25.10.13

Os cortiços eram melhores que as favelas

Conhecemos por cortiços os conjuntos de residências, normalmente operárias, que eram construídas no Brasil do final do século 19 até o início do século 20, uma forma de habitação para a grande onda de migrantes que se direcionavam das zonas rurais às cidades impulsionados pela industrialização e consequente desenvolvimento urbano. Eles normalmente eram construídos pelas próprias indústrias para abrigar seus funcionários e rotineiramente ocupadas por moradores de aluguel, evitando a necessidade de migrantes possuírem uma grande quantidade de recursos para poder viver na cidade. Eles deixaram de ser construídos no século XX parcialmente pelo decreto do controle de aluguéis por Getúlio Vargas e, enfim, pela proibição legal de construí-los, baseado nas teorias sanitaristas da miasma e na crença de que as doenças que surgiam eram inerentes à sua forma construtiva. A proibição dos cortiços está intimamente ligada ao surgimento das favelas no Brasil, pois criava uma barreira legal para a construção de moradias populares, excluindo grande parte da população à autoconstrução da favela. Hoje os requerimentos para aprovação de projetos dentro da formalidade continuam inacessíveis à quem hoje mora em favelas.

Favelas dependem, muitas vezes, da autoconstrução, onde não há especialização do trabalho para realizar o trabalho de construir uma casa. Além disso, na ausência de direito de propriedade sobre o solo, moradores não tem incentivos para investir na qualidade do longo prazo da obra, já que podem ser despejados pelas ações estatais a qualquer momento. Para qualquer um que já viu uma favela acho que as imagens falam por si só: apesar de dependerem de tecnologia construtiva de mais de 100 anos atrás, os cortiços eram melhores que as favelas. As fotografias são de cortiços paulistanos do livro "B. J. Duarte: Caçador de Imagens".


Cortiço. Avenida Nove de Julho, década de 1930. Foto: B. J. Duarte


Cortiço. Rua da Assembléia, década de 1930. Foto: B. J. Duarte


Cortiço. Rua Cardeal Arcoverde, 22 fev. 1938. Foto: B. J. Duarte


Cortiço. Rua das Flores, década de 1930. Foto: B. J. Duarte

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