13.6.13

Protestos pela passagem: criando antipatia lutando por uma boa causa [2]

Manifestantes oferecem flores aos policiais durante o protesto na
Av. Paulista [O Globo]
Esta é a continuação da minha própria postagem, uma mensagem para o outro lado dessa bizarra sociedade polarizada. Infelizmente quem leu a primeira e gostou provavelmente não vai gostar dessa, e vice versa.

Assim, ao Estado que está reprimindo os manifestantes pela redução da passagem pelo Brasil inteiro: o que poderia ser uma forma de atender às demandas de grande parte da população está polarizando a sociedade. Muitos de nós solidarizamos pela causa global: transformar cidades em espaços mais fáceis de se locomover, mais seguros, com um transporte coletivo eficiente.

O Prefeito Haddad fala que não vai dialogar em uma situação de violência, explica que é para manter o controle. Se fosse assim, não vai dialogar em momento algum, já que a própria existência do estado pressupõe o uso da força para coagir o povo. Veja as fotos na imprensa, todas elas. Quem mais faz uso da violência? Manifestantes com flores, bombinhas e cartazes ou policiais militares com fuzis, cacetetes e bombas de gás lacrimogênio? Haddad utiliza uma retórica falha, ainda mais para um grupo de pessoas que provavelmente foi sua maior base aliada durante as últimas eleições.

O uso da força é uma tentativa deliberada para manter o status quo, obviamente falhado. Haddad abriu uma nova licitação para renovar os contratos, mas muda alguma coisa? Do meu ponto de vista, nada. Continua sendo um sistema que privilegia um determinado grupo de empresas, proibindo empreendedores a entrar no mercado de transporte coletivo. Criminaliza perueiros, vans e caronas compartilhadas dos pobres da periferia, quando o sistema atual é totalmente deficitário no atendimento dessas pessoas. Manter as concessões é manter a autoridade estatal sobre o transporte coletivo, que conseguiu, através séculos de monopólio sobre o sistema, iludir a população de que transporte é algo que deve ser centralizado, com custos socializados. A descentralização e desregulamentação do sistema não entra em pauta nem na mídia e nem pelos manifestantes, que esqueceram que podem reivindicar o direito de eles mesmos transportarem passageiros de forma mais barata e eficiente, hoje proibido.

O uso da força no nível que o Haddad lidou com a situação vem pelo medo de aceitar a derrota. Medo de aceitar que o Estado é um incompetente na gestão do transporte público e que o sistema de concessões não funciona. Medo de aceitar que os próprios cidadãos teriam capacidade de fazer o sistema funcionar sem a sua autoridade ao invés de com ela.

E assim usam equipamentos militares contra jovens desarmados, generalizando-os como vagabundos e vândalos. Conheço muita gente que foi nessas passeatas. Na maioria são apenas jovens sonhadores, cansados com o fracasso do sistema atual, que não vêem outra alternativa senão uma manifestação para chamar atenção. Esse cenário deve ser compreendido para procurar diálogo e convergência, ao invés de espancá-los e prendê-los assim como fazemos com delinquentes e verdadeiros criminosos. Um político influente poderia facilmente se colocar à disposição dos organizadores, reunindo todas as pessoas que fossem necessárias para conversar e resolver o problema, antes mesmo das pessoas saírem às ruas. Mas Haddad decide pela repressão, uma briga que nunca trará respeito, muito menos consenso.

2 comentários:

  1. Anthony, sobre tua postagem "Minha opinião sobre o transporte coletivo",

    Um equivoco muito grande aqui:
    "Ainda assim, os protestos não pedem pela separação entre o estado e o setor de transportes. Não pedem para que as empresas sejam livres para definir e disputar linhas de acordo com as necessidades dos consumidores e com maior facilidade para novos participantes entrarem no mercado."

    Eu acompanho os protestos da tarifa dos ônibus de PoA há certo tempo e uma das principais reivindicações dos protestos é o fim da "máfia do transporte" e com isso o fim do monopólio das empresas que controlam o serviço (sob a segurança de contratos com a prefeitura).
    Grande parte, se não toda, do protesto é ciente e é contra o domínio do transporte coletivo por poucas empresas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gabriel L.,

      Praticamente todos os protestos advogam pelo fim das concessões municipais ao transporte coletivo privado, defendendo um novo monopólio, de controle total do Estado do sistema de transporte coletivo. A reivindicação é, em grande maioria dos casos, paradoxal, já que luta contra o Estado pedindo o controle dele sobre o sistema. Pouquíssimos são aqueles que defendem uma verdadeira livre concorrência no setor, como comentei no texto.

      Obrigado pelo seu comentário!

      Anthony

      Excluir