30.4.14

O futuro urbano da América

Esta é uma tradução do artigo "America's Urban Future" escrito por Vishaan Chakrabarti, professor de Columbia, sócio do SHoP Architects e autor de "A Country of Cities: A Manifesto for an Urban America"

Imagem adaptada de "A Country of Cities: A Manifeso for an Urban America", ilustrado por SHoP Architects. [Fonte: DesignObserver]

Mesmo com toda atenção dada aos territórios hipsters como Williamsburg, Brooklyn e Portland, Oregon, os EUA estão somente nos estágios iniciais de reorganização urbana. Após meio século de decréscimo populacional, as cidades vêm ficando cada vez mais cheias – e não somente com jovens da Geração Y, mas também com famílias e com trabalhadores idosos e aposentados.

Essa reorganização, caso continue, terá grandes consequências em nossas políticas e na nossa sociedade – mas somente se o governo federal se reorganizar também e mudar sua política voltada para a promoção dos subúrbios.

A migração de jovens para as cidades é o fator mais relevante no que está acontecendo. A Geração Y, também chamada de “echo boomers” – filhos dos baby boomers –, constitui aproximadamente 25% da população. Depois de 100 anos onde o crescimento suburbano foi maior que o urbano, começamos a ter uma inversão nessa tendência por causa da Geração Y. Antigamente somente uma fração dos recém-formados em faculdades queria se mudar para as cidades; atualmente dois terços o fazem.

No passado, muitas das pessoas de vinte e poucos anos que se mudavam para as cidades acabavam se mudando para os subúrbios quando chegavam nos trinta, pois neles as escolas eram boas, a criminalidade baixa e as amenidades urbanas voltadas para um ambiente familiar eram abundantes. Mas esses fatores vêm mudando nas cidades também. A criminalidade permanece baixa enquanto escolas públicas e parques vêm melhorando em diversos lugares.

Enquanto isso, os desafios econômicos de iniciar uma vida nos subúrbios cresceram. Hipotecas e empréstimos para carros são mais difíceis de conseguir para os jovens de hoje, especialmente considerando que eles têm de lidar com a onerosa dívida que obtiveram para pagar sua graduação na faculdade. E, ainda que os preços dos aluguéis estejam aumentando, continua sendo mais fácil alugar um apartamento na cidade e pegar um ônibus ou metrô para o trabalho do que ter que se deslocar dos subúrbios (os jovens também estão atrasando a decisão de ter filhos, o que facilita viver num ambiente urbano compacto).

No quesito ambiental, os traumas do Furacão Katrina e o vazamento da plataforma Deepwater Horizon, a geopolítica que envolve energia importada e os perigos da extração de energia doméstica servem de argumento para um estilo de vida que seja mais eficiente em termos de recursos, especialmente para pais focados em ensinar aos filhos a ter consciência do mundo ao seu redor.

O mesmo pode ser dito a respeito dos valores sociais. As cidades eram consideradas lugares morrendo em contraste ao brilho do futuro suburbano; hoje, o futuro está centrado no núcleo urbano, já que ele está diretamente ligado a questões sociais como diversidade cultural e igualdade de casamento.

Já é algo bastante significante o fato de que os jovens estão optando por começar próxima etapa de suas vidas nas cidades. Mas, além disso, cada vez mais seus pais seguem esse caminho. Não imunes aos choques econômicos da última década, e com expectativas de vida mais longas e maiores contas médicas a sua frente, aqueles que veem seus filhos saindo de suas casas acabam também descobrindo os benefícios da forma mais compacta de vida oferecida nas cidades.

Considerando essas mudanças demográficas, nós temos uma oportunidade inigualável de transformar os Estados Unidos em um país mais próspero, sustentável e igualitário ao incentivarmos uma America mais urbana.

Impressionantes 90% de nosso PIB e 86% de nossos trabalhos são gerados em 3% dos Estados Unidos continental, ou seja, em nossas cidades. A emissão de carbono da maioria dos habitantes urbanos é substancialmente menor. E as cidades estão oferecendo, ainda que imperfeitamente, muito mais oportunidades de ascensão social do que os subúrbios cada vez mais empobrecidos.

Infelizmente, nossas políticas estaduais e federais continuam encorajando o oposto. O alastramento urbano não aconteceu por acontecer – ele é uma consequência direta de um governo interventor e centralizador. As cidades não ficam com a riqueza que criam: nossas maiores cidades mandam bilhões a mais em impostos para os subúrbios, através dos cofres estaduais e federais, do que recebem de volta.

O maior subsídio federal encontrado no nosso sistema é o da dedução de juros de hipotecas, que gira em torno de 100 bilhões de dólares anuais. Os impostos em combustível não chegam nem perto do que nos custa o uso de automóveis. Custos esses que vão da poluição gerada, até a desvalorização da terra ao redor de rodovias.

Por outro lado, o transporte público urbano, sistemas escolares, parques, moradias acessíveis e até mesmo aqueles que dependem da previdência social recebem migalhas em comparação a imensa generosidade que o governo despeja nos subúrbios. Não é nenhuma surpresa que nas cidades americanas bem sucedidas os metrôs são velhos, o sistema habitacional público está em ruínas e as escolas estão abaixo da média.

E eu não estou dizendo que as pessoas não devem morar nos subúrbios, mas nós não deveríamos ter de pagá-las para morar neles, particularmente agora que o mundo e as necessidades da população estão evoluindo.

Isso não precisa ser mais um debate controverso. Com milhões de americanos já se mudando para as cidades, a verdadeira questão é o que isso significa para o nosso futuro e como responderemos a isso.

Algumas cidades já estão indo adiante: Chicago, Denver, Dallas e Nova Iorque estão aumentando suas políticas voltadas para o aumento da densidade urbana, infraestrutura e amenidades. Mas essas políticas acabam sendo insuficientes com seus residentes tendo que enviar o dinheiro de seus impostos para longe.

Somente no âmbito federal é que podemos redirecionar essa gigantesca transferência de dinheiro de volta para nossas cidades, usando-a para melhorar a infraestrutura urbana através de metrôs modernos, boas escolas, locais de trabalho inovadores, moradia a preços acessíveis e ferrovias de alta velocidade. Fazer isso não beneficiaria somente os moradores urbanos; também diminuiria o nosso déficit através de um aumento de produtividade, diminuição da nossa dependência de combustível fóssil e melhoria em nossa mobilidade social.

Nós estamos em um novo milênio urbano com uma nova série de desafios globais e nossos jovens estão procurando por novas, e potencialmente melhores, formas de viver. Nós devemos ajuda-los, pelo bem de todos.

Tradução por Thiago Alminhana
Revisão por Anthony Ling

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