2.1.13

Urbanismo carioca

Minha primeira leitura de 2013 é "Evolução Urbana do Rio de Janeiro", do geógrafo Mauricio de Almeida Abreu. Ao longo da leitura estou fazendo algumas pesquisas na internet sobre a cidade que, cada vez mais, mostra curiosidades e fatos incríveis. Eis alguns deles:

Copacabana: 50 mil hab/km² com IA de apenas 4?
1 - Copacabana é provavelmente o bairro "formal" mais denso do país, com incríveis 49233 hab/km² (para efeito comparativo, Manhattan tem 26939 hab/km²). Observando pelo Google Street View nota-se que os edifícios seguem uma média de 10 andares de altura, sem recuos laterais ou frontais - que de forma alguma parecem deixar o ambiente inóspito e pouco iluminado. O que eu ainda não entendi é como que isto é atingido com um coeficiente de aproveitamento de apenas 4 (área construída de 4x a área do terreno), conforme diz o Anexo VIII do Plano Diretor (um valor que aparentemente vem desde o plano de 1976).

2 - As favelas estão longe de serem desorganizadas ou alheias às informações da cidade. Na rede destaca-se os portais Rocinha.orgCUFA.org.br e AfroReggae.org. Nada diferente do que eu presenciei quando visitei a favela do Cantagalo.

3 - O Rio tem a maior favela do Brasil (Rocinha) e é a cidade com o maior número de moradores de favelas no país: 1.393.314. Não é, entretanto, a capital que tem o maior número de favelas (São Paulo possui 33% das favelas do Brasil, mas menores que as cariocas) nem a que tem a maior proporção entre moradores em lotes informais e formais (Belém tem 54,5% da sua população vivendo em favelas).

4 - Injustiças enormes com as remoções das favelas no Rio de Janeiro, justificadas principalmente pelas obras da Copa e das Olimpíadas. No entanto, treze mil famílias de Rocinha e Vidigal receberão títulos de posse de seus imóveis, que em um período de 5 anos se transformação efetivamente em propriedade. É pouco, mas é um início.

5 - Concessões de obras e monopólios de transportes à empresas nacionais e estrangeiras foram marcantes na história do Rio, assim como na urbanização de maioria das grandes metrópoles brasileiras. A Light and Power Tramway Company (geração e distribuição de energia, gás e bondes), ou simplesmente "Light" teve presença tanto no Rio como em São Paulo. A concessão do esgoto carioca pela Rio de Janeiro City Improvements Company Limited (não ser confundida com a "City" paulistana, voltada para urbanização de bairros e fundada 47 anos depois), é outro exemplo, e recebia constantes críticas na sua gestão. A Companhia do Jardim Botânico, a primeira a receber a concessão dos bondes, dividia as linhas com a Rio Light. Sua atuação foi significativa na urbanização da Zona Sul do Rio, mas foi eventualmente comprada pela Rio Light em 1910.


7 - Já comentado em uma postagem anterior, o investimento imobiliário privado da "maior PPP do Brasil" no projeto Porto Maravilha na verdade é um marketing falso. O único investidor é o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), dinheiro obrigatoriamente depositado por trabalhadores em um banco público. No site do FGTS está escrito que "Além de favorecer os trabalhadores, o FGTS financia programas de habitação popular, saneamento básico e infraestrutura urbana, que beneficiam a sociedade, em geral, principalmente a de menor renda.". Não faço ideia de como as cinco "Trump Towers" se caracterizam como função do FGTS. Famílias estão sendo removidas à força e construções históricas derrubadas para o megaprojeto estatal, com baixa transparência.

8 - Diferente de São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, que possuem valores únicos para as passagens de ônibus para toda a cidade, independentemente da empresa, rota ou qualidade do ônibus, este valor varia nos ônibus cariocas. Este sistema, no entanto, está terminando este ano para a implementação do Bilhete Único carioca. No entanto, está longe de ser um mercado livre de transporte coletivo, já que ele é defendido pelo Fetranspor, uma congregação de sindicatos de empresas de transporte. Segundo o blog "Cidades Possíveis", "As empresas de ônibus representadas pela Fetranspor financiam as campanhas eleitorais e ditam a política pública no setor".

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