Eu não conhecia a história de Ai Weiwei até pouco tempo atrás, mas desde que fiquei sabendo da sua história imediatamente tive vontade de escrever um post sobre ele.
Ai Weiwei com os arquitetos suíços Herzon & de Meuron à frente da obra do Ninho de Pássaro
Ai Weiwei é um arquiteto, artista, blogueiro e ativista chinês. Por um tempo ele teve seu próprio escritório, o FAKE Design, e também trabalhou como arquiteto consultor junto com o escritório suíço Herzog & de Meuron na obra do estádio 'Ninho de Pássaro', palco principal dos jogos das Olimpíadas de Pequim. Seus projetos já tiveram várias publicações no meio arquitetônico, tanto em fontes populares como o ArchDaily como na conceituada revista Wallpaper. Como artista, Weiwei teve a exposição mais significativa no Tate Modern, em Londres, onde ele cobriu o átrio com sementes de girassol. Suas manipulações com objetos tradicionais chineses, como a inscrição do logotipo da Coca-Cola em uma urna da dinastia Han também causou grande repercussão. Mas mesmo um amante do design Ai Weiwei decidiu se afastar do projeto do Ninho de Pássaro, por uma questão de princípios. A obra estatal de mais de U$420 milhões não conseguiu atingir a repercussão social que prometia. O estádio representa o populismo, um falso atendimento das demandas sociais, a corrupção, o desvio de verbas governamentais e ainda o desvio de verbas privadas - como argumentei neste post sobre o problema das obras públicas.
Ai Wei Wei poderia ter usado seu talento artístico com a oportunidade de trabalho com um escritório vencedor do prêmio Pritzker em provavelmente um dos países onde mais se constroi no mundo para fazer alianças políticas e se tornar ele mesmo um 'starchitect'. Se o Niemeyer fez sua carreira desse jeito, o que tem de tão errado? Mas não, Ai prefiriu ir atrás da verdade e não teve medo de espalhá-la.
O artista chinês se tornou um daqueles heróis underground não só no seu país como no mundo inteiro após suas denúncias no seu blog (que foi bloqueado pelo governo) e nas redes sociais (proibidas na China) sobre atuação do partido comunista governando o país. Uma das ações que ele organizou que mais teve repercussão foi a procura dos nomes das crianças mortas no terremoto de Sichuan, que o governo Chinês escondeu da população. Por causa de tudo isso o governo o seguia e algumas vezes já tinham invadido sua casa para espcancá-lo. Agora o partido destruiu o estúdio dele e Ai Weiwei está preso.
FAKE Design: Studio House
A história de Ai Weiwei se relaciona com diversos temas deste blog. Nunca tendo estudado arquitetura formalmente, apenas arte e design e trabalhado como obreiro durante seu período em Nova Iorque, ele construiu sua própria casa por necessidade e, quando as pessoas viram o resultado pediram para que ele fizesse outros projetos. Esse é o jeito que o mercado deveria ser: sem barreiras de entrada para que qualquer um tenha o direito de construir sua própria casa, talvez a atividade produtiva mais antiga do ser humano, e permitir que mais gênios como Ai Weiwei possam existir. Se fossem aplicadas as regulamentações existentes na China (ou existentes no Brasil) ele seria preso – novamente - por infringir várias normas construtivas e por projetar sem licença, o que remete ao meu post sobre a regulamentação da construção e sobre a regulamentação da Arquitetura no Brasil.
O caso de Ai Weiwei também faz nós arquitetos perguntarmos a seguinte questão: você ajudaria a construir um estádio tomando recursos de pessoas que sobrevivem, em média, com U$7 mil por ano, o PIB per capita chinês? A justificativa estatal, assim como é no Brasil, normalmente é a seguinte: a promoção do esporte (estádio), da cultura (arquitetos famosos) e um 'estímulo para a economia' (obras públicas). Weiwei aparentemente estava impedido todas estas coisas 'maravilhosas' incentivadas pelo governo chinês. Mas pense: não seria melhor deixar o próprio cidadão chinês escolher se ele quer gastar em esporte, cultura e ele mesmo escolher quais setores da economia estimular? Porque que ele não poderia estimular o setor alimentício, por exemplo, para comprar comida para a sua família? Ou o setor da informática, para aumentar suas possibilidades de educação? Ou qualquer setor que lhe interesse? Estaríamos nós arquitetos acima das escolhas individuais de cada um? É relevante perguntar se o mesmo não vale para o Brasil, um país com 16 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, com um estado corrupto que promove uma Copa do Mundo usando recursos que poderiam estar no bolso destes miseráveis, e ainda tendo a coragem de justificá-la com 'melhorias sociais'.
Promovendo um design de qualidade mas sempre com os princípios, Ai Weiwei está literalmente renderizando a liberdade, e é o heroi deste blog.
Ai Weiwei, "Study in Perspective"
Mais sobre Ai Weiwei abaixo:
"Untitled" by Ai Weiwei from Harvard GSD on Vimeo.
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I did not know about Ai Weiwei until some time ago, but since I heard about his story I immedeatly wanted to write a post about him.
Ai Weiwei is a chinese architect, artist, blogger and political activist. For some time he ran his own office, FAKE Design and also worked as an architectural consultant with swiss office Herzog & de Meuron on the 'Bird's Nest' Stadium, main stage for thr Beijing Olympics. His projects appeared in many design sources, in popular ones such as ArchDaily and also in highly regarded Wallpaper magazine. As an artist, Weiwei had his most significant exibition at Tate Modern in London, where he covered the atrium with sunflower seeds. His manipulations with traditional chinese objects, such as drawing the Coke logo on a Han dynasty urn also caused a lot of fuss. But even loving design and architecture Ai Wewei decided to leave the Bird' Nest project for a matter of principle. The state funded work of over U$420 million did not have the positive social impact it promised. The stadium represents populism, a fake attending of social demands, corruption, public funds embezzelment and private funds embezzlement, as I argued on this post about the problem with public works.
Ai Weiwei could have used his artistical talent and the job with a Pritzker Prize-winning office in prabably one of the places where building is booming the most to make political alliances and to become himself a 'starchitect'. If Oscar Niemeyer made his career this way, what's so wrong with it? But no, Ai rathered go for the truth and was not afraid to spread it out.
The chinese artist became one of those underground heroes not only in his country but in the whole world after speaking out on his blog (which was shut down by the government) and on social networks (forbidden in China) on the communist party's actions ruling the country. One of his most outstanding projects in this sense was the search of the names of the children killed in the Sichuan earthquake which the government kept from the people. Because of this state agents had already tailed him day and night and had also braked into his house to beat him up. Today the party has torn down his studio and Ai Weiwei is in prision.
Ai Weiwei's story relates to many issues covered in this blog. Having never formally studied architecture, only art and design and working as a construction worker during his period in New York, he built his own house out of necessity and when people saw the results they asked him to design more. This is the way the market should be: no barriers of entry so that anyone can build their own house, maybe the oldest productive activity in human history, and letting more geniuses like Ai Weiwei exist. If China's (or Brazil's, for that matter) regulation was to be enforced he would be arrested - again - by violating building codes and by designing without a license, which relates to my posts on building regulation and on architcture regulation.
Ai Weiwei's case also makes us architects ask the following question: would you help build a stadium using resouces from people who survive, on average, with U$7000/year, which is China's GDP per capita? The state usually uses the following reasons to do so: promoting sports (stadium), culture (famous architecs) and 'stimulating the economy' (public works). Weiwei apparently was stopping all of these 'wonderful' state-incentivized things to happen. But think about it: wouldn't it be better if you let the chinese citizen himself choose if he wants to spend in sports, culture or even which sectors of the economy he wants to stimulate? Why could'nt he stimulate the food sector, for example, paying for better meals? Or the computer sector, to give him more possibilities of education? Or whatever sector he feels like? Are we
architects above the individual choices of everone else? It is relevant to ask if the same stands for Brazil, a country with 16 million people living in extreme poverty with a corrupt state promoting the World Cup using resources that could be in these people's pockets, and even having the nerve to justify it with social welfare.
Promoting a high quality design but always with principles, Ai Weiwei is literally rendering freedom and is this blog's hero.
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