Como arquiteto e urbanista, estive imerso na tarefa de projetar comunidades por quase 40 anos. Esses projetos foram baseados nos princípios do Novo Urbanismo. Essa estratégia já bem estabelecida se foca em criar bairros bons e práticos de se caminhar, junto de espaços públicos vivos e prédios de uso misto, enquanto apoia políticas nacionais para fazer essas vibrantes comunidades urbanas parte do cotidiano das pessoas.
Na outra ponta do espectro tem-se o Urbanismo Tático, um movimento emergente que busca criar mudança através de intervenções improvisadas no espaço público, como, por exemplo, os parques pop-up. O trabalho aqui normalmente foca o curto prazo.
Entre esses dois existe outro modelo, o "Urbanismo Enxuto", que se concentra em revitalizar as cidades através da busca de mecanismos que possibilitem a participação das pessoas na construção da comunidade - especificamente através da possibilidade que qualquer um possa efetivamente fazer parte da mudança. O apoio da Knight Foundation ao Projeto de Urbanismo Enxuto nos ajudará a criar ferramentas e técnicas ao longo dos próximos três anos para facilitar a participação das pessoas na formação de suas comunidades.
Detroit, uma das comunidades onde a Knight Foundation investe, serve bem de exemplo. Devido à dificuldade orçamentária que passa a cidade, a burocracia tem diminuído. Existem, na verdade, duas Detroits. Há, é claro, propriedades abandonadas, mas também existem pessoas fazendo com que essas propriedades se transformem em algo útil.
Mas como a revitalização está acontecendo? Da maneira antiga, aparentemente, através daquela mesma sequencia que sempre alimentou o ciclo das cidades: surgem a atividade não sancionada de artistas com um bom olho, os jovens sem dinheiro e com um espírito de aventura e os pequenos empreendedores que costumavam ser chamados de boêmios. Esses foram os pioneiros de Greenwich Village na década de 1920, Miami Beach nos anos 80 e do Brooklyn agora. Eles são a primeira onda de uma sequencia que obtém sucesso por debaixo do controle burocrático. Podemos classifica-los como alheios ao risco. Em seguida, quando o bairro já está desenvolvido, chegam os cientes do risco. Esses são os construtores e donos de negócios que asseguram os alvarás, hipotecas e garantias necessárias aos seus objetivos. E por fim, quando se torna óbvio que o lugar é seguro para se investir, chegam os aversos ao risco – os gentrificadores chamados de “dentistas de New Jersey”.
Detroit é agora um lugar onde jovens da geração Y, alheios ao risco, podem fazer as coisas acontecerem. Fazer isso é muito difícil na maioria dos lugares por causa das regulamentações e burocracias que, por exemplo, tornam impossível assar um biscoito e vende-lo sem uma cozinha certificada pelo órgão responsável, um banheiro acessível e constantes inspeções governamentais. A burocracia exterminou a maneira livre e despreocupada que permitiu que os boêmios habitassem um lugar de forma orgânica. Nós de mais idade não percebemos o problema porque muitos de nós cresceram em meio a um grande aumento nas regulamentações. Jovens, contudo, ficam confusos e são repelidos por esse sistema.
Em Detroit, funcionários do município não podem nem mais supervisionar luzes das ruas, muito menos atividades econômicas lucrativas. Há menos burocracia. Então os jovens estão imigrando em massa para começarem seus negócios, repararem os edifícios, viverem com um custo acessível, organizarem sua própria segurança e inventarem suas diversões. O Projeto para Urbanismo Enxuto está procurando formas de permitir que esse tipo de atividade se desenvolva também em outros lugares.
Na maioria das cidades, devido ao fato das regulamentações terem acabado com a primeira fase orgânica da revitalização, a segunda onda, a dos construtores e desenvolvedores, precisa ser atraída de alguma forma – e para tal os governos subsidiam seus projetos caros e dependentes de uma burocracia favorável. Esse é motivo pela qual as parcerias público-privadas cresceram ao longo dos últimos 20 anos e os grandes empresários obtiveram diversos privilégios em detrimento dos pequenos empreendedores. Mas isso não precisa ser assim.
Detroit tem restaurado a sequência orgânica. Os desenvolvedores estão seguindo os jovens. Grandes desenvolvedores como Dan Gilbert estão renovando grandes prédios e alugando-os para potenciais inquilinos, mostrando-lhes que a mão de obra que necessitam já se encontra no lugar. O Projeto para Urbanismo Enxuto pretende restaurar esse processo.
Por existirem menos impedimentos, Detroit – uma cidade sem riquezas – permite que seus imigrantes construam riquezas. Quando o inspetor de uma construção diz “vão em frente, crianças; só cuidem para não se machucar”, temos uma situação similar a que encontramos na minha época de Baby Boomer, quando éramos jovens em lugares como South Beach e Seaside, Flórida, e criamos, em 1980, a primeira cidade baseada nos princípios do Novo Urbanismo. Nós éramos autorizados a criar e fazer as coisas acontecerem. Se os impedimentos burocráticos de hoje existissem naquela época, nós acabaríamos nos entregando a eles, pois nós também éramos ingênuos.
Detroit é um fragmento do mundo virgem do século XIX e um modelo para o trabalho que estamos fazendo. Ela representa uma mina de ouro para os jovens, os imigrantes, os criadores, os proprietários de pequenos negócios – pessoas que têm energia para trabalhar para elas mesmas e que se tornam rebeldes quando confrontadas com uma falta de bom senso institucionalizada.
Usaremos convenções e estudos de caso, como o que está acontecendo em Detroit, para elaborar ferramentas e então testá-las em projetos piloto. O apoio da Knight Foundation vai nos permitir compartilhar livremente o conhecimento que adquirirmos desses experimentos.
Entre esses dois existe outro modelo, o "Urbanismo Enxuto", que se concentra em revitalizar as cidades através da busca de mecanismos que possibilitem a participação das pessoas na construção da comunidade - especificamente através da possibilidade que qualquer um possa efetivamente fazer parte da mudança. O apoio da Knight Foundation ao Projeto de Urbanismo Enxuto nos ajudará a criar ferramentas e técnicas ao longo dos próximos três anos para facilitar a participação das pessoas na formação de suas comunidades.
Detroit, uma das comunidades onde a Knight Foundation investe, serve bem de exemplo. Devido à dificuldade orçamentária que passa a cidade, a burocracia tem diminuído. Existem, na verdade, duas Detroits. Há, é claro, propriedades abandonadas, mas também existem pessoas fazendo com que essas propriedades se transformem em algo útil.
Mas como a revitalização está acontecendo? Da maneira antiga, aparentemente, através daquela mesma sequencia que sempre alimentou o ciclo das cidades: surgem a atividade não sancionada de artistas com um bom olho, os jovens sem dinheiro e com um espírito de aventura e os pequenos empreendedores que costumavam ser chamados de boêmios. Esses foram os pioneiros de Greenwich Village na década de 1920, Miami Beach nos anos 80 e do Brooklyn agora. Eles são a primeira onda de uma sequencia que obtém sucesso por debaixo do controle burocrático. Podemos classifica-los como alheios ao risco. Em seguida, quando o bairro já está desenvolvido, chegam os cientes do risco. Esses são os construtores e donos de negócios que asseguram os alvarás, hipotecas e garantias necessárias aos seus objetivos. E por fim, quando se torna óbvio que o lugar é seguro para se investir, chegam os aversos ao risco – os gentrificadores chamados de “dentistas de New Jersey”.
Detroit é agora um lugar onde jovens da geração Y, alheios ao risco, podem fazer as coisas acontecerem. Fazer isso é muito difícil na maioria dos lugares por causa das regulamentações e burocracias que, por exemplo, tornam impossível assar um biscoito e vende-lo sem uma cozinha certificada pelo órgão responsável, um banheiro acessível e constantes inspeções governamentais. A burocracia exterminou a maneira livre e despreocupada que permitiu que os boêmios habitassem um lugar de forma orgânica. Nós de mais idade não percebemos o problema porque muitos de nós cresceram em meio a um grande aumento nas regulamentações. Jovens, contudo, ficam confusos e são repelidos por esse sistema.
Em Detroit, funcionários do município não podem nem mais supervisionar luzes das ruas, muito menos atividades econômicas lucrativas. Há menos burocracia. Então os jovens estão imigrando em massa para começarem seus negócios, repararem os edifícios, viverem com um custo acessível, organizarem sua própria segurança e inventarem suas diversões. O Projeto para Urbanismo Enxuto está procurando formas de permitir que esse tipo de atividade se desenvolva também em outros lugares.
Na maioria das cidades, devido ao fato das regulamentações terem acabado com a primeira fase orgânica da revitalização, a segunda onda, a dos construtores e desenvolvedores, precisa ser atraída de alguma forma – e para tal os governos subsidiam seus projetos caros e dependentes de uma burocracia favorável. Esse é motivo pela qual as parcerias público-privadas cresceram ao longo dos últimos 20 anos e os grandes empresários obtiveram diversos privilégios em detrimento dos pequenos empreendedores. Mas isso não precisa ser assim.
Detroit tem restaurado a sequência orgânica. Os desenvolvedores estão seguindo os jovens. Grandes desenvolvedores como Dan Gilbert estão renovando grandes prédios e alugando-os para potenciais inquilinos, mostrando-lhes que a mão de obra que necessitam já se encontra no lugar. O Projeto para Urbanismo Enxuto pretende restaurar esse processo.
Por existirem menos impedimentos, Detroit – uma cidade sem riquezas – permite que seus imigrantes construam riquezas. Quando o inspetor de uma construção diz “vão em frente, crianças; só cuidem para não se machucar”, temos uma situação similar a que encontramos na minha época de Baby Boomer, quando éramos jovens em lugares como South Beach e Seaside, Flórida, e criamos, em 1980, a primeira cidade baseada nos princípios do Novo Urbanismo. Nós éramos autorizados a criar e fazer as coisas acontecerem. Se os impedimentos burocráticos de hoje existissem naquela época, nós acabaríamos nos entregando a eles, pois nós também éramos ingênuos.
Detroit é um fragmento do mundo virgem do século XIX e um modelo para o trabalho que estamos fazendo. Ela representa uma mina de ouro para os jovens, os imigrantes, os criadores, os proprietários de pequenos negócios – pessoas que têm energia para trabalhar para elas mesmas e que se tornam rebeldes quando confrontadas com uma falta de bom senso institucionalizada.
Usaremos convenções e estudos de caso, como o que está acontecendo em Detroit, para elaborar ferramentas e então testá-las em projetos piloto. O apoio da Knight Foundation vai nos permitir compartilhar livremente o conhecimento que adquirirmos desses experimentos.
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