6.10.12

O Coala sobre o Tatu-Bola

Pitacos com os quais solidarizo na postagem de ontem da página O Coala:
Todos estão surdos
Na quarta-feira, na saída do show do Tom Zé, manifestantes se revoltaram contra os seguranças no local por não poderem sentar no gramado em torno do recém reinaugurado Araújo Viana. Reclamaram que o espaço era público (ainda que abandonado) e agora está cercado e indisponível ao cidadão. Em represália, queimaram um inflável da Coca-Cola na Osvaldo Aranha e juraram (!), para o dia seguinte, o Tatu-Bola da Copa. Presumia-se que era uma piada. Não era.

Ontem, havia um evento marcado no Facebook. Concorde ou não com ele, era um evento legítimo de uma discussão que ficou de fora da campanha eleitoral. É a voz (volto a dizer, legítima) de quem vê as medidas da prefeitura, em especial da Smic, como higienistas. Oposição a uma visão de mundo de que cidade boa é cidade que dorme cedo, de pijama, quando acaba a Carminha. O resto é errado, é contra a lei e vai ser fechado. Às custas de quase levar a economia da Cidade Baixa a pique, chegou-se a uma espécie de meio termo (ainda que tenso) para a questão.

Ao longo do protesto, já rolavam fotos no Facebook com críticas à escolta exagerada de 15 viaturas a um boneco de plástico, o dito Tatu-Bola. O que mais se dizia era que, enquanto partes da cidade estavam desguarnecidas de policiamento, o boneco de plástico era escoltado. Aqui entra o meu primeiro pitaco:

1. Se são contra o policiamento no Tatu, não ameacem o Tatu.

Continuando. Bom, aí invadem o cercado do Tatu. E, me desculpe a estudante que fala hoje à ZH, mas duvido que era para fazer uma ciranda em volta dele. Diante da reação da polícia, todos se alteram, pedras voam no Tatu e o pau come. Segundo pitaco:

2. Pouquíssimas coisas justificam a polícia bater em alguém. Proteger um boneco inflável não é uma delas.

Todo mundo que já foi a um jogo de futebol que seja, sabe que um PM sem identificação, de escudo e cassetete na mão, é um cara louquinho de vontade de usar esses equipamentos. Pela experiência em protestos, o pessoal que estava ontem no Centro sabia disso mais do que ninguém. Quando encontra uma desculpa (desculpa, não motivo), então, é tudo o que ele quer.

O que a polícia deveria ter feito, na minha opinião? Ao perceber que a presença de 15 viaturas e dezenas de policiais não intimidou os assassinos do Tatu, simplesmente deveria sair de cena. Melhor responder por isso, por essa omissão diante de um boneco inflável (e ela seria cobrada, não tenho dúvida), do que por uma pancadaria generalizada. Dessa forma, se os manifestantes insistissem no tatumicídio, seriam os únicos sem razão. Talvez até perdessem a vontade.

Bom, aconteceu o que aconteceu. Uma ação estúpida e uma reação ainda mais estúpida e desproporcional. Só que o mais curioso é o seguinte.

3. As mesmas pessoas que querem um espaço público sem grades, o direito de sentar na grama do Araújo, não suportam ver um Tatu-Bola inflável sem depredá-lo.

Ao fazê-lo, perdem completamente a razão. Deixam de fora de toda a discussão a importante motivação original do protesto e vestem a camiseta de "maconheiros desocupados", como são rotulados. Com a mesma avidez, a PM veste a camiseta de instituição troglodita que reprime em vez de proteger.

Salvo alguma motivação eleitoral que não quero especular, todos perdem. Porto Alegre, sobretudo.

Caue Fonseca

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