Uma das fontes de informação sobre urbanismo mais subvalorizadas da internet (depois deste blog, é claro!) são os vídeos do Urban View. O Urban View é um dos canais da Urban Systems, uma empresa de consultoria em urbanismo, participando em grandes projetos como a Granja Marileusa.
Recentemente assisti a entrevista com o Jorge Hori, consultor e autor do blog Inteligência Estratégica. Achei interessante pois ele se mostrou alinhado com algumas ideias já apresentadas neste blog e propôs ideias adicionais, principalmente referindo-se aos projetos atuais e ao crescimento de São Paulo. Segue algumas da suas palavras:
"Nunca se planejou tanto em São Paulo ou em qualquer outra cidade. O que não falta são planos... Se não é por falta de planejamento, é por causa do planejamento. O que tá errado no planejamento? O que tá errado no planejamento é que ele é feito com base em sonhos, não numa percepção de qual vai ser a reação da sociedade e dos agentes econômicos em relação ao plano. E, pra realizar os sonhos, os planejadores e autoridades querem interferir no processo. Só que estamos num regime democrático, de livre iniciativa, e não num regime soviético onde o poder público dita o que o privado tem que fazer. Então o que acontece: o privado não quer ser regulado. O privado não quer o controle. Então onde tem controle, onde tem regulação, ele foge."Ao ser perguntado se "a regulação urbana passa a ser ou não ser uma forma eficiente de conter essa expansão desordenada da cidade?", ele responde categoricamente: "Não."
"Se você levar uma linha de metrô pra periferia, onde estão os moradores, a empresa não vai junto. A empresa fica porque acha que o morador tem mais facilidade de chegar ao seu trabalho através do metrô. A extensão periférica do metrô é uma forma de deixar os moradores cada vez mais distantes."
"Estacionamento de graça é gerador de carro. Se tiver estacionamento na via pública e não tiver que pagar nada a pessoa vai de carro. Se não tiver estacionamento e for um estacionamento caro ele não vai de carro... Tem gente que vai trabalhar na Berrini e chega às seis da manhã e fica duas horas no carro pra poder entrar às oito. Porque se não chegar às seis não tem vaga nas ruas próximas... Nos EUA estacionamento pago é usado como política urbana em substituição ao pedágio. Se você tiver estacionamento caro não precisa ter pedágio."
"A política urbana de São Paulo é uma política para reduzir o tamanho de São Paulo. Por exemplo: o mercado imobiliário está se desenvolvimento mais em Santo André na divisa com São Paulo do que em São Paulo. Porque Santo André tem condições menos regulações e menos exigências do que em São Paulo. O Centro de São Paulo esvaziou, agora teve uma recuperação, mas não vai sustentar."
"Táxi é o principal instrumento do turismo de negócios. A hora que a Prefeitura decide restringir o uso do táxi, está matando o turismo em São Paulo... Isso faz com que a alternativa seja ir para outros locais. São Paulo tem que considerar hoje que o Rio de Janeiro voltou para ser um grande concorrente."Fiquei um pouco cético à ideia que ele propõe de intermodalidade, incentivando o transporte coletivo nos eixos e a viagem de carro até o eixo. Os estacionamentos ao longo desses eixos teriam que ser enormes: justamente o problema prático apontado pelo entrevistador. A baldeação entre a vaga da garagem, o pagamento dessa vaga e o embarque no transporte ao longo dos eixos também seria demorada demais, prejudicando o trajeto. O que o usuário do carro quer é justamente evitar a baldeação: justamente o motivo pelo qual ele comprou o carro. Além disso, o usuário do carro não estaria aproveitando bem os custos fixos do carro (depreciação, seguro, garagem, etc.), deixando-o parado grande parte do trajeto. Este blog normalmente defende a permissão de transportes coletivos alternativos que oferecem viagens ponto a ponto, leia aqui, aqui, aqui e aqui.
A entrevista na íntegra pode ser vista aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário