30.9.13

Sagrada Família: a construção voluntária de um sonho


Confesso que não sou o maior fã do trabalho de Antoní Gaudí: acho que ele inovou bastante nas questões técnicas e construtivas e certamente nos faz pensar em relação à parte estética do seu trabalho, mas provavelmente eu não pagaria um prêmio muito grande para morar ou para frequentar um projeto dele.

No entanto, muita gente discorda de mim. O Conde Güell apostou na obra de Gaudí para valorizar seu empreendimento imobiliário, sendo responsável pela construção do famoso Parque Güell em Barcelona. Infelizmente o Conde errou na aposta, e após o fracasso do empreendimento o parque foi municipalizado. Os casais Milá e a Battló também valorizavam o trabalho do arquiteto, contratando-o para construir as famosas Casa Milá e Casa Battló, atualmente alguns dos pontos turísticos com as entradas mais caras de Barcelona, ultrapassando 20 euros (cerca de 60 reais) para a tarifa cheia, no caso da Casa Battló. A Casa Battló se tornou um espaço de eventos de alto padrão altamente demandado na cidade, e a Casa Milá continua com moradores, a preços imobiliários acima da média no mesmo bairro.

Mas a obra-prima de Antoní Gaudí ainda não foi concluída: a Sagrada Família, ou Basílica i Temple Expiatori de la Sagrada Família no nome completo. Uma obra tão complexa e tão cara que ela começou em 1882 e pretende ser finalizada somente em 2026 - 144 anos no total. A Sagrada Família voltou à tona essa semana com a divulgação de um vídeo mostrando uma construção virtual de como ficará a obra concluída, imagens incríveis até para aqueles que não são grandes admiradores da obra de Gaudí.

Um dos motivos da obra levar tantos anos para ser construída é pelo fato de que ela depende totalmente de recursos privados, principalmente doadores entusiastas da obra e a cobrança de ingressos de cerca de dois milhões e meio de visitantes anuais que têm acesso às partes já concluídas. Os administradores do fundo não recebem salário, pois também trabalham com o objetivo comum de levar a obra adiante.

Isso, pra mim, é uma das coisas mais bonitas da Sagrada Família: ame ou odeie o projeto, ninguém está sendo obrigado a financiar um projeto arquitetônico que não concorda. Milhares de moradores de Barcelona que não gostam da obra, mesmo que ela represente um símbolo turístico para a sua cidade - eu provavelmente teria essa mesma opinião - tem sua opinião pessoal defendida, apesar da obra ter sido considerada patrimônio mundial pela UNESCO. É um sonho sendo construído de forma voluntária, algo que no Brasil infelizmente pouco se vê.

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