25.7.13

Startup Cities em Guatemala



Ontem cheguei em Guatemala para participar do Startup Cities Weekend promovido pela Universidad Francisco Marroquín. O conceito do evento é estudar cidades como startups - a criação de uma tecnologia - buscando formas inovadoras e eficientes para experimentar uma nova organização jurídica, social, econômica e espacial da forma mais positiva possível. As cidades, projetadas "do zero" e de livre entrada e saída, devem atender uma demanda e ser atraentes para as pessoas, permitindo a geração de riqueza e aumento de qualidade de vida, principalmente como uma forma de combater a pobreza em países subdesenvolvidos.

Apesar do conceito parecer utópico, diversos países estão experimentando com o conceito em vários níveis: a "smart city" coreana de Songdo, a King Abdullah Economic City, na Arábia Saudita a cidade de Lazika na Georgia, as recentes iniciativas de Honduras para permitir zonas de desenvolvimento chamadas de ZEDEs, as SEZ chinesas como Shenzen e Guangdong e o exemplo mais palpável de Hong Kong, que foi desenvolvido como um território especial, tanto enquanto colônia britânica até os dias de hoje, um território chinês independente que não está sujeito ao regime comunista chinês.

O evento promete, mas enquanto isso tive a oportunidade de conhecer um pouco da cidade de Guatemala e as ruínas da cidade maia hoje chamada de Tikal, na região de Petén.

A Cidade de Guatemala é uma cidade extremamente espalhada, com uma forma bastante predominante de casas de dois ou três andares. Mesmo assim, a cidade consegue ter uma densidade demográfica mais alta que Porto Alegre, acredito que por causa da ausência de recuos laterais ou frontais em maioria dos casos. Falando com moradores alguns explicaram que não gostam da ideia de morar em prédios, principalmente os mais velhos. No entanto, já se vê muitos lançamentos de prédios mais altos na zona central, alguns com o slogan "melhor que morar em uma casa". O trânsito piora diariamente com o aumento no número de carros e uma cidade que se espalha cada vez mais. Mas este trânsito é o mesmo que está aumentando o preço dos imóveis nas zonas centrais e pressionando por uma melhor utilização do solo, com muitas pessoas abrindo mão de morar em uma casa por uma melhor localização. Assim, é difícil acreditar que a baixa densidade se deve unicamente à cultura, provavelmente tendo um rigoroso limite de densidade por toda cidade.

Sobre o planejamento de transportes, muito se parece com cidades brasileiras: grandes vias, túneis e viadutos, priorizando o transporte individual, e um transporte público bastante precário. Um ponto interessante é que os táxis, apesar de serem licenciados, não tem taxímetro, e o preço das viagens é combinado verbalmente no início da corrida entre motorista e passageiro. Para turistas pode ser um problema, pela falta de informação, mas no aeroporto e nos hotéis encontra-se tabelas de preços médios para cada distância, e guias e até mesmo moradores são amigáveis para nos orientar. Muitas vezes ouvi o argumento de que, em uma possível desregulamentação de táxis, este seria o problema já que seria possível a decisão do preço a cada corrida. No entanto, parece estar funcionando razoavelmente bem em Guatemala.

Já a visita à Tikal é um passeio que dura o dia inteiro, pois fica próximo ao município de Flores, a 400km da Cidade de Guatemala, o que significa ou 50min de avião ou 10h de ônibus. É uma das maiores ruínas de cidades maias, que definitivamente vale a visita para quem estiver pela América Central (Flores recebe vôos internacionais). Sem querer entrar muito em detalhes e voltando ao tema das cidades "startup", o que me surpreendeu sobre Tikal é que, assim como todas cidades maias, era uma cidade estado, politicamente independente. Se confundem aqueles que falam "Império Maia", pois era diferente dos impérios Inca e Azteca. As cidades tinham apenas cultura e língua semelhante, que configurava a civilização maia, mas governo totalmente local.

Templo del Gran Jaguar, vista Acrópolis Norte
Para agradar seus quase 120 mil moradores, no auge do seu tamanho, e atrair novos, Tikal se expandia de vinte em vinte anos com novas construções: habitações, observatórios astronômicos, praças de jogos ou templos. O Templo IV tem 70m de altura, concorrendo com os prédios mais altos da cidade contemporânea de Guatemala. Guerras não eram frequentes pois as cidades dependiam entre si não só por causa do comércio, mas também por causa da troca de mão de obra, cultura e conhecimento. Conflitos ocorriam quando duas cidades brigavam por um recurso natural importante, como uma lagoa ou um rio, e alianças se formavam para resolver determinadas questões, mas isso não criava laços de dependência política. Inclusive, a descentralização de poder dos maias foi importantíssima na sua defesa contra os conquistadores espanhóis, que ao invés de derrubar um poder central e conquistar toda a população de uma só vez, eles tinham que ir de cidade em cidade, enfrentando resistências diferentes.

Quando há descentralização política e território livre para criação de novas cidades o sistema tende a criar resultados positivos. Não só os Maias, mas os gregos na Ásia Menor, as cidades da Liga Hanseática e as cidades asiáticas ao longo da Rota da Seda são exemplos históricos dessas alianças descentralizadas que duraram séculos. Hoje, a Suíça e os Estados Unidos funcionam de forma federalista, com cidades e estados relativamente independentes ao governo federal. Ainda, cidades estado como Mônaco e Cingapura têm tido êxito ao ter que criar leis atraentes para competir com economias de países inteiros. É neste raciocínio, usando novas tecnologias e, em um mundo globalizado, não só competindo com cidades próximas mas com todas cidades do mundo, é que surgem as Startup Cities.

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