Parte III: Múltiplas Racionalidades
Parte II: Ayn Rand
(spoilers de "A Nascente")
Ayn Rand (nascida Alisa Zinov'yevna Rosenbaum) foi uma escritora russo-americana que está voltando a fazer sucesso mundialmente após a crise econômica de 2008 e a crescente descrença em soluções comandadas pelo estado. Aproveitando a onda, foi lançada a reedição da tradução do best-seller "Atlas Shrugged", rebatizado de "A Revolta de Atlas". Mesmo concordando com algumas de suas ideias no campo político e econômico, acho que Rand estava longe do razoável com seus livros "O Manifesto Romântico" e "A Nascente", onde ela tenta argumentar por uma arquitetura e por uma arte 'racional'.
Rand dizia que a único ideal moral racional é o Objetivismo, uma filosofia que ela mesmo criou que tem como princípio a valorização do indivíduo e as suas realizações. A "função" da arte, para ela, seria o meio indispensável através da qual uma ideia moral se manifesta. Sendo assim, a única arte moral (e então "racional") é a a arte Romântica, que busca a representação do homem ideal, assim como ela tenta em seus livros. Um exemplo dessa posição é o gosto da autora pelo seriado americano "As Panteras", pois a história se tratava de mulheres bonitas fazendo coisas extraordinárias. Através de Howard Roark, o protagonista e a 'projeção de seu homem ideal' em 'A Nascente', também se identifica a opinião da autora onde ela considera irracional identificar a beleza em qualquer paisagem naturais, já que é uma paisagem sem intervenção do homem. Como arquitetura, o exemplo mais emblemático descrito por Rand é o Templo Stoddard, obra projetada pelo personagem de Roark para o culto ao homem:
"It was scaled to human height in such a manner that it didn't dwarf man, but stood as a setting that made his figure the only absolute, the gauge of perfection by which all dimensions were to be judged. When a man entered this temple, he would feel space molded around him, for him, as if it had waited for his entrance, to be completed...It was a place where one would come to feel sinless and strong, to find the peace of spirit never granted save by one's glory. "
Nesse sentido Rand também considerava uma obra arquitetônica de qualidade impossível de ser realizada por mais de uma pessoa: o arquiteto seria o criador-mestre que criaria todos os detalhes e não pediria opiniões à ninguém. Isso é algo obviamente impraticável porque um projeto sempre é resultado de um trabalho em equipe, com inúmeros desenhistas, materiais, projetos e consultorias tercerizadas e até mesmo a concepção da relação arquiteto-cliente como uma equipe.
Voltemos à descrição sobre arquitetura moderna da primeira parte. O movimento é dividido por muitos críticos e historiadores de arquitetura em 2 correntes: a racionalista e a organicista. É de se surpeender que o gosto de Rand se encaixava nos critérios da ala organicista, que buscava a integração da edficação com a paisagem e uma certa emulação do ambiente natural. Assim fazia Frank Lloyd Wright, seu arquiteto predileto e cujas obras serviram de refêrencia para as descritas no livro, e Richard Neutra, um arquiteto famoso que ela contratou para projetar sua residência.
Solomon Guggenheim em NY, de Frank Lloyd Wright: Para Rand, o mais racional de todos
Já a ala racionalista buscava um estilo internacionalmente replicável, o chamado International Style, seguindo a linha básica de Le Corbusier e levada adiante por expoentes como Mies van der Rohe (nascido apenas Ludwig Mies - ninguém parece usar seu nome original neste post), que Ayn Rand critica como sendo caixas monótonas, relacionando-a como ainda com uma arquitetura comunista, um dos seus maiores oponentes, já que seu caráter de standard se opõe ao conceito de projeto pessoal e 'sob medida'.
Em "A Nascente" os herois apresentados por Rand são sempre e somente aqueles que defendem uma arquitetura "racional" (da corrente modernista-organicista), e os vilões são aqueles que buscam uma arquitetura que apenas agrada as massas, normalmente caracterizado na estória como edifícios ornamentados com reinterpretações baratas de arquitetura clássica, exemplificada através dos arquitetos influenciadas pela École de Beaux-Arts.
Rejeitada tanto pelos modernistas organicistas quanto racionalistas, esta corrente 'neoclássica' provavelmente ainda é a que mais faz sucesso entre um público leigo. Assim, Rand não percebe que uma questão de gosto não representa uma visão superior e absoluta da estética e da moral, e acaba sendo elitista e anti-capitalista (ela normalmente é descrita como uma capitalista radical) fazendo com que aqueles que mais estão atendendo os desejos da população e tendo maior lucro (arquitetos como Peter Keating em "A Nascente") sejam considerados ruins e não virtuosos.
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Parte I: Rational Food
Parte III: Multiple Rationalities
Part II: Ayn Rand
"The Fountainhead" spoilers
Ayn Rand (born Alisa Zinov'yevna Rosenbaum) the best-selling russian american novelist that is making an international comeback after the 2008 economic crisis and the growing disbelief in government-driven solutions. Even though I agree with some of her views on the political and economic sphere, I think she was way off with her books "The Romantic Manifesto" and "The Fountainhead", where she tries to argue for a 'rational' art and architecture.
Rand said that the only rational moral ideal is Objectivism, a philosophy she created herself that drives on valuing the individual and his achivements. Fot her, art is the indispensable medium of a moral ideal: that is arts' "function". So the only moral art (and consequentially the only rational art) is Romantic art, which seeks the representation of the ideal man, as she tries in her novels. An example of this stand is her taste for "Charlies Angels", as the story
was about beautiful women doing extraordinary things. As architecture, the best example described by Rand is the Stoddard temple, designed by Howard Roark for the praise of man:
"It was scaled to human height in such a manner that it didn't dwarf man, but stood as a setting that made his figure the only absolute, the gauge of perfection by which all dimensions were to be judged. When a man entered this temple, he would feel space molded around him, for him, as if it had waited for his entrance, to be completed...It was a place where one would come to feel sinless and strong, to find the peace of spirit never granted save by one's glory. "
In this sense Rand also considered a good architectural design impossible to be concieved by more than one person: the architect is the master-creator which would draw all of the details and would't ask for anybody's opinion. This is obviously impractical not just because a project is always the result of teamwork with inumerous hired materials, projects and consultancies, and even the architect-client relationship as a team.
Through Howard Roark, the hero and her "portrayal of the ideal man" in "The Fountainhead", we can also identify the author's opinion where she considers irrational to identify any kind of beauty in natural landscapes, as it is a landscape without man's intervetion.
Now back to the description of modern architecture of the first part. The movement is divided by many architectural critics and historians in two sides: the rational and the organic. It is surprising to learn that Rand's taste fit into the organic side, which reached for an integration of the building with the landscape and a certain emulation of the natural environment. So did Frank Lloyd Wright, her favourite architect and who's works were a reference for Roarks' projects described in the book, and Richard Neutra, a famous architect she hired to design her house.
Now the rational side looked for a internationally replicable style, obviously called the International Style, following Le Corbusier's basic lines and followed by exponents as Mies Van der Rohe (born Ludwig Mies - nobody seems to use their original names in this post), which Ayn Rand criticizes as dull boxes and even relating it to communism, one of her largest oponents, as it's standardization opposes to an individualist tailored design.
In "The Fountainhead", Rand's heroes are always those (an only those) who defend a "rational" architecture in her terms (modern-organic) and the villains are those who reach for an architecture that only pleases the masses, usually pictured in the story as buildings ornamented with cheap reinterpretations of classical architecture, exemplified with the Beaux-Arts influenced architects.
Rejected by both organic and rational modernists, this "neoclassical" shcool is probably the one that is most successful in a crowd of laymen. Being so, Rand does not realize that a matter of taste does not represent a superior and absolut view of morality and aesthetics, and ands up being elitist and anti-capitalist (she is normally described as a radical for capitalism) turning those who are attending most peoples desires and profiting the most out of it (architects as Peter Keating in "The Fountainhead") are considered as evil and
unvirtuous.
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