Quando se fala em Urbanismo, normalmente surge o tema de especulação imobiliária. Para termos qualquer tipo de opinião sobre tal, precisamos entender o que é um especulador, quais incentivos que o movem, que riscos ele corre e qual o seu papel na sociedade. Deixo esta difícil tarefa para Walter Block, um dos meus economistas prediletos, com o capítulo no assunto do seu livro 'Defendendo o Indefensável'. Tradução e disponibilização do texto por mises.org.br.
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"Morte aos especuladores!" é a palavra de ordem durante todas as épocas de carestias que existiram. Articulado por demagogos que pensam que o especulador causa a morte pela fome, ao fazer subirem os preços dos alimentos, esse grito é apoiado com fervor pelas massas de analfabetos em economia. Esse tipo de ideia ou, antes, de falta de ideia tem permitido a ditadores que imponham até pena de morte a comerciantes de alimentos que cobram preços altos em tempos de escassez. E sem o menor protesto daqueles geralmente envolvidos com direitos e liberdades civis.
Ainda que a verdade dos fatos seja que, longe de causar a morte por fome ou a carestia, é o especulador quem as evita. E, longe de salvaguardar a vida das pessoas, é o ditador quem tem de arcar com a responsabilidade maior, por ser o primeiro a causar a escassez. Assim, o ódio popular pelo especulador é uma perversão da justiça tão grande quanto se possa imaginar. Podemos observar melhor isso ao considerar que o especulador é uma pessoa que compra e vende mercadorias com a intenção de lucro. Ele é aquele que, segundo a velha frase, tenta "comprar na baixa e vender na alta".
Mas o que comprar na baixa, vender na alta e conseguir grandes lucros tem a ver com salvar as pessoas de morrerem de fome? Adam Smith explicou isso melhor com a doutrina da "mão invisível". Segundo essa doutrina, "todos os esforços do indivíduo para empregar seu capital de modo que ele produza, podem ser do maior valor. Em geral, ele não pretende promover o interesse público, nem sabe o quanto o está promovendo. O que pretende é apenas sua própria segurança, seu próprio ganho. É levado, como que por uma mão invisível, a promover um fim que não fazia parte de sua intenção. Ao perseguir seu próprio interesse, não raro promove o interesse da sociedade de forma mais eficaz do que quando realmente tem a intenção de promove-lo." O especulador bem-sucedido, portanto, agindo em seu próprio interesse egoísta, não sabendo, nem se importando com o bem público, promove-o.
Em primeiro lugar, o especulador diminui os efeitos da escassez, ao estocar alimentos em épocas de fartura, por motivos de lucro pessoal. Ele compra e estoca alimentos para o dia em que possam escassear, possibilitando-lhe vendê-los a um preço mais alto. As consequências de sua atividade são de longo alcance. Elas atuam como um sinal, para outras pessoas na sociedade, que são encorajadas, pela atividade do especulador, a fazerem o mesmo. Os consumidores são encorajados a comerem menos e economizarem mais; os importadores, a importarem mais; os produtores rurais, a aumentarem suas plantações de cereais; os construtores, a construírem mais instalações para estocagem; e os comerciantes, a estocarem mais alimentos. Assim, seguindo a doutrina da "mão invisível", o especulador, através de sua atividade de busca de lucro, faz com que sejam estocados mais alimentos em anos de fartura do que o seriam, com isso diminuindo os efeitos dos anos magros que estiverem por vir.
Entretanto, serão levantadas objeções de que essas consequências boas somente têm lugar se o especulador está certo, em sua avaliação das condições futuras. E se ele está errado? E se prevê anos de fartura e, ao vender, encoraja outros a fazerem o mesmo - e se seguem anos magros? Neste caso, ele não é responsável por aumentar a gravidade da escassez?
Sim. Se o especulador está errado, ele é responsável por um grande dano. Mas há forças poderosas em ação que tendem a eliminar os especuladores incompetentes. Assim, o perigo que representam e o dano que causam, são mais teóricos do que reais. O especulador que faz conjecturas erradas, sofre prejuízos financeiros graves. Comprar na alta e vender na baixa pode desorientar a economia, mas certamente é devastador para o especulador, que, comparativamente, não passa de um livro de bolso. Não se pode esperar que um especulador tenha um recorde perfeito de previsões, mas, se ele erra com mais frequência do que acerta, tende a perder seu capital. Com isso, não permanece em posição de poder aumentar, com seus erros, a gravidade da escassez. A mesma atividade que prejudica o público, automaticamente prejudica o especulador e, com isso, impede-o de continuar tal atividade. Assim, a qualquer dado tempo, é provável que os especuladores existentes sejam muito eficientes mesmo e, portanto, benéficos à economia.
Comparemos isso à atividade dos órgãos do governo, quando estes assumem a tarefa do especulador, de estabilizar o mercado de alimentos. Eles também tentam acertar o estreito limite entre estocar alimentos de menos e estocá-los demais. Mas, se erram, não estão sujeitos a serem eliminados. O salário de um funcionário do governo não sobe nem cai com o (in)sucesso de suas atividades de especulação. Já que não é seu próprio dinheiro que é ganho ou perdido, pode-se esperar que o cuidado com que fazem suas especulações deixe muito a desejar. Não há qualquer aperfeiçoamento diário, automático e contínuo da precisão dos burocratas, como acontece com os especuladores privados.
Persiste a objeção, por várias vezes citada, de que o especulador causa a alta dos preços dos alimentos. Se estudarmos cuidadosamente sua atividade, entretanto, veremos que o efeito total nada mais é do que a estabilização dos preços.
Em épocas de fartura, quando os preços dos alimentos caem extraordinariamente, o especulador compra. Ele retira do mercado uma quantidade de alimentos, fazendo, com isso, subirem os preços. Nos anos de escassez que se seguem, esse estoque de alimentos vai para o mercado, fazendo com que os preços caiam. Naturalmente, os alimentos têm grande valor em tempo de escassez, e o especulador os vende por um preço maior do que o de compra original. Mas os alimentos não ficam tão caros quanto ficariam na falta de sua atividade! (Devemos lembrar que o especulador não causa a escassez de alimentos, que, em geral, é resultado de safras ruins e de outros desastres naturais ou produzidos pelo homem.)
O efeito do especulador sobre os preços dos alimentos é o de estabilizá-los. Em tempos de abundância, quando os preços estão baixos, o especulador, ao comprar e estocar alimentos, faz com que subam. Em épocas de escassez, quando os preços estão altos, o especulador vende, fazendo com que os preços caiam. O efeito, para o especulador, é ter lucros. Isso não é abominável; ao contrário: o especulador presta um serviço valioso.
Ainda assim, ao invés de respeitarem o especulador, os demagogos e seus seguidores insultam-no. Mas proibir a especulação com alimentos teria, sobre a sociedade, o mesmo efeito de impedir que os esquilos estocassem nozes para o inverno: levaria à fome.
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When Urbanism is the conversation topic, real estate speculation us usually comes up. For us to have any kind of opinion on the subject, me must understand what is a speculator, what are his incentives, what risks one takes and what is a speculator's role in society. I leave this difficult task to Walter Block, one of my favourite econonists, with the chapter on the subject from his book 'Defending the Undefendable'. Translation and full text by mises.org.
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"Kill the speculators!" is a cry made during every famine that has ever existed. Uttered by demagogues, who think that the speculator causes death through starvation by raising food prices, this cry is fervently supported by the masses of economic illiterates. This kind of thinking, or rather nonthinking, has allowed dictators to impose even the death penalty for traders in food who charge high prices during famines. And this is done without the feeblest of protests from those usually concerned with civil rights and liberties.
Yet the truth of the matter is that, far from causing starvation and famines, it is the speculator who prevents them. And far from safeguarding the lives of the people, it is the dictator who must bear the prime responsibility for causing the famine in the first place. Thus, the popular hatred for the speculator is as great a perversion of justice as can be imagined. We can best see this by realizing that the speculator is a person who buys and sells commodities in the hope of making a profit. He is the one who, in the time-honored phrase, tries to "buy low and sell high."
But, what does buying low, selling high, and making large profits have to do with saving people from starvation? Adam Smith explained it best with the doctrine of "the invisible hand." According to this doctrine, "every individual endeavors to employ his capital so that its produce may be of the greatest value. He generally neither intends to promote the public interest, nor knows how much he is promoting it. And he intends only his own security, his own gain. He is led in this as if by an invisible hand to promote an end that was no part of his intention. By pursuing his own interest he frequently promotes that of society more effectually than when he really intends to promote it." The successful speculator, therefore, acting in his own selfish interest, neither knowing nor caring about the public good, promotes it.
First, the speculator lessens the effects of famine by storing food in times of plenty, through a motive of personal profit. He buys and stores food against the day when it might be scarce, enabling him to sell at a higher price. The consequences of his activity are far-reaching. They act as a signal to other people in the society, who are encouraged by the speculator's activity to do likewise. Consumers are encouraged to eat less and save more, importers to import more, farmers to improve their crop yields, builders to erect more storage facilities, and merchants to store more food. Thus, fulfilling the doctrine of the "invisible hand," the speculator, by his profit-seeking activity, causes more food to be stored during years of plenty than otherwise would have been the case, thereby lessening the effects of the lean years to come.
However, objections will be raised that these good consequences will follow only if the speculator is correct in his assessment of future conditions. What if he is wrong? What if he predicts years of plenty — and by selling, encourages others to do likewise — and lean years follow? In this case, wouldn't he be responsible for increasing the severity of the famine?
"Fulfilling the doctrine of the 'invisible hand,' the speculator, by his profit-seeking activity, causes more food to be stored during years of plenty than otherwise would have been the case, thereby lessening the effects of the lean years to come."
Yes. If the speculator is wrong, he would be responsible for a great deal of harm. But there are powerful forces at work that tend to eliminate incompetent speculators. Thus, the danger they represent and the harm they do are more theoretical than real. The speculator who guesses wrong will suffer severe financial losses. Buying high and selling low may misdirect the economy, but it surely creates havoc with the speculator's pocketbook.
A speculator cannot be expected to have a perfect record of prediction, but if the speculator guesses wrong more often than right, he will tend to lose his stock of capital. Thus he will not remain in a position where he can increase the severity of famines by his errors. The same activity that harms the public automatically harms the speculator, and so prevents him from continuing such activities. Thus at any given time, existing speculators are likely to be very efficient indeed, and therefore beneficial to the economy.
Contrast this with the activity of governmental agencies when they assume the speculator's task of stabilizing the food market. They too try to steer a fine line between storing up too little food and storing up too much. But if they are in error, there is no weeding-out process. The salary of a government employee does not rise and fall with the success of his speculative ventures. Since it is not his own money that will be gained or lost, the care with which bureaucrats can be expected to attend to their speculations leaves much to be desired. There is no automatic, ongoing daily improvement in the accuracy of bureaucrats, as there is for private speculators.
The oft-quoted objection remains that the speculator causes food prices to rise. If his activity is carefully studied, however, it will be seen that the total effect is rather the stabilization of prices.
In times of plenty, when food prices are unusually low, the speculator buys. He takes some of the food off the market, thus causing prices to rise. In the lean years that follow, this stored food goes on the market, thus causing prices to fall. Of course, food will be costly during a famine, and the speculator will sell it for more than his original purchase price. But food will not be as costly as it would have been without his activity. (It should be remembered that the speculator does not cause food shortages; they are usually the result of crop failures and other natural or man-made disasters.)
The effect of the speculator on food prices is to level them off. In times of plenty, when food prices are low, the speculator by buying up and storing food causes them to rise. In times of famine, when food prices are high, the speculator sells off and causes prices to fall. The effect on him is to earn profits. This is not villainous; on the contrary, the speculator performs a valuable service.
Yet instead of honoring the speculator, demagogues and their followers revile him. But prohibiting food speculation has the same effect on society as preventing squirrels from storing up nuts for winter — it leads to starvation.
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