17.7.11

Espaço Público, Iniciativa Privada / Public Space, Private Investment

Muito se fala que empresas privadas não têm incentivos de investir em espaços públicos, já que estes não trazem lucro para a empresa. É comum imaginar que a criação de espaços públicos é uma tarefa única do setor público, sendo impossível depender da sua provisão através da iniciativa privada.

O que não é percebido é que não é politicamente lucrativo a criação de espaços públicos de qualidade, já que um político em questão não estará defendendo nenhum grupo de interesse que lhe daria votos, mas sim criando um benefício disperso em toda a população da cidade, cuja maioria já não votaria nele de qualquer maneira ou nem fica sabendo das suas boas intenções. Mesmo sendo historicamente leniente com o espaço público (no Brasil isso se torna claro), as pessoas infelizmente ainda se voltam ao estado como provedor deste bem.

A realidade mostra que esta visão pode ser mudada, com vários projetos de espaços públicos de qualidade pelo mundo realizados com financiamento e iniciativa totalmente privada, mesmo existindo o pagamento de impostos e o dever público de oferecer estes espaços em praticamente todas as cidades onde estes projetos acontecem.

A lógica destes projetos é de que empresas não buscam apenas o lucro direto através da venda de seus produtos aos seus clientes, mas também investem em marketing: a ideia que os consumidores vão ter da empresa através da imagem social que ela passa, onde eles pagam indiretamente por ações que eles considerem moralmente ou socialmente corretas. No varejo também é comprovado de que a qualidade do ambiente influi na intenção de compra dos clientes, sendo cada vez mais valorizado por quem trabalha nesta área. Iniciativa privada também não significa apenas empresas que buscam o lucro: ONGs com objetivos sociais se sustentam de doações e patrocínios voluntários, e também são fortes contribuintes para a produção privada de espaços públicos de qualidade.

Uma crítica destes espaços é de que eles são controlados pelo incorporador, não sendo verdadeiramente públicos, ou "democráticos". Meu contraponto é de que nenhum espaço é totalmente público ou democrático, sendo nos casos de projetos da iniciativa do estado controlados pelos representantes governamentais eleitos. Existem regras estabelecidas e o poder da polícia para controlar e regular manifestações - que são barradas quando se opõem à vontade do governo no poder, como exemplo da agressão policial durante a Marcha da Maconha deste ano em São Paulo.

Sendo assim, este blog produziu um ranking dos dez melhores projetos de espaços públicos criados através da iniciativa privada. Para ser justo com os céticos, foram escolhidos apenas projetos que estão inseridos no meio urbano, onde o preço dos terrenos é elevado. Três dos escolhidos ficam em Manhattan, uma das regiões com os terrenos mais caros do mundo, mas onde a densidade demográfica facilita a valorização deste tipo de empreendimento.

Mas um número maior de espaços públicos é realmente necessário?

Recentemente ouvi um arquiteto comentando que era óbvia a necessidade de mais espaços públicos em Porto Alegre, a cidade onde moro. Ele comentou que em dias bonitos em finais de semana não há mais área de gramado livre dada a grande quantidade de pessoas que utilizam estes espaços, justificando então a necessidade destes espaços. É de se perceber que este efeito também ocorre em maioria das grandes cidades.

O grande problema da questão é que espaços públicos estatais são oferecidos gratuitamente ao usuário e, como qualquer recurso que é oferecido gratuitamente haverá uma demanda artificialmente maior para a exploração deste, frequentemente gerando filas (representadas pelos gramados lotados). Este também é o efeito do trânsito (com engarrafamentos), do serviço público de saúde e até mesmo daquele bolo de aniversário de 18 fatias que você levou para dividir com as 50 pessoas do escritório.

Não pagamos nossos impostos que são destinados à esses projetos voluntariamente como pagamos pelos nossos demais serviços e mercadorias, tendo então uma postura muito diferente para julgar qual a melhor maneira de destinar estes recursos. Todos nós somos forçados a pagar impostos, e normalmente as pessoas apenas tentam fazer com que uma pequena parcela volte para o seu bolso, criando os grupos de interesse citados acima. Enfim, a ausência do preço impossibilita a noção verdadeira de oferta/demanda, como Hayek escreveu no seu célebre texto "The Use of Knowledge in Society". Sendo assim, não há como sabermos com exatidão se espaços públicos oferecidos pelo estado estão mesmo faltando ou se as pessoas prefeririam que os recursos destinados a eles fossem para outras áreas de seu interesse. Caso espaços públicos fossem oferecidos privadamente, a população poderia contribuir voluntariamente com os provedores, sejam elas ONGs ou empresas, criando uma atmosfera mais realista de oferta/demanda.

E os espaços públicos de iniciativa privada são:

10-Central St. Giles Court
Projeto: Renzo Piano & Fletcher Priest Architects
Ano: 2010
Info: Neste projeto denso de uso misto recém inaugurado na região de Camden, uma enorme praça é aberta no centro, em meio a restaurantes, lojas e cafés, com ampla permeabilidade para a área urbana externa.
Mais informações: Archdaily
Foto ao lado: Michel Denance
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9-Bal Harbour Shops
Projeto: Herbert H. Johnson & Associates
Ano: 1965
Info: Este shopping de luxo em Bal Harbour, na Florida, se tornou provavelmente o principal ponto de encontro dos moradores do entorno, pelo formato diferenciado de corredor aberto com excelente paisagismo. Outra grande diferença dele aos principais shoppings é de que é propriedade de uma empresa familiar e também apoia diversos programas sociais da comunidade em que está inserido.
Mais infos: balharbourshops.com
Foto ao lado: balharbourshops.com
No mapa:


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8-Las Arenas
Projeto: Rogers Stirk Harbour + Partners
Ano: 2011
Infos: Inaugurado em março deste ano, o projeto é uma conversão de uma antiga arena de touradas em um centro comercial. No topo foi criado uma praça com vistas incríveis da cidade.
Mais infos: dezeen.com / richardrogers.co.uk
Foto ao lado: richardrogers.co.uk
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7-Praça Amauri
Projeto: Isay Weinfeld
Ano: 2002
Info: Sendo proprietária de vários pontos comerciais da Rua Amauri, a família Diniz criou na mesma rua um pocket park de altíssima qualidade, valorizando ainda mais os pontos da rua e criando uma imagem positiva da família com a cidade.
Mais infos: isayweinfeld.com
Foto ao lado: isayweinfeld.com
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6-Seagram Building Plaza
Projeto: Ludwig Mies Van der Rohe
Ano: 1957
Info: Sendo um gesto pioneiro em Manhattan, uma das áreas então com os terrenos mais caros do mundo, o espaço deixado em frente ao edifício Seagram hoje é não só um respiro entre os arranha-céus como uma área onde acontecem eventos, manifestações e onde as pessoas sentam para seus rápidos almoços take-out.
Mais infos: wikipedia.org
Foto ao lado: Cornelis Werwaal
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5-Lever House Plaza
Projeto: Skidmore, Owings & Merrill
Infos: Logo em frente ao Seagram Building em Nova Iorque, fica na frente neste ranking por ter sido inaugurado 5 anos antes. Na praça ficam expostas obras do acervo da coleção de arte da Lever House
Mais infos: archdaily.com
Foto ao lado: thecourtyard
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4-Nasher Sculpture Center Garden
Projeto: Peter Walker Partners
Ano: 2003
Info: Junto ao edifício sede da Nasher Collection de autoria de Renzo Piano, o amplo jardim com obras de Alexander Calder, Richard Serra, Alberto Giacometti, entre outros, fica no centro de Dallas. Resultado do trabalho de Raymond Nasher (o proprietário da coleção) que idealizou o centro.
Mais infos: nashersculpturecenter.org
Foto ao lado: wikipedia.org
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3-Harvard Yard
Projeto: Diversos arquitetos
Ano: Inauguração em 1718
Info: Uma área verde central no campus de Harvard, é também a parte mais antiga da universidade. De forma simbólica neste ranking, campi de universidades privadas ao redor do mundo normalmente constituem espaços públicos de excelente qualidade, sendo um ponto de encontro central entre jovens universitários.
Mais infos: harvard.edu
Foto ao lado: wikipedia.org
No mapa:



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2-Sony Platz
Projeto: Peter Walker Partners
Ano: 2000
Info: Logo após a queda do Muro de Berlin, a Sony tinha planos de estabelecer sua sede em Potzdamer Platz. Reunindo residências, hotéis, lojas, centro de convenções, auditórios e restaurantes, a praça central é um elemento central do projeto.
Mais infos: sonycenter.de
Foto ao lado: gardenvisit.com
No mapa:



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1-Rockefeller Center
Projeto: Raymond Hood
Ano: 1939
Info: Considerado o maior projeto privado já realizado em tempos modernos, teve a construção da praça como um elemento central de valorização do projeto. Sempre movimentada, o espaço também abriga no inverno a pista de patinação que mais chama atenção no mundo.
Mais infos: rockefellercenter.com
Foto ao lado: wikipedia.org
No mapa:




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It is often said that private companies do not have incentives to invest in public spaces, as these do not give profits to the company. Usually people think that the creation of public spaces is a unique task of the state, being impossible to depend on its provision through the private sector.

What is also not noticed is that it is not
politically profitable to create good public spaces, as a politician won't be defending any specific interest group which would give him votes, but creating a dispersed benefit for the entire city population, which most of wouldn't vote for him in the first place or don't even know about his supposedly good intentions. Even with the public sector being historically bad at providing good public spaces (in Brazil this is very clear), people unfortunately still look up to it as provider of this good.

Reality shows that this point of view can be changed, with many public space projects being executed with 100% private funding and initiative, even with existing taxes directed to public provision of public spaces where these projects take place.

The logic of these projects is that companies don't look for profit only by the direct selling of their products to their clients, but also invest in marketing: the idea that consumers have about the company and it's social image, where they pay indirectly for deeds they find morally or socially correct. In retail it is also known that the quality of the environment affects consumers' buying intention, and its design is gradually being more valued by companies. Private funding also doesn't only mean private for-profit companies: NGO's with social objectives are sustained by private donations and sponsorships, and are also strong contributors to the private production of public spaces.

A critique made of these spaces is that they are controlled by the builder, not being truly public or "democratic". My rebuttle to this is that no space is completely public or democratic, being - in cases of state initiative projects - controlled by the democratically elected officials. There are established rules and the power of the police to control and regulate manifestations - which are barred when opposed to the will of the government in power, as exemplified with the police aggression during this year's Marijuana March in São Paulo.

Being so, this blog has made a rank of the top ten public space projects created with private funding. To be fair with the skeptics only urban area projects were chosen, where the price of land is higher. Three of our picks are in Manhattan, one of the world's most expensive land prices, where high density makes this kind of private endeavor more profitable.

But are more public spaces really necessary?

Recently I heard an architect saying that it was obvious that Porto Alegre (where I live) needed more public spaces. The comment was that in weekends with nice weather one cannot find free lawn area given the large number of people who use these spaces, justifying the need of more of these spaces. We should also notice that this occurs in most large cities.

The problem with this reasoning is that state public spaces are offered free to the final user and, as any resource which is given away there will be a artificially higher demand trying to explore this resource, usually ending up with queues (represented by the overcrowded lawns). This is also the effect of traffic, of the public health service or even of that 18-slice birthday cake you brought to share with your 50 office mates.

We don't pay our taxes for these public spaces voluntarity as we pay for other services and products, having a different mindset to judge which is the best way to use these resources. Each one of us is forced to pay taxes, and usually people just try to have a small piece of it to return to their pockets, creating the interest groups mentioned above. Basically, the non-existence of prices makes it impossible to have a true notion of supply and demand as Hayek said in his famous essay called "The Use of Knowledge in Society". So there is no way to know for sure if more public spaces offered by the state are really necessary or if people would prefer that these resources went to other areas of their interest. If public spaces were privately offered, people could voluntarily contribute with the providers, NGOs or for-profit companies, creating a more realistic atmosphere of supply and demand.

2 comentários:

  1. Anthony, eu trabalho para o projeto www.portoalegre.cc e pelo que acompanho através das causas inseridas, a população quer muito espaços públicos de qualidade. Um tipo de causa que aparece bastante, é o de pessoas solicitando que praças recebam manutenção adequada. Belo post. Parabéns :)

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  2. @Aline BuenoAline, obrigado pela contribuição e pelo elogio! Também já conhecia o projeto de vocês, é um meio interessante de levantar informações sobre a cidade. Tenho, porém, algumas dúvidas sobre a relevância das causas criadas pelos participantes. Tu terias disponibilidade de conversar sobre isso via e-mail? Abraço!

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