9.8.13

Como planejar uma Cidade Startup

Na minha postagem anterior eu contei sobre minha chegada na Guatemala para o Startup Cities Weekend. O objetivo do seminário era debater e produzir ideias para a viabilização de Cidades Startup, cidades criadas "do zero" com o ambiente mais atraente possível, tanto na esfera institucional, social, cultural, econômica como construída. O conceito é visto como uma das tecnologias mais eficientes para promover o desenvolvimento humano, já que muitos países sofrem com desigualdade e estagnação econômica justamente por causa dos seus problemas de governança. Cidades Startup surgem como uma forma de experimentação em pequena escala que podem ser implementadas dentro destes mesmos países, já que se prevê a utilização de uma área não habitada e migração totalmente voluntária.

Planejamento Urbano em Cidades Startup: resultado da minha estação
de trabalho durante o Startup Cities Weekend
Mas urbanisticamente falando, qual a melhor forma de construir uma cidade do zero? Devemos planejar todas as ruas, praças e edificações, criando o resultado ótimo que queremos? Ou que tal não planejar nada, simplesmente dando liberdade à cada um construir da forma que quiser? Este foi exatamente o pitch que eu fiz (que foi escolhido) para receber uma estação de trabalho sobre este tema durante o seminário.

Uma forma de abordagem para tentar responder estas perguntas é utilizar a metodologia já popularizada de Lean Startup aplicado à uma cidade [para quem quiser pesquisar mais sobre o tema recomendo o site The Lean Startup e o curso How to Build a Startup]. Eu diria que dois dos princípios básicos desta metodologia são:

1) Ouça seu cliente (seus cidadãos): seu produto (a cidade) deve atender às suas demandas;
2) Você sabe pouco: novas demandas serão descobertas após o primeiro contato do cliente (cidadão) com o produto (a cidade) e tecnologias novas surgirão no meio do caminho.

Na linguagem de startups, isso significa que uma das melhores formas de lançar seu produto é criando um "MVP", ou Minimum Viable Product (Produto Mínimo Viável), que será testado pelos primeiros clientes. Estes, em seguida, darão feedback suficiente para saber quais são as configurações que estão faltando, que estão em excesso ou que estão com problemas, para que o produto seja gradualmente ajustado conforme suas necessidades.

Isso nos dá uma dica interessante de porque uma cidade como Brasília está fadada ao fracasso. Nela tudo já estava definido antes dos moradores: onde seriam os escritórios, as casas, as lojas, os hotéis, os espaços abertos. O problema surge pois assim como novos produtos, não há como o empreendedor ter todas informações sobre a demanda dos cidadãos antes mesmo de começar o projeto. No caso de Brasília, o erro foi feito em vários níveis: a densidade, a capacidade, a restrição os usos, o tamanho dos espaços abertos, a restrição ao transporte do carro individual.

Para uma startup, ao mesmo tempo que temos que atrair um determinado grupo de consumidores (moradores) aventureiros, não sabemos quem eles serão e quais serão suas necessidades. Não sabemos que tipo de tecnologia estará disponível dentro de 5 ou 10 anos, quando pretendemos ter pelo menos algumas dezenas de milhares de moradores. Não podemos colocar todas nossas fichas em uma utopia urbana, já que essas utopias normalmente mudam de tempos em tempos.

Façamos então uma simulação de como este projeto poderia ser pensado. Digamos que nosso cliente alvo inicial são moradores países subdesenvolvidos, pois pessoalmente vejo estas cidades tendo um potencial muito maior do que em países já desenvolvidos: cidadãos estão mais dispostos à trocar de cidade em busca de uma vida melhor, e a cidade tem um potencial transformador de maior impacto. O ambiente construído desta cidade deve ter as peças básicas de uma cidade para evitar deslocamentos constantes de moradores para outras cidades: moradia, escritórios e comércio, espaços públicos, um hospital ou posto de saúde, uma central de segurança, um depósito de lixo, infraestrutura de acesso (além de ruas talvez um porto ou aeroporto) e, se não houver fornecedores locais, uma planta de geração de energia. Parece muita coisa, ainda mais quando pensamos em uma cidade, mas tudo isto pode ser em pequena escala, ocupando uma área muito pequena. Podemos ter um pequeno conjunto edificações de uso misto, salas reservadas para segurança, cuidados médicos e lixo, e uma pista de pouso em uma área um pouco mais distante. Pode-se prever construções adicionais da mesma incorporadora para um curto prazo, e ainda deixar loteamentos ou áreas "virgens" para aluguel ou leasing de outras incorporadoras, que identificam demandas que passaram despercebidas e agregam valor com investimento que não temos acesso.

A tecnologia usada - ou forma urbana - deve ser a atualmente considerada como mais avançada, pelo menos na maior parte do ambiente construído: permissão de usos mistos, alta densidade, ausência de recuos laterais na base das edificações, calçadas largas, acessibilidade de pedestres e de tecnologias variadas de transporte coletivo. Esta também é considerada atualmente a forma urbana que mais atrai novos moradores, que menos consome energia e que mais gera inovação, dada à alta conectividade entre os moradores. No entanto, devemos sempre ter em mente que esta é uma tecnologia que consideramos positiva hoje, não uma panacéia do universo, e deve estar aberta à modificações e outras formas de ocupação, principalmente nas áreas abertas para futuros incorporadores.

Assim, o núcleo da nossa cidade, nosso "MVP urbano" se parece como qualquer outra incorporação imobiliária, mas com flexibilidade de expansão e abertura para que outros incorporadores façam seus próprios projetos adjacentes ao nosso. Como nosso objetivo é a atração de mais gente, para aumentar a demanda e o valor da terra e das construções, temos grandes incentivos para aceitar aqueles projetos que acreditamos agregar valor à cidade, e este processo gera um crescimento dinâmico e descentralizado que caracteriza cidades saudáveis hoje em dia.

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