cingapura já adotaram mecanismos neste sentido (embora muito diferentes entre si) para desincentivar o uso do transporte individual e distribuir a demanda por vias de forma mais eficiente no espaço, evitando o sobrecarregamento da infraestrutura mesmo com densidades relativamente altas. Ou seja, o problema do sobrecarregamento da infraestrutura viária por causa da densidade em excesso pode ser corrigido criando mecanismos para aumentar a eficiência do seu uso, não necessariamente reduzindo a densidade populacional ou aumentando a sua capacidade.<br />
<br />
A tabela apresentada pelo autor também passa a ideia de que densidades altas demais requerem grandes investimentos em transporte de massas. Porém, na verdade, quanto maior a densidade, mais economicamente viáveis (ou até lucrativos) são estes investimentos. Esta, inclusive, é justamente a estratégia adotada pela Prefeitura de São Paulo, permitindo o adensamento nas regiões de acesso à rede de metrô. Uma cidade ainda mais densa como Hong Kong, utilizada como exemplo negativo pelo autor, há uma proporção substancialmente maior de deslocamentos a pé e de metrô (que opera sem subsídios públicos) dada a eficiência da rede e da facilidade do trânsito a pé.<br />
<br />
Cisneiros também relaciona adensamento, impermeabilização do solo e problemas de drenagem, embora essas características não necessariamente tem relação direta uma com a outra. Nos EUA é possível encontramos os e zonas suburbanas com grandes áreas impermeabilizadas pelos strip malls e estacionamentos, pouco densas mas sem problemas de drenagem. Outras cidades como Nova Iorque ou até mesmo Hong Kong tem alta densidade e impermeabilização do solo, mas tem uma infraestrutura robusta que impede problemas de alagamentos. No outro extremo, aqui mesmo no Brasil, temos áreas pouco densas e pouco impermeabilizadas mas que também tem problemas de alagamentos por causa de geografia desfavorável aliada à ausência de infraestrutura adequada. Ou seja, não há uma correlação visível entre densidade, verticalização e alagamentos, sendo difícil usá-la como parte da argumentação contra verticalização.<br />
<br />
A tabela também cita "diminuição da qualidade de vida" com densidades muito altas. No entanto, me parece ser uma avaliação não só subjetiva como não estar diretamente relacionada uma com a outra. A escolha do lugar onde morar e da qualidade de vida como um todo é resultado de uma série de fatores. Em muitos casos pessoas se mudam devido à oferta de trabalho e de serviços como acesso à saúde e educação, algo que cidades mais densas normalmente tem mais a oferecer. Uma pessoa sem renda e sem acesso à serviços básicos do interior da Índia que se muda para Nova Délhi normalmente tem um um aumento relativo da sua qualidade de vida, embora as densidades sejam extremamente altas (e inclusive sem verticalização). O mesmo ocorre com pessoas que se mudam do interior da China para Hong Kong para morar em microapartamentos, ou até mesmo da zona rural francesa para um studio de 13m² na densa Paris. Estes cidadãos provavelmente terão um aumento na sua qualidade de vida apesar do aumento substancial na densidade do seu meio.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZXYzZgVInK298wAlcltcv3vWnc6f-w4nVz1yW325WJRbIdCeGumjr506A-ULZI2QdZX6Qct-xR8yynZtx9jEZrXCM_gMjbCujRlwHpteVjcX-tCx8LpXhrZDbt5iTpocAkhW2FoL4kAg_/s1600/paris-apartments-view.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZXYzZgVInK298wAlcltcv3vWnc6f-w4nVz1yW325WJRbIdCeGumjr506A-ULZI2QdZX6Qct-xR8yynZtx9jEZrXCM_gMjbCujRlwHpteVjcX-tCx8LpXhrZDbt5iTpocAkhW2FoL4kAg_/s1600/paris-apartments-view.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://paris-pictures.yellowstay.eu/paris-apartments-panoramic/75/">Microapartamento em Paris</a>: <a href="http://www.avantgardeimmobilier.com/listing.php?lang=fr&agence_id=5633&for_sale=2&meuble=1&offset=0&refmode=true&posi=meubl%E9e-longue-dur%E9e&&sort_by=surface&offset=0">10m² custa em torno de R$2000 por mês</a>.</td></tr>
</tbody></table>
Voltando a Hong Kong, Leonardo deixa de ver a visão global de o que significa essa pujante zona independente no sul da China. Hong Kong é provavelmente a cidade com maior demanda habitacional de toda Ásia, pela atratividade do ambiente de trabalho e de negócios e, também, pela qualidade de vida que ela oferece. A cidade opta por esse resultado para poder absorver mais pessoas no mesmo ambiente sem prejudicar a mata nativa ao seu redor: apenas 5% da ilha é habitada, sendo os outros 95% mata intocada e de grandes desníveis geográficos. Para mitigar o avanço da mancha urbana, Hong Kong optou crescer tanto para cima como com aterros, avançando a cidade na sua baía. Apesar de gerar imagens urbanas dramáticas, Hong Kong é um refúgio para fugitivos da China comunista, migrantes filipinos e cidadãos do resto do mundo que, via de regra, tem seus salários multiplicados ao ingressar na ilha. Concordo que a cidade poderia avançar mais na área de mata para diminuir a pressão da demanda imobiliária, mas é uma manobra que definitivamente precisa de cuidado. O que não vejo como uma solução é simplesmente impedir o acesso de migrantes restringindo o mercado habitacional, que diminuiria a pressão pelo adensamento mas tornaria a cidade mais exclusiva.<br />
<br />
Em contraponto a Recife, o autor sugere o modelo de Paris ou Barcelona como mais adequado por conseguir adensamento sem verticalização. No entanto, todos os demais parâmetros além do limite de altura são menos restritivos para o mercado imobiliário: ausência de recuos com ocupação total do andar térreo, possibilidade de mistura de usos na mesma edificação, unidades minúsculas (frequentemente de 15m2 no caso de Paris), ausência de escadarias de incêndio e de caixas de elevador segundo as normas brasileiras. E são justamente com esses parâmetros que essas duas cidades atingem altas densidades com pouca verticalização, que também considero um resultado mais favorável do que vemos hoje em Recife ou em outras cidades brasileiras que seguem o mesmo caminho. Ainda assim, essas cidades hoje enfrentam limites ao crescimento justamente por não poderem se verticalizar, já que as pressão dos cidadãos por mais espaço já não é suportada pela estrutura urbana que, no caso de Paris, completa quase 150 anos. Imóveis na região central parisiense são extremamente caros, e a escassez de oferta torna a região exclusiva para a elite, com os demais segregados aos banlieus.<br />
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Por fim, Cisneiros comenta sobre a valorização de terrenos baseado no resultado das leis de verticalização, e ao meu ver chega a uma conclusão equivocada. Ele diz: "essa valorização do solo com o aumento do adensamento acaba por encarecer as unidades produzidas e diminuir o efeito do aumento da oferta. Além disso, cria pressão especulativa sobre as casas que ainda resistem numa determinada área e tornam áreas ocupadas por comunidades de baixa renda um alvo do capital imobiliário. O efeito colateral disso é a gradual expulsão, violenta ou pela força do encarecimento do custo de vida, da população de baixa renda de áreas centrais e próximas aos bairros mais "nobres".<br />
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpaCVPTVk_h6ct7TaXxBZcP-zHztn_K8E4C_8BUzQZQ7Pb2CPyAjrDb3CRNhL2X2OZYUTfrq7_DjNpssmf3TZb5me6j8E3tMb_yoXucE2leKJdBL5rduGiNWwA1elyVrAicpPW9bU5kVkZ/s1600/chakrabarti-hyperdensity-10-zoom.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpaCVPTVk_h6ct7TaXxBZcP-zHztn_K8E4C_8BUzQZQ7Pb2CPyAjrDb3CRNhL2X2OZYUTfrq7_DjNpssmf3TZb5me6j8E3tMb_yoXucE2leKJdBL5rduGiNWwA1elyVrAicpPW9bU5kVkZ/s1600/chakrabarti-hyperdensity-10-zoom.jpg" height="300" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: start;">"Hiperdensidade deixa a natureza natural.", imagem de <a href="http://places.designobserver.com/feature/a-country-of-cities-building-hyperdensity/37899/">Vishaan Chakrabarti</a>.<br />
Este é o caso da cidade de Hong Kong, que possui apenas 5% da sua área construída.</td></tr>
</tbody></table>
Primeiro, o que aumenta o valor relativo de cada unidade vendida é justamente o aumento da atratividade do prédio ou do bairro, que ocorre com o aumento da densidade. Com mais pessoas próximas daquela região, maior sua acessibilidade a transporte, empregos, lazer, contribuindo para o aumento da aumenta a demanda e, assim, do preço. O problema desse resultado é a restrição da <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_dos_rendimentos_decrescentes">lei dos rendimentos decrescentes</a>: o primeiro prédio com 100 unidades junto do primeiro supermercado de alta qualidade do bairro é considerado uma bênção, aumentando o preço dos imóveis ao redor, já a centésima torre junto ao quinto banco não será nem percebida. <br />
<br />
É nesse ponto que o aumento da oferta passa a contribuir à diminuição do valor dos imóveis. O problema é que assim que a partir do momento que o bairro começa a se transformar e ter os desejos de amenidades saciadas pelos cidadãos, os novos residentes endinheirados que possuem mais experiência política contribuem para impedir novos empreendimentos, evitando um adensamento ainda maior do bairro. Isso ocorre, por exemplo, na região dos Jardins, em São Paulo, ou no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. É frequente ver ricos moradores destes bairros, satisfeitos com o acesso à uma série de serviços, lutando para impedir a entrada de mais vizinhos que, na sua opinião, estragarão sua qualidade de vida.<br />
<br />
Um outro ponto a ser colocado é que o aumento dos preços após o adensamento de uma determinada região necessariamente significa a diminuição de preços em outra, pois toda migração tem um ponto de partida. Isso normalmente ocorre como um efeito em cascata: o morador que se muda para uma região bem localizada, de alta demanda, vende seu apartamento original para outra pessoa, e assim sucessivamente, contribuindo para que todos os moradores se aproximem gradativamente dessa região bem localizada. O resultado, assim, é o oposto da conclusão de Cisneiros, que prevê uma gradual espraiamento da população com menos recursos para morar nos centros.<br />
<br />
Mas o ponto crítico da passagem de Cisneiros é, ao meu ver, a confusão entre as duas formas com que esses novos empreendimentos normalmente são construídos. A primeira é a expulsão à força de determinados moradores através de desapropriações ou de reocupações de terrenos onde antes haviam assentamentos informais. A segunda seria a compra do imóvel através das vias formais, onde o proprietário original tem liberdade para tomar a decisão que quiser em relação ao imóvel, normalmente saindo com uma grande quantia de dinheiro caso decida vende-lo. Me coloco totalmente em oposição à primeira alternativa, já que em grande maioria dos casos estes assentamentos informais deveriam ser, na verdade, formalizados, permitindo que estes moradores tenham seu direito à terra como qualquer outro cidadão da cidade formal, com liberdade de decidir o que fazer com seu imóvel. Já o segundo caso me parece difícil de classificar como "expulsão” – usando as palavras do autor – já que está mais próximo de uma transação comercial normal, onde não há coerção física entre as partes para determinar o destino do imóvel.<br />
<br />
Enfim, permitir densidade com verticalização é assunto que não faz muito tempo que entrou em pauta na esfera urbanística. No entanto, não estou sozinho já que existem fortes representantes em sua defesa. Além do já popular Edward Glaeser, autor de "<a href="http://www.buscape.com.br/os-centros-urbanos-a-maior-invencao-da-humanidade-glaeser-ed-8535229361.html">Os Centros Urbanos: A maior invenção da humanidade</a>" e do artigo "<a href="http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2011/03/how-skyscrapers-can-save-the-city/308387/">How Skyscrapers Can Save the City</a>" (ou "Como Arranha-Céus Podem Salvar a Cidade"), ano passado também vimos o lançamento do "<a href="http://www.amazon.com/Country-Cities-Manifesto-Urban-America/dp/1935202170">A Country of Cities: A Manifesto for Urban America</a>" do arquiteto e urbanista Vishaan Chakrabarti, com um resumo das suas opiniões no artigo "<a href="http://places.designobserver.com/feature/a-country-of-cities-building-hyperdensity/37899/">Building Hyperdensity and Civic Delight</a>" (ou "Construindo Hiperdensidade e Alegria Cívica"). Assim, espero que Cisneiros entenda meu ponto de vista e que possamos evoluir em uma troca de ideias. Ao meu entender temos objetivos semelhantes em relação ao resultado das cidades, apenas opiniões diferentes de como antingi-los.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-57735502879906925012014-03-25T20:30:00.002-03:002014-03-25T20:30:27.951-03:00Os Contos Fantásticos de Haussmann<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLtXe8nfBYQ1I0orn23USy7dXvzXZTAD6SlMPFOngmcyo1rKKaK43n-d-SELR46jc_xkd0WPQp6y7jis9IXiDSYpmmiT8eQvCoPyYgHO30k2DMU39g41kbM0wPVTyGOW8WL8-htR9XIf5B/s1600/3209-003-web.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLtXe8nfBYQ1I0orn23USy7dXvzXZTAD6SlMPFOngmcyo1rKKaK43n-d-SELR46jc_xkd0WPQp6y7jis9IXiDSYpmmiT8eQvCoPyYgHO30k2DMU39g41kbM0wPVTyGOW8WL8-htR9XIf5B/s1600/3209-003-web.jpg" height="320" width="272" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><a href="http://artblart.com/tag/passage-saint-guillaume/">Rue de la Bûcherie, (quinto arrondissement) 1866-1868</a></i></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
Estamos na metade do século XIX: o Barão de Haussmann, planejador urbano apontado pelo imperador Napoleão II, desenha seus planos para uma nova Paris. A obra, uma das maiores intervenções para redesenvolvimento urbano na história da humanidade, transformaria a cidade para sempre, gerando um resultado muito próximo ao que se vê hoje. A Paris do passado ainda pode ser vivenciada ao caminhar pela região do Marais, uma das que sofreu menos interferências com o ambicioso projeto do Barão, ou através das lentes de Charles Marville, exposição da qual selecionamos algumas imagens para ilustrar esta postagem.<br />
<br />
A abertura das grandes avenidas atravessando as antes ruelas tortuosas, um dos maiores marcos do projeto de Haussmann, tiveram uma série de prerrogativas, sendo a primeira o combate da "<a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Miasma_theory">miasma</a>", teoria há décadas ultrapassada que defendia que o "ar ruim" produzido pelas aglomerações urbanas e ruas estreitas eram a causa da proliferação de doenças. O projeto também tinha um caráter desenvolvimentista e transformador, a intenção de diferenciar Paris de qualquer outra cidade e torná-la uma referência mundial para outras cidades. Outra, defendida por alguns historiadores mas mais controversa, diz que a intenção era a facilidade da movimentação e coordenação das tropas do exército contra insurreições populares, como as ilustradas recentemente na última versão do filme "Os Miseráveis", que também tenta retratar a Paris antiga. </div>
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Seja qual for a causa, a obra se tornou uma espécie de símbolo de urbanismo, uma referência usada por muitos de uma cidade organizada mas que, ao mesmo tempo, não perdeu seu romantismo. No entanto, hoje dificilmente alguém teria coragem de defender os meios que possibilitaram que isso acontecesse. Paris foi resultado de um plano quase ditatorial envolvendo a expropriação de cerca de <a href="http://www.amazon.com/Paris-Reborn-Napol%C3%A9on-Haussmann-Modern/dp/0312626894">350 mil pessoas</a> pelo "bem comum" da cidade - principalmente moradores pobres que "estavam no caminho" das grandes obras públicas. Ainda, o governo escoou uma enorme quantidade de recursos públicos para a capital, se endividando em níveis absurdos para conseguir executar a obra. Quanto à estética, foi neste momento que as fachadas e as edificações privadas tornaram-se controladas e uniformes, uma regulação que perdura até os dias de hoje.</div>
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Quanto ao resultado da obra, é frequente ouvir o lado positivo, como o resultado que isso trouxe para o turismo atual e a atualização da infraestrutura de esgoto. No entanto, nem tudo são flores em Paris. Não só houve milhares de desapropriações, mas após a renovação houve um grande aumento no preço dos aluguéis, expulsando os moradores pobres do centro da cidade. Estes antes coabitavam a mesma edificação com moradores mais ricos, embora em andares mais altos - lembrando que não existiam elevadores na época. Foi o início da exclusão dos pobres aos <i>banlieus</i>, as periferias francesas, muitas delas regiões perigosas e de tensão social, com episódios como <a href="http://fr.wikipedia.org/wiki/%C3%89meutes_de_2005_dans_les_banlieues_fran%C3%A7aises">os incêndios de ônibus em 2005</a>. Ainda, o projeto de Haussmann deixou a cidade endividada, problema que foi potencializado após a depressão econômica que veio logo em seguida. As restrições estéticas atraíram turismo, mas ao mesmo tempo impediram o desenvolvimento da cidade propriamente dita. Nas regiões centrais, grande parte da cidade foi gradualmente perdendo sua característica "funcional" como cidade, desenvolvendo ao longo dos anos um caráter quase exclusivamente contemplativo - um ambiente que gira apenas em torno do turismo. Alguns chamam essa característica de "museu à céu aberto", outros de "parque temático" da humanidade. Isso limitou ainda mais a oferta de imóveis, aumentando os preços, elitizando as regiões centrais e restringindo renovações em edifícios que não estão de acordo com os padrões atuais de conforto e segurança. Nenhuma das edificações antigas, por exemplo, passaria por qualquer critério técnico de segurança contra incêndio ou acessibilidade universal. Ainda, muitas habitações seriam consideradas "desumanas" para os padrões regulatórios brasileiros, <a href="http://immobilier.mitula.fr/immobilier/location-micro-studio-paris">frequentemente com menos de 15m²</a> para poderem ter um preço acessível.</div>
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<br /></div>
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Ao observar um resultado visualmente agradável é difícil entender as consequências não-intencionais do planejamento, muito menos a indignação parisiense da época. Assim, deixo a palavra para Jules Ferry, político francês da época e autor de um texto que se tornou uma crítica célebre à Haussmann, mas raramente divulgado em português. Fizemos o trabalho de traduzi-lo, acompanhado de algumas das fotos de Marville. Divirtam-se.</div>
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYN456AI2_9AdRt-GmOTfbZ7Z2jKfxTpVGAqN82ghzk2l2kNvS3aykusk4K9Bq9TiidVo3hMR3fsSvGnkMWG4gkQo7jgabnJkAXBLidqD_lzbL5H-CR4mbtSUD2eztS3VxXVk2RPelEEhi/s1600/marville3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYN456AI2_9AdRt-GmOTfbZ7Z2jKfxTpVGAqN82ghzk2l2kNvS3aykusk4K9Bq9TiidVo3hMR3fsSvGnkMWG4gkQo7jgabnJkAXBLidqD_lzbL5H-CR4mbtSUD2eztS3VxXVk2RPelEEhi/s1600/marville3.jpg" height="393" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption"><i><a href="http://www.messynessychic.com/2013/10/11/lost-paris-documenting-the-disappearance-of-a-medieval-city/">Place Saint-André-des-Arts</a> (pre-Haussmann)</i></td></tr>
</tbody></table>
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"Aos Membros da Comissão do corpo Legislativo encarregados em examinar o novo empréstimo à Cidade de Paris.<br />
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Senhores,<br />
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Para um cidadão parisiense, é uma grande liberdade me endereçar a vocês. Se sabe muito bem que parisienses não são capazes de lidar com assuntos que dizem respeito a eles mesmos, e que as pessoas de Cantal ou Lozère são as únicas que sabem o que é melhor para nós. É por esta razão que a maioria, esta que vocês representam, não ousou colocar um único representante de Paris na comissão que tem em suas mãos tanto nosso presente como nosso futuro. Eu não digo isso, Senhores, para superestimar sua importância, mas é isto mesmo que acontece. Vocês podem, se quiserem, nos salvar de uma catástrofe, àquela que nos conduzimos de cabeça baixa; mas se vocês não quiserem ou não ousarem, iremos diretamente à fossa. O momento é crítico, e o Sr. Prefeito do Sena não conseguirá, desta vez, passar por cima de vocês. Ele é, sem dúvida, um grande personagem. Ele é mais que um grande personagem, ele é uma das grandes instituições do nosso tempo. Mas como vocês sabem, como eu disse desde o início, sempre acreditei que ele pode ter, no fundo, tanto medo de vocês quanto vocês tem medo dele. Ajam como homens e vocês verão que isso é verdade. Em todo caso, vocês não podem alegar ignorância. Todos avisaram vocês, e a verdade grita pelos telhados na sua direção. As humildes reflexões que seguem, e que um jornal que vocês sem dúvida pouco leem – infelizmente – decidiu publicar, agora estão acessíveis a todos. É da escrita do Prefeito da Região do Sena que eu aprendi tudo que sei. Não sou um feiticeiro, como vocês podem ver. Mas diante de todos vocês o véu será removido, assuntos arcanos revelados, e coisas que vocês aprenderão, um pobre jornalista não pode ver. Não há missão mais invejável que a de vocês e é uma honra ajuda-los, mesmo que de forma singela.<br />
<br />
Antes de entrar no assunto, permitam-me, Senhores, de definir a situação atual entre o Prefeito do Sena e a população que ele governa, impõe, endivida e tritura há quinze anos sem medida e sem controle. Parisienses não falam que ele não tinha nada a fazer na antiga Paris, no momento que o Senhor Prefeito começou seu cargo destrutivo; eles também não falam que o Senhor Prefeito não fez nada de útil ou de necessário. Reconhecemos que fizemos da nova Paris o mais belo albergue da Terra e que os parasitas de ambos mundos não encontram nada comparável. Nos damos conta do trabalho indispensável que exige uma grande cidade, que é o encontro de todas as estradas de ferro. Tomamos o cuidado para não falar que tudo estava absolutamente errado com os inúmeros caminhos que, desmembrando obliquamente em todos os sentidos da velha capital, dão à nova um aspecto desagradável de um quebra-cabeças chinês. Nós achamos feio por conta própria, mas concordamos que o mau gosto do Senhor Prefeito acompanhou o mau gosto dos arquitetos e de uma porção notável do público.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpg-XJ-INo2blsh2b0PDVe6ZroPFS8a0bI8EikQWj3zVgmAozzB2jvRteXlOlYd6MNZSTV9k32J_BtN9jUglmv6Rw9UMjeXQcgiFurFfD9KZ0vPlHSRfiA7U42Q-g63QDkygSjb1E5sRu-/s1600/3-charles-marville.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpg-XJ-INo2blsh2b0PDVe6ZroPFS8a0bI8EikQWj3zVgmAozzB2jvRteXlOlYd6MNZSTV9k32J_BtN9jUglmv6Rw9UMjeXQcgiFurFfD9KZ0vPlHSRfiA7U42Q-g63QDkygSjb1E5sRu-/s1600/3-charles-marville.jpg" height="400" width="350" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption"><i><a href="http://artblart.com/tag/passage-saint-guillaume/">Passage Saint-Guillaume (vers la rue Richelieu) (first arrondissement)1863-1865</a></i></td></tr>
</tbody></table>
Achamos que é esforço desperdiçado lastimar a antiga Paris, a Paris histórica e pensadora, da qual nos recordamos hoje os últimos suspiros; a Paris filosófica e artística, onde pessoas simples, aplicadas ao trabalho do espírito, podiam sobreviver com 3000 libras por mês; onde haviam grupos, vizinhos, bairros, tradições; onde despejos não destruíam a qualquer instante as relações antigas e as tradições mais antigas; onde o artesão, que um sistema impiedoso expulsa hoje do centro, vivia lado a lado ao banqueiro; onde o espírito era mais valorizado que a riqueza; onde o estrangeiro, brutal e esbanjador, ainda não dava o tom ao teatro e às maneiras. Esta Paris antiga, a Paris de Voltaire, Diderot e Desmoulins, a Paris de 1830 e 1848, choramos por ela quando vemos os grandiosos e intoleráveis cortiços, a ostentação, a vulgaridade triunfal e o materialismo assustador que será levado à próxima geração. Mas talvez isto seja inevitável. Nossas críticas contra a administração do Prefeito não podiam ser mais positivas e precisas. O acusamos de sacrificar tantas coisas valiosas para um sistema o qual ele adere obsessivamente; o acusamos de ter destruído o futuro para satisfazer seus caprichos e extravagâncias; o acusamos ele de desperdiçar, em obras de uso passageiro ou duvidoso, o patrimônio de gerações futuras; o acusamos de nos liderar a uma sequência de catástrofes.<br />
<br />
Nossos negócios estão indo pelo ralo, e imploramos que vocês os impeçam.<br />
<br />
Três membros do Conselho de Estado, aliados do Prefeito, Sr. Genteuur, Sr. Alfred Blance e Sr. Jollibois os informou o que a Prefeitura quer de vocês. A cidade secretamente pegou empresado 398 milhões que não tem condições de devolver; ela quer ganhar tempo e espalhar essa dívida nos próximos 60 anos. É isso. E vocês são orientados a votarem sem fazer comentários. Vocês talvez votem a favor, mas devem fazer algumas perguntas à administração da Cidade de Paris que devem ser respondidas. Como 389 milhões pode ser pego emprestado sem o envolvimento do Legislativo? Isso foi feito dentro da legalidade e da prudência? A conta que a cidade assinou com o Crédit Foncier é um gasto ou um investimento? Ela é necessária, ou como os aliados do Prefeito alegam, é apenas uma precaução supérflua? A cidade de Paris está realmente acima desse assunto ou estaria ela, por acaso, abaixo?<br />
<br />
Isto é importante, e vocês, membros do Conselho do Estado, não parecem estar preocupados. A proposta do Prefeito para vocês é uma obra prima da sua categoria. Ele os trata como verdadeiros idiotas. Por favor examinem a proposta dele e vocês verão de o que ela é feita: dez linhas tiradas dos últimos textos de Voltaire de dez textos tiradas do seu último pronunciamento. Eles absolutamente não são novidade. Não é preciso um membro do Conselho do Estado para reconhecer um dos mais famosos panfletos escritos pelo grande agitador do século 18. Este é o trecho de Voltaire: “Será fácil demonstrar que podemos transformar Paris na cidade mais maravilhosa do mundo em menos de 10 anos... Uma tarefa que será a glória da nação e uma honra imortal para as pessoas da cidade, melhorando todas suas artes, atraindo gente de toda a Europa e tornando o Estado rico... como resultado todos vão enriquecer de formas diferentes...” A modéstia dos amigos de Haussmann impediu que eles simplesmente copiassem este trecho. No mesmo documento: “Deus abençoe o homem de zelo que pode abraçar tal projeto, um homem que deve ter uma alma firme, um espírito iluminado e reconhecido de tal forma para que tenha sucesso.” Como podemos ver, o Sr. Haussmann foi designado em uma profecia.<br />
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Não podemos culpar o Conselho do Estado por considerar Voltaire um profeta. O Conselho poderia ter feito uma escolha pior. Não nos debatemos sobre o significado da profecia. Voltaire, como qualquer pessoa de bom senso, era modesto em sua utopia, tanto que no seu artigo de 1749 sobre o embelezamento de Paris o ousado filósofo pediu para não mais que “quatro ou cinco mil trabalhadores durante um período de dez anos” para fazer o que era necessário. Ele ofereceu as seguintes condições: “todo dinheiro deve ser gasto de forma parcimoniosa, todos projetos devem ser escolhidos através de concurso de design; todos custos de construção devem receber descontos”. Vejam como Voltaire se tornou um falso profeta. Desconto, concurso, poupança, estas palavras valiosas não tem significado para o Sr. Prefeito. O projeto foi designado e alterado tão rapidamente, sem pensamento ou antevisão; cada passo do desenvolvimento tem consequências imprevisíveis. Concessões envolvendo centenas de milhões são passadas por baixo da mesa: o princípio da concorrência aberta de ofertas foi relegado ao passado. A folha de balanço que vamos levantar irá mostrar tudo isso. Nossa briga é com o Prefeito, não Voltaire. Ninguém quer impedir vocês de melhorar Paris. Vocês certamente não são os primeiros a se colocarem a essa tarefa. Nos últimos 24 anos todos os governos tiveram esforços semelhantes. Mas vocês não melhoram Paris, vocês a destroem. Vocês colocam Paris em dívida, destróem o presente e sacrificam o futuro. Como podemos tolerar tal extravagância por tanto tempo?<br />
<br />
A proposta dos Conselheiros consiste de Voltaire de menos e Haussmann demais. Sr. Haussmann literalmente copiou, ele não parafraseou. Sr. Genteur, Sr. Alfred Blanche e Sr. Jollibois não adicionaram uma única palavra, número ou argumento próprio. Que tipo de escrita é este? Achamos que temos Conselheiros do Estado, mas temos apenas escrivãos seguindo as ordens da Prefeitura. É assim que o governo opera hoje em dia. Seria melhor simplesmente transferir o poder do corpo legislativo à Prefeitura do Sena. Assim reportaríamos à ele diretamente. É melhor lidar com Deus do que com seus santos, com o ator de verdade do que seus substitutos."</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-11381688141065304262014-03-16T18:45:00.002-03:002014-03-16T18:46:12.347-03:00Brasília deveria desistir dos tombamentos?<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/oCKAwKQ5lvM?rel=0" width="560"></iframe>
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Quinta-feira fiz uma das minhas apresentações mais memoráveis. O local: UnB, uma universidade de renome em uma das cidades mais planejadas do mundo, repleta de problemas justamente por causa desse planejamento, mas ao mesmo tempo uma das referências nacionais na história do planejamento urbano. Expus argumentos por cidades dinâmicas, vivas, que se transformam ao longo do tempo para atender as necessidades que também se transformam constante mente.<br />
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Na sessão de perguntas (56:40): “Brasília deveria desistir dos tombamentos?”<br />
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Expliquei que valores devem ser colocados em uma balança. A esplanada e as áreas verdes inutilizadas foram criadas justamente pelo simbolismo, e tem um valor mais nacionalista do que prático. Algumas pessoas gostam desse simbolismo, outras não gostam, outras são indiferentes.<br />
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Por outro lado, as centenas de milhares de pessoas que moram fora do Plano Piloto que se deslocam diariamente em sua direção provavelmente gostariam de um imóvel mais próximo, mas hoje o Plano é exclusivo: ao ser congelado através do tombamento, novos cidadãos ali só entram se outros sairem. Os usuários da região do Plano provavelmente gostariam de calçadas mais caminháveis, e atividades mais próximas. O trânsito, a mobilidade e o déficit habitacional de Brasília se tornam cada vez piores, e nenhuma solução é viável sem alteração da forma urbana vigente.<br />
<br />
Ao terminar que cada um pode ter uma preferência pessoal a respeito dessa balança, a resposta não foi suficiente: fui novamente pressionado para responder qual a MINHA opinião sobre o tombamento.<br />
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Claro que tinha receio dos tabus, dos ataques, da possível autoridade do Lúcio Costa dentro da UnB. Minha única referência é de que, em grande maioria dos casos, arquitetos se mostram à favor do tombamento não só de arquiteturas mas de espaços públicos que podem ser considerados parte de uma identidade nacional. Assuntos sobre a própria cidade normalmente são manifestados a partir da emoção, e quem era eu – portoalegrense morando em São Paulo – para criticar a forma urbana de brasilienses que, via de regra, gostam da sua cidade?<br />
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Mas respondi que eu não sou uma pessoa nacionalista, e que uma mudança no simbolismo pouco ia mudar na minha vida morando fora de Brasília. Provavelmente alguns iriam compartilhar no Facebook que “acharam um absurdo” removerem o tombamento de Brasília, a quilômetros de distância, e logo voltariam às suas vidas sem nenhum tipo de alteração. Agora, a população de Brasília tem necessidades reais, acima de uma preferências subjetivas de pessoas que muitas vezes nem moram na cidade.<br />
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O inesperado aconteceu: recebi uma salva de palmas.<br />
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Pelo menos parte dos brasilienses acreditam numa cidade mais viva.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2113592211556464095.post-22643128659075373142014-03-11T12:28:00.002-03:002014-03-11T12:28:46.785-03:00Palestra "Caos Planejado: Quando o Novo Urbanismo se torna o Novo Modernismo"<div>
Terei o prazer de falar sobre urbanismo na UnB, a convite do <a href="https://www.facebook.com/groups/LobosDaCapital/">Grupo de Estudos Lobos da Capital</a> do <a href="https://www.facebook.com/cafau.unb.9?fref=ts">CAFAU-UnB</a>. Pretendo introduzir brevemente o conceito de urbanismo modernista e o conceito de "Novo Urbanismo", uma das principais correntes contemporâneas de urbanismo, gerando um questionamento sobre formas rígidas de planejamento urbano. Abaixo informações sobre o evento conforme a <a href="https://www.facebook.com/events/640865365950332">página do Facebook</a>:</div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Hoje vemos uma mudança radical do urbanismo modernista carrocêntrico do século passado. O "Novo Urbanismo" foca no pedestre, soluções de transporte coletivo, vizinhanças de uso misto e a valorização da tradição, ao invés da busca incessante pelo desenvolvimento. Será que encontramos a resposta final para planejar nossas cidades?</i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>Após a palestra com a temática proposta por <a href="https://www.facebook.com/anthonyling86">Anthony Ling</a>, seguirá um momento de debates. Como usual, teremos também deliciosas coxinhas (:"</i></blockquote>
O evento será esta QUINTA FEIRA, 13/03, 17h, no ANFI 15 - ICC Norte - em frente à FAU da UnB.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEe-rtnBguZYXW6eRGPfJdaP83eQ3MRaMW1LiOl6ti4hHBjBA0D-hklw-dPGeAmGnV6OU7n79KKoKer_1djuz39qNoM8dAKHE-nZohvpa7Qu5IStTAV6sa9f2VG9kmz-KatptyjarDyiem/s1600/923496_10203261326997913_1048947194_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEe-rtnBguZYXW6eRGPfJdaP83eQ3MRaMW1LiOl6ti4hHBjBA0D-hklw-dPGeAmGnV6OU7n79KKoKer_1djuz39qNoM8dAKHE-nZohvpa7Qu5IStTAV6sa9f2VG9kmz-KatptyjarDyiem/s1600/923496_10203261326997913_1048947194_n.jpg" height="400" width="280" /></a></div>
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