3.4.12

Uma nova defesa da sustentabilidade / A New Defense for Sustainability

"Seremos sábios ao deixar o comércio deste país crescer além do ponto ao qual podemos manter por muito tempo?"
- William Stanley Jevons, "The Coal Question", 1865

Um tempo atrás falei que não é preciso ser sustentável, mas desde então mudei de ideia. Considerando uma sustentabilidade ambiental significando um processo no qual a humanidade poderá permanecer vivendo no planeta Terra muitos anos da mesma forma que vive hoje: com qualidade de vida sempre crescente*.

Atitudes que buscam a sustentabilidade normalmente tentam evitar duas possíveis catástrofes: o esgotamento dos recursos naturais necessários para a vida na Terra e mudanças climáticas extremas causadas pela emissão de carbono na atmosfera. Esta defesa da sustentabilidade se refere à primeira, e quanto à segunda mantenho os argumentos apresentados aqui de que não temos grandes motivos para nos preocuparmos. Como já comentei antes, sempre se deve separar os objetivos da sustentabilidade ambiental, já que estudos mostram que se os recursos naturais realmente terminarem, não haverá mais recursos para serem queimados e produzirem gases causadores de mudanças climáticas.

Sendo assim, as políticas atuais que buscam a sustentabilidade de recursos naturais, como campanhas de reciclagem de lixo, economia de água e de energia, subsídios de energias renováveis e conscientização ambiental em geral não são a melhor maneira de atingir estas metas já que elas não tocam a raiz da questão: lixo, água e energia são setores normalmente controlados pelos governos. No Brasil, empresas privadas muitas vezes realizam a coleta de lixo e distribuição de água e energia, mas todas ou são contratadas pelo estado, ou necessitam de licenças limitadíssimas para operar ou tem seus preços e procedimentos altamente regulados pelo estado. Enfim, não existe um mercado de fato destes recursos.

O problema que isto gera é simples: a lei da oferta e demanda e, consequentemente, o sistema de preços, se torna inexistente. Governos caem no problema do cálculo econômico de tentar arbitrar taxas para o seu consumo sem considerar os fatores de oferta e demanda existentes no mercado, causando quantias de consumo e de produção artificiais, ora acima ora abaixo do ponto ótimo. Já exemplifiquei este processo falando sobre o lixo neste post de um ano atrás. A taxa de lixo, atualmente, é arbitrada sem critérios objetivos, usando como base da cobrança o tamanho dos imóveis e dando desconto, por exemplo, para templos religiosos no caso de Porto Alegre. Então quem produz lixo não paga de acordo com o volume, o peso, a toxicidade ou os danos ao ambiente que o seu descarte produz. Ou seja, no sistema de hoje não interessa se você separa seu lixo e cuida para produzir menos resíduos: seu vizinho que mora em um apartamento parecido com o seu, que mistura baterias, óleo de cozinha e lâmpadas fluorescentes no mesmo saco e não amassa nenhuma garrafa ou caixa vai pagar exatamente a mesma taxa que você. Se existisse efetivamente um mercado de lixo, certamente quem coletaria o lixo cuidaria para cobrar de acordo com critérios de peso e volume e quem armazenaria ou reciclaria o lixo de acordo com a toxicidade ou natureza.

Água e energia funcionam da mesma forma (como qualquer outro recurso, por sinal), e se o preço é colocado abaixo do que deveria ser o consumo será acima do que seria de forma natural. Se estes recursos seguissem uma lógica de mercado, regiões afastadas das zonas de abastecimento e com baixa densidade demográfica provavelmente teriam um preço de água e de energia muito mais elevado que em grandes centros urbanos, onde o custo da infraestrutura é dividido entre milhões de pessoas, porém isto não acontece: a sociedade subsidia e incetiva artificialmente o gasto de água e energia nestas regiões. Alguns argumentam que esta política serve para ajudar os pobres, porém todos sabemos que não só pobres moram longe dos centros urbanos. Na prática esta forma de taxação também acaba incentivando a dispersão das cidades de forma anti-econômica, o que em inglês se chama "sprawl".

O melhor exemplo histórico que comprova este fenômeno de regulação natural dos recursos naturais através da oferta e demanda é o da previsão do esgotamento do carvão no início do século 20, o então principal recurso natural para produção de energia. Especialistas da época como o célebre economista William Jevons acreditavam seriamente - assim como hoje - de que a humanidade entraria em crise porque nossos recursos (no caso, o carvão) iriam acabar. Isso não aconteceu, e não foi porque as campanhas foram eficazes e "cada um fez sua parte" altruisticamente economizando carvão para as gerações futuras, mas sim porque o carvão simplesmente ficou mais caro à medida que sua quantia foi diminuindo, fazendo com que houvesse, egoisticamente, uma economia. Isso pressionou o mercado de energia elétrica para ser mais eficiente no uso do carvão e para achar outras fontes (como o petróleo) ou para pesquisar energias alternativas. O mesmo efeito está acontecendo hoje: o que mais pressiona a busca por novas fontes de energia não são campanhas de ONGs, subsídios governamentais ou a conscientização moral da população. O petróleo simplesmente ficou muito mais caro, pressionando o mercado mais uma vez. Não é um processo forçado e consciente como grande parte do movimento ambientalista aborda a questão, mas um processo natural e inconsciente, onde toda a população gradualmente muda seus costumes baseado no aumento do preço, que por sua vez é definido pelas quase infintas interações entre as pessoas, bem explicado por Hayek em "O Uso do Conhecimento na Sociedade".

Aumenta o preço do petróleo...
...e abaixa o preço dos painéis solares. Por que será?
Segundo muitos economistas e historiadores, foi exatamente a ausência de preços que causou falta de alimentos e a grande fome de Holodomor na União Soviética: não vamos repetir os erros do passado com nossos preciosos recursos naturais. Se o petróleo estiver acabando, como iremos saber? Que tipo de sinais temos que ter? Com a ação dos preços, os copinhos plásticos descartáveis vão gradualmente aumentar de preço, fazendo com que nosso consumo diminua. Assim, sustentabilidade de verdade - esta que aqui defendo - só será atingida se os países deixarem de arbitrar taxas para seus recursos naturais e para a produção de resíduos sem levar em consideração as leis básicas de oferta e demanda do mercado. Sem isso, as previsões catastróficas realmente podem se tornar realidade.

Para aqueles procurando mais informações sobre o tema, recomendo este vídeo curto com o economista Steve Horwitz e uma visita ao site da ONG PERC.

* Quem acredita que a qualidade de vida dos humanos na Terra está diminuindo ora está equivocado ora tem uma opinião bem diferente da minha de o que é qualidade de vida. Ver "Rational Optimist", de Matt Ridley.

-

"Are we wise in allowing the commerce of this country to rise beyond the point at which we can long maintain it?"
- William Stanley Jevons, "The Coal Question", 1865

Some time ago I said that being sustainable wasn't necessary: I've since changed my mind. This considering that environmental sustainability means a process by which humanity can keep living on planet Earth for many years the same way it does today: with an always increasing quality of life*.

Actions reaching for environmental sustainability usually try to avoid two possible catastrophes: the end of natural resources that make life on Earth possible and extreme climate changes due to carbon emissions in the atmosphere. This defense of sustainability refers itself to the first possibility, and I maintain that we don't really have to worry about the second. As I've argued before, the two scenarios always have to be separated while talking about environmental sustainability, as studies show that if the natural resources do end, there won't be any left to burn and produce climate change-inducing gases.

So today's policies aiming at the sustainability of natural resources, as recycling subsidies, water and energy saving campaigns, alternative energy subsidies and environmental conciousness in general are not the way to achieve the goals of sustainabilty as they don't get to bottom line of the problem.: trash, water and energy are usually sectors controlled by governments. In Brazil, private companies many times collect garbage and distribute water and energy, but they are all either hired by the state or need very restricted licenses to operate or have their prices and procedures highly regulated by the state. Basically there is no de facto market of these resources.

The problem this generates is fairly simple: the law of supply and demand and, therefore, the price system, is nonexistent. Governments end up with the economic calculation problem of trying to establish consumer fees with no relation with the amount of supply and demand, causing artificial amounts of production or consumption, either above or below optimum.  I've already gave an example of this situation with trash around a year ago, in an earlier post. Garbage fees today are based in no logical conditions, using apartment sizes as a calculation base and giving 50% discounts to religious temples, as it is the case in Porto Alegre. So those who produce trash don't pay according to volume, weight or environmental damage. So it doesn't matter if you separate your garbage and take care not to produce too much of it, your neighbor who lives in a similar size apartment and mixes batteries, kitchen oil and fluorescent light bulbs in the same bag and never squashes his bottles or boxes will pay the same amount as you do. If there was an effective market for trash, collectors would certainly be aware to charge according to weight and volume, and receivers could charge according to toxicity or material.


Water and energy work the same way (as any other resource, as a matter of fact), and if prices are set below what they should be there will be an above natural consumption. If these resources followed a market logic, regions far from distribution centers or large urban agglomerations with low density population would have much higher water prices than in major cities, where the infrastructure cost is divided by millions of people., but this does not happen: society subsidizes and artificially incentivizes water and energy over consumption in these areas. Some argue that these policies help the poor, but we all know that not only poor people live away from urban centers. In practice this also incentivizes urban sprawl, as costs far and away from the center are not very different.

The best historical example proving this phenomenon of a natural regulation of resources is the prediction of peak coal in the beginning of the 20th century, then the main resource for energy production. Specialists at the time such as the famous economist William Jevons seriously believed - such as today - that humanity would face a crisis due to lack of resources, in that case, coal. This did not happen, and not because their campaigns were effective and everyone altruistically "did their part" by saving coal for future generations, but because coal got more expensive as it got scarcer, making people selfishly save coal. This forced the energy market to be more efficient while using coal and to try to find other sources (such as oil) or to research alternative energies. The same effect is happening today: what most pushes the search for new sources of energy are not campaigns by NGOs, government subsidies or the moral consciousness of the population. Oil simply got expensive, pushing the market once again. It is not a forced and conscious process as most of the environmental movement sees it, but a natural and unconscious one, where the entire population gradually adapts their way of life based on the rise of prices, which in return is defined by the almost infinite interactions between people, as nicely explained by Hayek in "The Use of Knowledge in Society".


According to many historians and economists, it was exactly the lack of a price system that caused food shortages and the great famin of Holodomor in the URSS: let us not repeat the mistakes of the past with our precious natural resources. If we are running out of oil, how are we supposed to know? What kind of signals should we have? With rising prices, disposable plastic cups will soon get more expensive, making us reduce our consumption. So true sustainability, the one I'm here defeding, will only be achieved if countries stop arbitrating fees for their natural resources and for waste production with no regards to the laws of supply and demand. Without this, predictions of catastrophes can indeed come true.

For those looking for further reading, I reccomend this short video with economist Steve Horwitz and visiting PERC.org.
* Those who believe that quality of life decreases is either mistaken or has a very different view of what quality of life is. See Matt Ridley's "Rational Optimist".

Nenhum comentário:

Postar um comentário