16.1.12

Como me tornei um designer de Seasteads / How I Became A Seastead Designer

Como muitos que acompanham este blog já sabem, há alguns nos mantenho uma relação próxima com aqueles que estão no caminho de implementar o conceito de Seasteading. Nunca tinha escrito a respeito porque imaginei que poderia assustar leitores mais conservadores e, quando começei com toda essa história, recém tinha criado este blog. Porém, recentemente, Seasteading foi descoberto pelo mundo e aparece em tudo quanto é mídia mainstream. Já foi matéria da The Economist, saiu na Associated Press, apareceu no site da Wired, foi exibido no engraçadíssimo Colbert Report (que vendeu a ideia ao contrário, mas valeu a piada), postado em site brasileiros como o G1 e até mesmo em um painel do Fantástico:



Tive a oportunidade de participar ativamente em ambos projetos, e o objetivo deste post é contar um pouco desta história, já que muitos perguntam como surgiu meu envolvimento.

Tudo começou em 2009. Apesar de estar estudando arquitetura, eu já era fã do Milton Friedman, um dos economistas mais influentes da atualidade. Com conhecimento aparentemente interminável e argumentação impecável, as poucas vezes que discordei dele eu normalmente via que ora eu tinha dados equivocados ora tinha errado a sequencia lógica de pensamento. Um dia meu irmão me emprestou um livro de um tal de David Friedman, comentando que este sim poderia gerar mais controvérsia. Devorei o livro e descobri que David (de forma um tanto óbvia, na verdade) era filho de Milton. Logo depois descobri textos online de Patri, filho de David, um jovem que tinha sido programador do Google mas que agora que estava decidido a criar comunidades autônomas no mar através do Seasteading Institute.

Peraí, cidades no mar? Só podia ser loucura, mas soava interessante. Continuei lendo: Seasteading é um conceito inovador de cidade, moradia e política que visa implementar comunidades em alto mar, área hoje não pertencente a nenhum país. Incentivos para regras novas seriam gerados através da concorrência entre estes novos govenos. Os fundadores destas novas comunidades seriam empreendedores, criando cidades atraentes no mercado por moradores. A participação é voluntária e aberta, fazendo com que a demanda por todas preferências e ideologias pode ser atendidas, sem precisar de revoluções violentas.

Plataforma para o Seasteading Institute, mais infos aqui
Fazia sentido. Ainda, o Seasteading Institute tinha acabado de lançar um concurso de design para divulgar imagens de sua ideia maluca mas genial. Eu ainda estava na faculdade, mas decidi mandar uma ideia e acabei sendo um dos vencedores, ganhando o Prêmio de Personalidade (seja lá o que isso que dizer). Meu projeto tenta ir na raiz do conceito: com módulos de moradia transportáveis, cada morador teria condições de trocar de plataforma (ou até ir morar no continente) a hora que quisesse. Seria a possibilidade de não só votar com seus pés, mas com sua casa.

O concurso teve algumas publicações, mas só estourou mesmo alguns meses atrás, com o início da Blueseed. Criada por dois empreendedores do Vale do Silício, Max Marty e Dario Mutabdzija, essa empresa se inspirou na ONG criada pelo Patri e pretende criar uma plataforma de inovação tecnológica que dispensa visto de moradia. Seria um concorrente de onde eles trabalham hoje, já que os EUA possui uma política de imigração hiperrestritiva (eu chamo de política anti-imigração).

"Googleplex at the sea" para Blueseed: projeto vencedor

Então em outubro do ano passado a Blueseed lançou um concurso de design conceitual semelhante ao do Seasteading Institute de anos atrás, chamando os vencedores daquele primeiro concurso. Dessa vez o formato mudou, já que plataforma deles é flutuante, e teria o objetivo se ser um centro de inovação que estimulasse criatividade e permitisse bem-estar (a inspiração principal deveria ser o Googleplex). Minha ideia foi de criar pátios internos em um volume construído ortogonal, cada um diferente do outro, para que os moradores tivessem paisagens variadas no seu dia-a-dia. Pensei que apesar de bonito na primeira impressão, provavelmente a vista do mar para todos os lados se tornaria monótona, até enjoativa. Minhas imagens para essa ideia ganharam o primeiro prêmio.

Apesar de nenhum dos projetos terem sido feitos para a execução de fato, servindo apenas como material gráfico para a divulgação da ideia, é legal poder ter participado tão de perto nesse movimento que pode mudar completamente a maneira que vemos cidades e políticas caso der certo.

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As many who follow this blog know, I have had for a few years now a close relationship with those who are on the way of turning Seasteading into reality. I've never written on it because I was afraid I'd scare more conservative readers, and when I started with this I had just created this blog. Nevertheless, the world has just discovered Seasteading mainstream news recently picked it up. It was published on The Economist, at Associated Press, at the online Wired, made fun at on the Colbert Report (who got it backwards but didn't miss the joke), at brazilian websites like G1, and even a spot on Fantástico, one of Brazil's most viewed TV programs.

I had the opportunity to participate in both the Seasteading Institute and on Blueseed, and I'm writing this post to tell a little about this story, as many ask me how this involvement began.

It all started in 2009. Despite being an architecture student, I already was a fan of Milton Friedman, one of the most influential economists of recent times. With an apparently infinite knowledge and perfect arguments, the few times I disagreed with him I mostly realized I either had wrong data or a wrong line of logic reasoning. So one day my brother gave me a book written by a guy called David Friedman, telling me that this time there would be more disagreements. It was a real pageturner, and I found out (it was pretty obvious, actually) that David was Milton's son. Soon later I discovered some online writings of Patri, David's son, a former programmer at Google who was decided to create autonomous communities at sea through the Seasteading Institute.

Wait, sea cities? It had to be madness, but it sounded awsome. So I read some more: Seasteading is a innovative concept of city, dwelling and politics aiming at creating new communities on the ocean, the only unclaimed territory left. Incentives for new rules would be generated by competition amongst these new governments. The founders of these cities must be entrepreneurs, creating attractive cities on the market for residents. Participation is open and voluntary, so the demand every preference or ideology can be attended, no revolution needed.

It made sense. Plus, the Seasteading Institute had just started a design contest to produce concept images for the crazy but genius idea. I was still at Architecture school, but I decided to submit an idea and ended up winning the Personality Prize (whatever that means). My design intended to reach the baseline for seasteasing: with modular dwelling units, each resident could change platforms (or even return to land) whenever he wanted. It's not just voting with your feet, but voting with your house.

The contest was published a few times, but things really changed with Blueseed. Created by Silicon Valley entrepreneurs Max Marty and Dario Mutabdzija, this company was inspired by Patri's NGO and wants to create a technology hub free of immigration restrictions - on the ocean. It would try to lure programmers and scientists from where Max and Dan work today, as the USA has a strict immigration policy, which I also call anti-immigration policy.

So october last year Blueseed launched and closed invitational contest with the winners of the Seasteading Institute contest. This time it was a different format as theirs is a floating platform, and the goal is to become a center for innovation, inspiring creativity and well-being (our main inspiration should be Googleplex). My idea was to create inner patios on a rectangular volume, one different from the other, so that residents could have different views during their daily lives. I thought that despite being beautiful at first sight, the view of the ocean could get boring, even sickening. My images won first prize this time.

Despite none of the projects were designed to be actually built, serving only as graphic material to spread the idea, I feel great for having participated with this movement that, if it works, can change entirely the way we see cities and policies.

3 comentários:

  1. Caramba! Sonhando com o dia em que isso se torne realidade! Parabéns!

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  2. Anthony,
    Eu tenho algumas dúvidas sobre o conceito de seasteading.
    O empresário que abrir uma empresa numa dessas plataformas estará imune as legislações tributária, trabalhista, sindical e etc.?
    Por exemplo, se um empresário quiser construir uma escola numa dessas plataformas, tanto os funcionários como o empresário não estará sujeito as legislações que referi acima?
    Abraço!

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    1. Cristiano,
      Como bem sabemos, não existe uma única legislação tributária, trabalhista e sindical, mas sim centenas, umas muito diferentes de outras, para cada país ou sociedade que definiu este conjunto de regras. Cada plataforma em um mundo onde seasteading é possível terá seu próprio conjunto de regras, definido ora pelo empresário ora pela ONG ou grupo de pessoas responsável pela administração.
      O conceito é interessante já que a participação é totalmente voluntária e concorrencial: quem estiver insatisfeito com as regras pode deixar a plataforma e procurar uma que o agrade mais.

      Abraços,
      Anthony

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