13.6.13

Protestos pela passagem: criando antipatia lutando por uma boa causa

Funcionários do Metrô removem vidro quebrado por manifestantes
durante protesto na avenida Paulista [Folhapress]
Aos revolucionários que estão manifestando pela redução da passagem do ônibus pelo Brasil inteiro: o que poderia ser uma forte mensagem de conscientização está polarizando a sociedade. Muitos de nós solidarizamos pela causa global: transformar cidades em espaços menos direcionados para o automóvel individual, mais verdes, com mais opções de transporte coletivo, de maior qualidade e preços mais justos.

Mas o trabalhador que está preso no ônibus por causa da manifestação - que muitas vezes tem sua passagem paga pelo empregador e se importa mais com seu emprego do que pelo preço da passagem - não está feliz. O paciente (ou o médico) que está tentando chegar no hospital muito menos. E nem vou falar da ala direitista que simplesmente acha que vocês são o demônio. Onde a primeira ideia era melhorar o trânsito e lutar por uma causa comunitária, em primeira instância piora o trânsito e deixa a comunidade triste. Suas reivindicações provavelmente tem apoio de todos, mas não os meios que vocês estão usando para atingi-las.

Em primeiro lugar, seria interessante um primeiro entendimento de porque o preço das passagens aumentou, evitando reações imediatistas de simplesmente gritar pela sua redução. Entendam que governo municipal proíbe qualquer tipo de inovação e concorrência em transporte coletivo, favorecendo e subsidiando um grupo fechado de empresas. Vans, perueiros e redes colaborativas de caronas compartilhadas são vistas como crime, não como solução. Além disso, planeja as cidades incentivando transporte individual (o que mais ocupa espaço nas vias) ao limitar densidades demográficas, zonear atividades de bairros e focar suas obras infraestruturais em viadutos e largas avenidas, todas oferecidas gratuitamente aos usuários com custos socializados. Na questão financeira, para realizar estas grandes obras infraestruturais o Governo Federal simplesmente imprime mais dinheiro, diminuindo o valor de cada nota que você possui e, assim, contribuindo ainda mais para que todos os preços (não só do ônibus como o do tomate) aumentem.

Por que não conscientizar a população destas distorções, mudando o sistema para que gere benefícios de longo prazo para a cidade e a população? Onde vocês estão quando os perueiros lutam pelo seu direito de trabalhar? Quando os moradores das regiões centrais barram novos empreendimentos que poderiam ajudar a adensar seus bairros, evitando o alastramento da periferia? Quando são sugeridas políticas para taxamento de congestão? Ou quando Guido Mantega se colocou no comando de uma política inflacionária irresponsável? Não podemos agir com o coração antes de parar para estudar o sistema atual, suas consequências e possíveis soluções. Atacar os problemas que afetam nossos interesses diretos sem um entendimento dos interesses alheios é irresponsável e improdutivo (e a mensagem também vale para quem vê vocês como malucos que só querem destruir a cidade). Garanto que não teremos mudanças de longo prazo enquanto houver provocações pessoais daqueles que tem opiniões diferentes ao invés de buscar uma convergência, e enquanto soluções práticas e economicamente sustentáveis não entrem no debate para que as ideias sejam respeitadas.

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