16.3.14

Brasília deveria desistir dos tombamentos?



Quinta-feira fiz uma das minhas apresentações mais memoráveis. O local: UnB, uma universidade de renome em uma das cidades mais planejadas do mundo, repleta de problemas justamente por causa desse planejamento, mas ao mesmo tempo uma das referências nacionais na história do planejamento urbano. Expus argumentos por cidades dinâmicas, vivas, que se transformam ao longo do tempo para atender as necessidades que também se transformam constante mente.

Na sessão de perguntas (56:40): “Brasília deveria desistir dos tombamentos?”

Expliquei que valores devem ser colocados em uma balança. A esplanada e as áreas verdes inutilizadas foram criadas justamente pelo simbolismo, e tem um valor mais nacionalista do que prático. Algumas pessoas gostam desse simbolismo, outras não gostam, outras são indiferentes.

Por outro lado, as centenas de milhares de pessoas que moram fora do Plano Piloto que se deslocam diariamente em sua direção provavelmente gostariam de um imóvel mais próximo, mas hoje o Plano é exclusivo: ao ser congelado através do tombamento, novos cidadãos ali só entram se outros sairem. Os usuários da região do Plano provavelmente gostariam de calçadas mais caminháveis, e atividades mais próximas. O trânsito, a mobilidade e o déficit habitacional de Brasília se tornam cada vez piores, e nenhuma solução é viável sem alteração da forma urbana vigente.

Ao terminar que cada um pode ter uma preferência pessoal a respeito dessa balança, a resposta não foi suficiente: fui novamente pressionado para responder qual a MINHA opinião sobre o tombamento.

Claro que tinha receio dos tabus, dos ataques, da possível autoridade do Lúcio Costa dentro da UnB. Minha única referência é de que, em grande maioria dos casos, arquitetos se mostram à favor do tombamento não só de arquiteturas mas de espaços públicos que podem ser considerados parte de uma identidade nacional. Assuntos sobre a própria cidade normalmente são manifestados a partir da emoção, e quem era eu – portoalegrense morando em São Paulo – para criticar a forma urbana de brasilienses que, via de regra, gostam da sua cidade?

Mas respondi que eu não sou uma pessoa nacionalista, e que uma mudança no simbolismo pouco ia mudar na minha vida morando fora de Brasília. Provavelmente alguns iriam compartilhar no Facebook que “acharam um absurdo” removerem o tombamento de Brasília, a quilômetros de distância, e logo voltariam às suas vidas sem nenhum tipo de alteração. Agora, a população de Brasília tem necessidades reais, acima de uma preferências subjetivas de pessoas que muitas vezes nem moram na cidade.

O inesperado aconteceu: recebi uma salva de palmas.

Pelo menos parte dos brasilienses acreditam numa cidade mais viva.

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