17.6.14

Como construir clusters de inovação além da Califórnia

Esta é uma tradução do artigo "Turn Detroit Into Drone Valley" de Marc Andreessen, co-fundador do fundo de capital de risco Andreessen Horowitz.


A receita popular para criar o “próximo” Vale do Silício é mais ou menos assim:

- Construa um parque tecnológico grande, bonito e totalmente equipado;
- Misture laboratórios de P&D e centros universitários;
- Dê incentivos para atrair cientistas, empresas e usuários;
- Conecte a indústria através de consórcios e fornecedores especializados;
- Proteja propriedade intelectual e transferência tecnológica e;
- Estabeleça um ambiente e uma plataforma regulatória propícia para negócios.

Mas... essa abordagem de clusters de inovação na verdade não funcionou. Alguns ainda rejeitaram a ideia destes esforços liderados pelo governo comparando-os a um “óleo de cobra” dos tempos modernos. Mas o setor público está sempre procurando o próximo Vale do Silício por causa da proximidade entre inovação tecnológica, crescimento econômico e oportunidade social.

Esforços anteriores nestes clusters falharam por uma série de motivos, mas um grande motivo é que os esforços do governo por si só não atraem as pessoas. É por isto que um recente grupo de experimentos focaram mais em construir comunidades empreendedoras, hubs e distritos urbanos e hackspaces. Mas, de acordo com a expert Fiona Murray da Technology Review, ainda estamos divididos em como criar um ecossistema empreendedor: ora vamos agir de cima para baixo ficando principalmente em infraestrutura – ou de baixo para cima focando apenas nas redes. Nenhum destes esforços buscam com sucesso ambos caminhos ao mesmo tempo, com governo, academia e comunidades empreendedoras agindo em compasso, como foi no desenvolvimento do Vale do Silício.

Mas o setor público não deveria estar tentando copiar o Vale do Silício. Eles deveriam, ao invés disso, descobrir qual é (ou qual poderia ser) o setor específico da sua região – e em seguida remover os entraves regulatórias para aquele setor. Não queremos 50 Vales do Silício; queremos 50 variações diferentes do Vale do Silício, um diferente do outro, únicos e focando em setores diferentes.

Imagine um Vale do Bitcoin, por exemplo, onde um país legaliza completamente criptomoedas para todas transações financeiras. Ou o Vale dos Drones, onde uma região elimina as barreiras legais locais para veículos aéreos não-tripulados. Um Vale dos Carros Autônomos em uma cidade que permite experimentar com diferentes designs de carros que dirigem sozinho, vias redesenhadas e regras de segurança. Um Vale das Células tronco, e assim por diante. Existe uma diferença chave do argumento “se-você-construir-eles-virão” de épocas passadas. Agora o foco é entre gerar competitividade regulatória entre governos municipais, estaduais e federais. Há tantas categorias novas de inovação por aí e empreendedores ansiosos para ir atrás de oportunidades dentro de seu alcance. Repensar as barreiras regulatórias em indústrias específicas atrairia mais as startups, pesquisadores e divisões de grandes companhias que querem inovar na vanguarda de um setor específico – enquanto ainda exploram e abordam muitas das dificuldades regulatórias ao longo do caminho.

Por que esta abordagem? Comparado com esforços anteriores de clusters de inovação onde governos tentavam algo artificial, esta proposta surge daquilo que governos fazem melhor: criar, ou melhor, relaxar legislações.

Outra vantagem desta abordagem é que é uma maneira de clusters se diferenciarem uns dos outros e competirem positivamente pelos recursos. Pense nisso como uma espécie de “arbitragem global” ao redor de inovação irrestrita – a liberdade de criar novas tecnologias sem precisar pedir aos poderes pela sua bênção. Empreendedores podem tirar vantagem das diferenças de oportunidades de diferentes regiões, onde inovação em um setor específico pode ser restrita em uma região, permitida e encorajada em outra, ou totalmente legalizada em uma terceira. Por exemplo, leis e normativas para usar drones ou taxar bitcoins já variam em vários lugares do mundo, assim como para o compartilhamento de caronas em cidades por todos os EUA.

Mas a maior vantagem da abordagem de termos 50 Vales do Silício diferentes não é só o que ela gera para empreendedores em regiões isoladas: é na aceleração da inovação no mundo inteiro. Remover regulações em regiões diferentes permite múltiplas categorias de inovação avançando de uma só vez, em paralelo, sem sofrer com os gargalos do tempo ou da distância.

Então quais são os riscos? Bem, sempre existe a real possibilidade de regiões avançadas “terceirizarem sua regulação” e expulsarem seu próprio risco às custas de regiões menos avançadas. Para avançar mais rápido, países mais pobres podem estar mais tentados a testarem coisas que países mais ricos estão excluindo com as suas cercas. Mas enquanto as inovações não gerarem riscos à vida – e muitos dos setores restritos não geram (as restrições normalmente protegem interesses vigentes) – um modelo como este permite uma maneira muito mais rápida e viável de regiões alcançarem as líderes. Especialmente quando você considera a vantagem que os clusters de inovação anteriores não tinham: o smartphone.

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