28.5.12

Um "Balanço Trabalho/Vida/Trabalho" Otimista / An optimistic "Work/Life/Work Balance"

Este artigo foi escrito para a ArchDaily em resposta à este texto do arquiteto Andrew Maynard sobre a situação da profissão do arquiteto. Leia abaixo o texto, na íntegra, em português.

Ao ler a crítica de Andrew Maynard sobre as condições de trabalho de arquitetos, pude compartilhar de seu sentimento e indignação contra o sistema de gestão de cima para baixo usado por muitas firmas corporativas de arquitetura e o ambiente pobre em que muitos arquitetos trabalham. Eu não podia concordar mais que a arquitetura não é algo romântico como alguns a vêem, e que as pessoas que decidem abraçar o campo deveriam saber disso. Ele também está correto ao dizer que somente uma pequena porcentagem do tempo é gasta em trabalho criativo e que não é uma profissão das mais bem remuneradas, mas penso que a maioria das pessoas que decide entrar na profissão já sabe desse último detalhe. Embora suas idéias sejam inspiradoras e eu até tenha concordado com parte do da sua solução para o problema, eu penso que sua lógica está errada.

Capacete de brinquedo mostrado pelo Joshua Prince-Ramus
na sua palestra do TED: "Podemos culpar somente a nós mesmos"
Andrew diz que os empregadores são culpados pela má situação que muitos arquitetos empregados encontram todos os dias. Ele diz que gerentes exploram e remuneram mal seus trabalhadores e, no fim, diz para que saiamos de nossos escritórios e aceitemos o risco ou que abandonemos a profissão. Eu não culpo os patrões: oras, o próprio Andrew virou um no momento em que ele começou sua própria prática. Pelo contrário, pessoas como Andrew, vendo que as empresas em que trabalham possuem uma má gestão, e então saindo delas e abrindo novos e inovadores escritórios, são aqueles que fazem a profissão se tornar mais valiosa para a sociedade. Eles são os que, de fato, atraem melhores empregados, proporcionam um produto superior e atraem mais clientes.

Devemos superar esses sentimentos arcaicos de exploração. Nossos chefes estão nos dizendo o que fazer porque eles são os que estão pondo seu dinheiro em risco – ao passo que nós possuímos salários garantidos. Mas se eles não possuem nenhuma competição, o risco que eles encontram é muito menor e a forma que eles tratam seus empregados é muito pior. Mas nós possuímos a liberdade de sair da empresa e criarmos a competição na hora que bem quisermos, exatamente como Andrew diz e recomenda. Não somos escravos de ninguém e, se estamos infelizes com nosso trabalho, devemos ter coragem de abraçar a liberdade e o risco. Nós somos os únicos culpados quando temos medo de fazê-lo. Chega de espalhar medo sobre ir à falência a qualquer momento e a noção de que isso “ameaça a relevância da profissão no longo prazo”. Abrir um escritório novo e melhor é exatamente o espírito empreendedor que faz com que um mercado competidor acabe com as corporações obsoletas.

As coisas estão erradas da forma que são hoje em dia: a criatividade é esmagada com rigorosas jornadas de trabalho e os arquitetos são mal pagos. E certamente a grande discrepância entre a existência de vários pequenos negócios e poucas grandes firmas comerciais é um mau sinal e é uma situação insustentável. Mas não podemos reclamar se não fizermos nada a respeito, podemos? Exigir melhores condições de trabalho e melhores salários nas más empresas através de maior regulamentação, como sugerido por Andrew, somente vai fazer com que a má arquitetura se torne mais cara, o que vai piorar ainda mais o pensamento que a sociedade tem sobre arquitetos. Eu sugiro uma solução mais proativa, otimista e livre de sofrimento. Ao invés de fugirmos (a segunda sugestão de Andrew), vamos abrir nossos próprios escritórios planejando-os como um negócio de forma que não os deixemos falir (sua primeira opção com uma alteração). O próprio Andrew percebe que o modelo de empresas pequenas não é adequado para o mercado como um todo – então por que não crescemos e abandonamos a liga mirim nós mesmos? O objetivo é acabar com os exploradores manipulativos ao mostrar para a sociedade que existe uma maneira melhor de fazer as coisas, não forçando-a a pagar mais em algo que está apodrecido em sua essência. Para mim isso significa uma radical, mas importante, mudança de mentalidade naqueles apaixonados pela arquitetura: repensar a arquitetura mais como um serviço do que como uma forma de arte e o design como o resultado de um trabalho de equipe ao invés de um show solo.



Se você não da bola para o que eu falo, então escute Josuha Prince-Ramus. Ele é o homem por de trás do REX e o fundador da OMA New York junto de REM Koolhaas. Ele é franco ao dizer que os arquitetos devem deixar de ser covardes, começarem a enfrentar os riscos, tomarem mais responsabilidades e controlarem o processo de execução: coisas que nossa profissão possuía no passado, mas que gradualmente sumiram. Ele diz que devemos respeitar as posições do cliente antes da manifestação arquitetônica e sabermos como nossas decisões influenciam nos custos. Esses pontos vêm de pensar na arquitetura primeiramente como um negócio e depois como um estúdio onde se faz arte, e todos eles são necessários para um escritório saudável e inovador do século 21 em qualquer área – por que na arquitetura isso deveria ser diferente? Em entrevistas, ele também diz que temos que ouvir e valorizar mentes novas e criativas tanto quanto mentes experientes, e que qualquer projeto deve ser reconhecido como parte de um esforço em equipe, sem egoísmos individuais. Na realidade, eu diria que o primeiro passo para a auto realização na profissão de arquiteto é reconhecer que não existe um criador totalmente original no mundo, percebendo que estamos constantemente “roubando” idéias uns dos outros de exibições, viagens, revistas ou até mesmo da ArchDaily. Reconhecer que uma construção é o resultado do trabalho de várias pessoas, de arquitetos à obreiros, à engenheiros, até mesmo fornecedores de material e do próprio cliente. Essa autoconsciência alivia o sentimento de exploração e abre o caminho para o verdadeiro trabalho de equipe e um escritório de arquitetura realmente profissionalizado.

Portanto, dizer para as pessoas abandonarem a prática ou se sujeitarem à ainda menos responsabilidades é somente evitar o problema que a arquitetura encontra atualmente, reconhecendo que não fomos quem criamos e que não somos capazes de fazê-lo no futuro: uma abordagem sombria e pessimista. Sim nós desejamos tempo livre, mas nós também queremos auto-realização e reconhecimento profissional, o que não é diferente de fazer aquilo que amamos, sabendo que esses desejos são comumente compartilhados e que a sociedade valoriza o nosso trabalho. É um sentimento humano que não deve ser evitado ou esquecido. O que estou sugerindo é uma melhoria nas regras corporativas de nossas próprias práticas e a transformação da arte de construir em algo que as pessoas têm o desejo de pagar para terem: isso deveria ser a arquitetura comercial.

Vamos criar competição para essas corporações obsoletas através de novas e criativas políticas empresariais, exatamente como Andrew fez. Não é uma tarefa impossível e nós devemos pensar ambiciosamente: é só lembrar que todos os escritórios comerciais grandes de hoje em dia foram, no passado, um pequeno negócio que começou com punhado de arquitetos. E não se assuste, nós não temos que nos tornar tão grandes quanto os escritórios corporativos de hoje em dia: se vários escritórios profissionais de médio porte aparecessem com essas novas mentalidades, o mercado inteiro da arquitetura mudaria, e as perspectivas seriam ainda melhores para a nova geração de arquitetos empreendedores. Se Andrew decidisse aumentar seu escritório um pouquinho mais (talvez através da contratação de consultores empresariais, quem sabe?) eu apostaria que o escritório corporativo em que ele costumava trabalhar não teria chance nenhuma contra ele.

Tradução para o português por Thiago Alminhana

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By reading Andrew Maynard’s critique on today’s architectural workplace I could share his feelings and his rage towards the top-down management system run by many corporate architecture firms and the poor environment most architects work in. I couldn’t agree more that architecture is not as romantic as one sees it, and people who decide to embrace the field should know that. He is also right on saying that a small percentage of time is spent on creative work and that architecture isn’t the highest paying profession, but I think most people who decide to enter the business already know about this last one. Although his ideas are inspiring and I even agreed with part of his solution to the problem, I think his logic is wrong.

Andrew holds architectural employers guilty for the ugly situation many architectural employees face every day. He says managers exploit and badly compensate their workers, and in the end tells us to leave our offices and take the risks or quit the profession. I don’t blame employers: heck, Andrew himself became one from the moment he started his own practice. By the contrary, people just like Andrew, seeing that the companies they work at have bad management, quitting their jobs and opening new, innovative offices are the ones who make the profession more valuable to society. They are the ones that, in fact, attract better employees, deliver better products and attract more clients.

We have to overcome these archaic feelings of exploitation. Our employers are telling us what to do because they’re the ones risking their money - we have guaranteed paychecks. But if they don’t have any competition, the risk they face is much smaller and the way they treat their employees is far more worse. But we have the freedom to leave the office and create the competition at any time, just as Andrew did and recommends. We’re slaves of nobody, and if we’re unhappy with our jobs we have to have the guts to embrace freedom and risk. We are the only ones to blame when we are afraid to do so. Enough with fear-mongering on going broke at anytime and the notion that this “threatens the long-term relevance of the profession”. Opening a new and better office is exactly the spirit of entrepreneurship that makes a competitive market put the obsolete corporations out of business.

Things are wrong the way they right now: creativity is smashed with rigorous working hours and architects are badly payed. And certainly the huge gap between having several small trades and a few large commercial offices is a bad sign and unsustainable. But we can’t complain if we don’t do anything about it, can we? Demanding better working conditions and higher salaries by regulatory action in bad corporations such as suggested by Andrew will only make bad architecture more expensive, which will even worsen the idea society has upon architects. I suggest a more pro-active, optimist and suffering-free solution to this problem. Instead of running away (his option #2), let’s open our offices planning it just as it was a business so we don’t go broke (his option #1 with a twist). Andrew himself realizes that the small practice model is not suitable for the market as a whole – so why don’t we grow up and quit the little league ourselves? The goal is to shut down the manipulative exploiters by showing society that there is a better way of doing things, not by forcing it to pay more on something that is rotten at its core. To me this means a radical but important change of mindset for those passionate about architecture: rethinking architecture more as a service instead of a work of art and a design as a team-result instead of a one-man’s show.

If you don’t care about me then listen to Joshua Prince-Ramus, he’s the man behind REX and the guy who founded OMA New York with Rem Koolhaas. He bluntly says architects have to stop being cowards, start facing liability, taking more responsibilities and controlling the execution process: things our trade held in the past but gradually faded away. He says we have to respect the positions of the client before the architectural manifestation and know how our decisions influence costs. These issues are all related to thinking the practice first as a professional business and then as an artistic workshop, and all of them are requirements for any healthy, innovative 21st century office in any field – why should architecture be any different? In interviews, he also points out that we have listen and value young creative minds as much as the experienced old minds, and that any project must be recognized as a team effort, with no selfish credit. As a matter of fact, I’d say that the first step for self-fulfillment while working as an architect is recognizing that there is no single-handed creator in the world, noticing we’re constantly “stealing” each others’ ideas from travelling, exhibitions, magazines or even ArchDaily. That a building is the work of many different people, from architects to site workers to engineers to pre-fab providers to the client himself. This self-awareness relieves the feeling of exploitation and opens up the path to real teamwork and a professional architectural office.

So telling people to quit and to take even less responsibilities is just avoiding the problem architecture faces today, acknowledging that we didn’t make it and that we’re not capable of doing it in the future: a bleak, pessimistic approach. Yes we want free time, but we also want self-fulfillment and professional recognition, which is nothing different from doing what we love, knowing these desires are commonly shared and that society values our work. It’s a humane feeling, not to be avoided or forgotten. What I’m suggesting is tweaking current corporate rules in our own practices and turning the art of building into something people deliberately pay for: that should be commercial architecture.

Lets’ create new competition for these obsolete corporate thugs out there with new and creative company policies, just like Andrew did. It’s not an impossible task, and we have to think big: just remember that every single large commercial office today was once a small practice, starting out with a handful of architects. And don’t be afraid, we don’t have to become as big as the large corporate offices today: if many new medium-sized professional offices appeared with these new mindsets, the whole architectural market would change, and prospects would seem even closer to the next generation of architectural entrepreneurs. If Andrew himself decided to grow his office just a bit more (maybe hiring business consultants to help him out, who knows?) I’d bet the corporate office he used to work at wouldn’t stand a chance against him.

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