12.5.14

Jorge Hori no Urban View

Uma das fontes de informação sobre urbanismo mais subvalorizadas da internet (depois deste blog, é claro!) são os vídeos do Urban View. O Urban View é um dos canais da Urban Systems, uma empresa de consultoria em urbanismo, participando em grandes projetos como a Granja Marileusa.


Os vídeos estão disponíveis no canal deles do YouTube, onde fazem entrevistas com nomes interessantes do urbanismo brasileiro. As entrevistas fogem um pouco do viés puramente acadêmico que se aprende nas universidades, conversando não só com professores mas com pessoas que efetivamente trabalham na elaboração de Planos Diretores, empreendedores imobiliários, consultores em urbanismo e representantes de classe. Infelizmente os vídeos raramente ultrapassam 100 visualizações no YouTube o que, ao meu entender, mostra falta de interesse na busca de informações mais práticas e mais aprofundadas sobre nossas cidades.

Recentemente assisti a entrevista com o Jorge Hori, consultor e autor do blog Inteligência Estratégica. Achei interessante pois ele se mostrou alinhado com algumas ideias já apresentadas neste blog e propôs ideias adicionais, principalmente referindo-se aos projetos atuais e ao crescimento de São Paulo. Segue algumas da suas palavras:
"Nunca se planejou tanto em São Paulo ou em qualquer outra cidade. O que não falta são planos... Se não é por falta de planejamento, é por causa do planejamento. O que tá errado no planejamento? O que tá errado no planejamento é que ele é feito com base em sonhos, não numa percepção de qual vai ser a reação da sociedade e dos agentes econômicos em relação ao plano. E, pra realizar os sonhos, os planejadores e autoridades querem interferir no processo. Só que estamos num regime democrático, de livre iniciativa, e não num regime soviético onde o poder público dita o que o privado tem que fazer. Então o que acontece: o privado não quer ser regulado. O privado não quer o controle. Então onde tem controle, onde tem regulação, ele foge."
Ao ser perguntado se "a regulação urbana passa a ser ou não ser uma forma eficiente de conter essa expansão desordenada da cidade?", ele responde categoricamente: "Não."
"Se você levar uma linha de metrô pra periferia, onde estão os moradores, a empresa não vai junto. A empresa fica porque acha que o morador tem mais facilidade de chegar ao seu trabalho através do metrô. A extensão periférica do metrô é uma forma de deixar os moradores cada vez mais distantes." 
"Estacionamento de graça é gerador de carro. Se tiver estacionamento na via pública e não tiver que pagar nada a pessoa vai de carro. Se não tiver estacionamento e for um estacionamento caro ele não vai de carro... Tem gente que vai trabalhar na Berrini e chega às seis da manhã e fica duas horas no carro pra poder entrar às oito. Porque se não chegar às seis não tem vaga nas ruas próximas... Nos EUA estacionamento pago é usado como política urbana em substituição ao pedágio. Se você tiver estacionamento caro não precisa ter pedágio."
"A política urbana de São Paulo é uma política para reduzir o tamanho de São Paulo. Por exemplo: o mercado imobiliário está se desenvolvimento mais em Santo André na divisa com São Paulo do que em São Paulo. Porque Santo André tem condições menos regulações e menos exigências do que em São Paulo. O Centro de São Paulo esvaziou, agora teve uma recuperação, mas não vai sustentar." 
"Táxi é o principal instrumento do turismo de negócios. A hora que a Prefeitura decide restringir o uso do táxi, está matando o turismo em São Paulo... Isso faz com que a alternativa seja ir para outros locais. São Paulo tem que considerar hoje que o Rio de Janeiro voltou para ser um grande concorrente."
Fiquei um pouco cético à ideia que ele propõe de intermodalidade, incentivando o transporte coletivo nos eixos e a viagem de carro até o eixo. Os estacionamentos ao longo desses eixos teriam que ser enormes: justamente o problema prático apontado pelo entrevistador. A baldeação entre a vaga da garagem, o pagamento dessa vaga e o embarque no transporte ao longo dos eixos também seria demorada demais, prejudicando o trajeto. O que o usuário do carro quer é justamente evitar a baldeação: justamente o motivo pelo qual ele comprou o carro. Além disso, o usuário do carro não estaria aproveitando bem os custos fixos do carro (depreciação, seguro, garagem, etc.), deixando-o parado grande parte do trajeto. Este blog normalmente defende a permissão de transportes coletivos alternativos que oferecem viagens ponto a ponto, leia aqui, aqui, aqui e aqui.

A entrevista na íntegra pode ser vista aqui.

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